sábado, 24 de julho de 2010

Stress & Distress






1. O autor desta linhas foi sempre um entusiasta da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 
Há muitos anos que defende um sério aprofundamento do papel da CPLP, até agora demasiado "protocolar". 

Sendo Portugal - pela sua posição geo-política; por se encontrar na encruzilhada da História; por constituir a mais preciosa ponte da Europa nas relações transatânticas; pela sua vocação marítima; e pelas condições para a promoção do diálogo inter-religioso e civilizacional - a CPLP, faz todo o sentido, deve ocupar um lugar cimeiro no desígnio estratégico a adoptar, e ser tratada como um assunto de Estado, em patamar similar ao que é dedicado à União Europeia. Nem mais, nem menos!

Os dois principais «activos» de Portugal são:
Em primeiro lugar, a Língua.
Em segundo, a nossa vocação marítima. 
É por isso que, simbolicamente, o Ministério da Cultura dever-se-ia chamar, «Ministério da Cultura e da Lusofonia», o Ministério dos Negócios Estrangeiros deveria ter uma «Secretaria de Estado da Cooperação com os Países Lusófonos», e o Ministério da Economia ser «da Economia e do Mar».

Ora bem:

Nos princípios não se transige, é certo. Portugal, por vezes demasiado ufano, costuma assumir-se como penhor dos direitos humanos e dos valores que presidem os estados de direito democrático. Não pode, pois, propagandear uma coisa e fazer outra.
Mas não admitir a entrada da Guiné-Equatorial ... porquê? Não se percebe.

Imaginemos que um Estado não democrático da América Latina, que falasse português, e que até estivesse disposto a adoptar o Castelhano, para e entrar numa comunidade que envolvesse outros países da américa latina, juntamente com Espanha.

- Alguém acha que os nossos vizinhos punham entraves? 
- Alguém acha que um estado não democrático deixará mais depressa de o ser caso fique fora da cooperação com outros, reconhecidos como tal?
- Alguém acha que Portugal não deve ter relações com a Venezuela, a China ou a Líbia?
- Alguém acha, a sério, que Portugal é um democracia exemplar? Que stress!

2. Foram "afixados na pauta" os resultados do já célebre teste ao stress da banca europeia. É preciso salvar o euro, está claro, e "injectar confiança nos mercados", Bruxelas (qual Roma!) dixit.
Ainda bem para Portugal. Os nossos quatro maiores bancos passaram na prova. Foi "à rasca", mas passaram, e isso é que importa. Tal como os alunos em vésperas de exame, chegou a haver stress. Oxalá o distress, agora, não seja grande demais.

É este o nosso melhor "pêndulo":
Bilhete de identidade, europeu; raíz humanista, judaico-cristã; cabeça, no velho continente; olhos, no mar; coração, na CPLP; vocação, universal.
Podem tirar-nos tudo. Do rectângulo da Península e das Ilhas, não nos arrancam.
Portugal, entreposto, viverá!      

quarta-feira, 21 de julho de 2010

É a Constituição, estúpidos!


Discussão bem interessante:

Debruçarmo-nos sobre se o momento indicado para alterar a Organização Política do Estado será em tempo de franco crescimento económico e bem-estar social, ou de falência iminente e descontentamento geral. 
A revisão das regras basilares do regime, dentro da moldura democrática, bem entendido, fará mais sentido ser promovida quando "tudo" vai mal. As comunidades, tal como as pessoas individualmente consideradas, seja a que nível for, tendem a perscrutar melhor as suas raízes, quando cientes de que é vital discutir tudo, tudo pôr em causa, e encontrar fórmulas novas, desadequadas que estão as vigentes, e inaptas se apresentam para novas respostas, em novos tempos. Referimo-nos, afinal, à inevitável refundação do regime em Portugal. 

Coisa diferente:
Fazer, ou, melhor, lançar o tema, de mais uma revisão constitucional. Quanto mais "remendos" tiver a Constituição da República, mais "anestesiada" fica a refundação do regime.

Ora, Pedro Passos Coelho, que não quer mudar regime nenhum, e sabe que a proposta que vai apresentar "não passará", não quer mudar o regime, nem tampouco alterar a  CRP. Não está em causa que algumas propostas farão todo o sentido, e outras, não lembram ao diabo.

O que está em causa? Puro marketing político, com "anti-jogo" pelo meio.

Passos Coelho, não tem uma solução política nem económico-financeira para tirar o País do "vermelho". Então, lança a proposta da revisão constitucional, ganha tempo de antena, aproveita para ir dizendo o que tem de ser feito, apresentando-se como alternativa, embora sem deitar o Governo abaixo...

Com esse "expediente" todo, entretanto, o tempo vai passando, e a situação vai-se degradando. Quando vierem as eleições, ou quando, depois das presidenciais, as sondagens lhe derem margem suficiente para as provocar, o líder do maior Partido da Oposição vai apresentar-se como o rosto da alternativa salvífica.
Vai ter conseguido disfarçar que foi conivente com o Governo, que andou, sempre, desde o Congresso em que foi eleito, a dar o dito por não dito, etc...
E zás! Pede maioria absoluta. Terá mesmo, mesmo "sem saber ler nem escrever"? Grande interrogação. Pode calhar, sabe-se lá ...

Seja como for, que PPC saiba que o que ele sabe, só um cego é que não vê.
Como de economia e finanças será o FMI a tratar, bem pode atirar - É a Constituição, estúpidos!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Louvado seja...


- O Presidente da Comissão Europeia:
O "nosso" José Manuel Barroso, aparece no telejornal da noite, a dizer que a discussão em torno dos "direitos especiais" (parece que agora é assim que se diz) que o Governo de Portugal decidiu exercer na PT, para inviabilizar a compra da Vivo pela Telefónica, não é uma questão política mas eminentemente jurídica. Noutro telejornal, uma hora depois, é veiculada a notícia que a Telefónica estará disposta a negociar com a PT e que o Governo poderá dar luz verde a uma nova solução que seja encontrada. Louvado seja...



- O Presidente da República Portuguesa:
O Presidente de "Portugal inteiro", Cavaco Silva, em alegre campanha pelas Ilhas de Cabo Verde, com notáveis na comitiva, note-se, mais criancinhas, bandeirinhas, apelos à mobilização da comunidade portuguesa, e ainda algumas canções de embalar. Descobriu "o mar". Pois... realmente, "no rectângulo", a coisa não está muito propícia para encenações... estará mais para coligações? Resta saber se volta a Lisboa ou se prossegue para São Tomé e Príncipe. O tal coqueiro ainda deve lá estar. Louvado seja...



- O Presidente do principal Partido da oposição em Portugal:
O candidato a Primeiro-Ministro, Passos Coelho, em digressão por Madrid é digno de ser apreciado... desde querer vender tudo, passando por encontros imediatos com empresários espanhóis no meio da rua, a lições de macro-economia, com propostas estratégicas para os "mercados emergentes", é finantial business que consola a ver. Mariano Rajoy deve ter ficado mesmo impressionado com tanto jogo! Louvado seja...



- O jogo da Espanha:
O jogo entre a Alemanha e a Espanha. Para além de ter dado gosto ver a Selecção de Espanha fazer "um jogão" e ganhar "sem espinhas", chegando pela primeira vez à final de Campeonato do Mundo, este que aqui escreve (que torceu pela "Furia Roja"), para além do espectáculo que é ver a equipa dos nossos vizinhos em campo, encontra outro motivo para a importância simbólica de um País do Sul vergar a super-poderosa Alemaha:
Talvez assim a Senhora Merkel - e outros - percebam que a Europa é mais que o Benelux acoplado ao Eixo franco-alemão. Importa  não esquecer. 

Voltando ao jogo, não há pachorra é para os comentadores de serviço. 
Cada jogada, um comentário de sinal contrário. A opinião varia, minuto a minuto.
No Alemanha-Espanha era "a questão do erro". A teoria dos germânicos deixarem jogar a Espanha e apostarem "no erro". E isto foi durando, durando, até que a Espanha marcou e passou a ser uma equipa fantástica, com uma táctica extraordinária. Que "erro"!
Erro, só se do comentador da RTP1, irra! Louvado seja... 
      

sábado, 3 de julho de 2010

Amigos, amigos, negócios à parte








Fez bem o Governo, ao accionar a golden share na PT, inviabilizando a compra da Vivo pela Telefónica.

Fez mal Passos Coelho, em não apoiar a posição adoptada em nome dos interesses do Estado Português -para mais quando enche a boca com a imperiosa necessidade de separar os negócios da política - e quando, por "mera coincidência", o Senhor tudo tem preço revelou-se, entre outros, um autêntico Miguel de Vasconcelos.

Qual batalha jurídica, qual quê!?
Se os estatutos são legais, então, o voto de um accionista, ao abrigo de uma disposição estatutária legal, há-de ser ilegal!? 

Ilegal, devia ser, um candidato a Primeiro-Ministro pôr-se a cantar à janela, como a carochinha, a ver se Ricardo Salgado - agora divorciado de Sócrates - quer casar em segundas núpcias...

Ilegal, devia ser também, o Banco - baptizado com o nome da terceira pesssoa da Santíssima Trindade -utilizar a bandeira nacional portuguesa nas suas campanhas publicitárias...

Vem aí uma OPA à PT, bradam. Pois que venha!
O Brasil também pode comprar a Telefónica. Ou não?

Entretanto, o líder do PSD mais o patrão do BES podem juntar-se e ir andando até Elvas... os caramelos de Badajoz parece que estão mais em conta.