domingo, 31 de outubro de 2010

Para que conste - candidatura de Cavaco Silva

26 de Outubro de 2010

Cavaco recandidata-se e afirma que país estaria pior sem ele

O actual Presidente da República, Cavaco Silva, anunciou a candidatura ao segundo mandato e prometeu uma campanha com menos gastos. Cavaco Silva apontou o desemprego e o endividamento externo como os principais problemas do país e garantiu que Portugal estaria numa situação mais complicada não tivesse sido a sua acção "intensa e ponderada" (...).

2010-10-27
Fonte: RTP online
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26 de Novembro de 2005

Cavaco e o Centro/Direita*

QUALQUER que seja o resultado eleitoral das presidenciais, depois de 22 de Janeiro, estará criado o espaço político para a refundação do centro/direita em Portugal.

No "day-after", PPD/PSD e o CDS/PP irão mergulhar numa tremenda crise de identidade. A ironia do destino provém do "Sebastianismo" com que Cavaco Silva se apresenta aos portugueses.

Depois de eleito o novo chefe de Estado, perceber-se-á que afinal, de entre o nevoeiro, o «Messias anunciado» não regressa. A esperança revelar-se-á vã. Quem enfrentar a nebulosa nacional, para ver o que está por detrás do "spleen", irá encontrar um campo vazio. Sem bandeira, sem defuntos e sem heróis. Apenas vazio.

Estará, assim, três décadas depois da fundação dos principais partidos, o campo aberto para a refundação do quadro político-partidário ao centro/direita. Abrindo-se caminho para a criação de uma corrente alternativa e regeneradora deste sistema político, definhado e em fim de ciclo.

Se Cavaco Silva ganhar, o exercício da sua magistratura será "uma pescadinha de rabo na boca". Promete ser um "Presidente activo", como se a sua chegada a Belém significasse um avocar das competências do Governo - que está sustentado no Parlamento por uma maioria absoluta!

A promessa, não passa de uma "blague" eleitoralista, apanhada na primeira curva, quando o mesmo candidato afirma também respeitar integralmente os poderes que a Constituição da República lhe conferem, ser um defensor da estabilidade governativa e escusar-se a avaliar o Governo de José Sócrates, indiciando cautela institucional. Onera-lhe ainda uma frase do seu tempo de coabitação com Mário Soares que soa forte - " O Governo governa, o Presidente preside! ".

Há uma contradição evidente nas duas ideias principais com que se propõe a Belém. O que o tornará um Presidente desconfortavelmente "passivo", refém da ordem constitucional da República (excepção feita ao precedente aberto pelo Presidente Jorge Sampaio) e das posições doutrinárias do partido que liderou.

Ainda assim, Cavaco-Presidente será tentado a "fazer o trapézio", num triângulo com a S. Caetano à Lapa, como, de resto, as posições assumidas por personalidades que lhe são próximas - relativamente ao sentido de voto do PPD/PSD, no último Orçamento de Estado - vêm sugerindo. Cavaco sempre há-de desejar um "longa manus" na direcção do Partido Social-Democrata…

Mas, no final de contas, acabará por actuar como um Presidente deste sistema, agradando ao "establishment" desta III República e asfixiando a afirmação de qualquer líder do PPD/PSD.

Quando aqueles que ao centro/direita defendem a ruptura concluírem que afinal, o "Messias" não vai governar, nem terá condições para dar outro rumo ao país, esses, não se resignarão com a "tutela de Belém" e, reencontrado o seu tempo, vão seguir seu caminho. Constituindo uma alternativa de poder.

E se Cavaco perder? A orfandade seria tal que o terramoto devastaria.

O PPD/PSD, que aposta sem reservas na eleição do seu "salvador da Pátria", entraria em colapso e ver-se-ia obrigado à mais profunda das reflexões. A abertura de um Conclave seria fatal e dramática. Entre os sociais-democratas viria a lume tudo aquilo em que o partido se tornou. Uma organização desajustada, depauperada de quadros capazes e com um cariz acentuadamente "feudal", tal é a pulverização do poder interno. A mediocridade das estruturas, o caciquismo e o desnorte ao nível do pensamento político resultariam numa clivagem irremediável. De um lado, a "ala PSD", aquela que o pior do cavaquismo alimentou - mais subserviente, faminta de aparelho de Estado e situacionista. Do outro, a "ala PPD", aquela que o pior do cavaquismo tratou como bastarda; mais fracturante, patriótica e popular. A “família social-democrata” entraria em processo de cisão.

No CDS/PP, a fractura, já exposta, também seria inevitável. O CDS tornar-se-ia residual e o PP voltaria a emergir.

Deste modo, PPD‘s, PP‘s, outros partidos, movimentos e cidadãos Independentes, que não se revêem nos poderes instalados, vão ter que se entender. Para que possam criar um tronco-comum, com vocação de Governo, devidamente instituído e legitimamente representativo do espaço sociológico do centro/direita português.

Essa corrente inspirar-se-á nas experiências dos Governos AD, bem como numa "correcção genética", que remonta a 1974, à fundação dos velhos PPD e CDS. E na adopção de um programa e regras internas, adequados aos tempos modernos. A aliança assumir-se-á em bloco, com um lastro político definido, reestruturado e apto a apelar a todos quantos, não se identificando com nenhuma força à esquerda, também já não acreditam neste PPD/PSD e neste CDS/PP.

O caminho do centro/direita em Portugal, ao invés do que Cavaco pensa, não será situacionista, antipolítico, ou "peronista". Será inconformado, político e partidário em novos moldes. Pronto para combater a actual decrepitude da III República. No sentido da regeneração da democracia, da garantia das liberdades individuais, do incremento das reformas estruturais na economia, finanças e justiça social, do reforço da autoridade do Estado e da assunção da extensão de Portugal no mundo.

É esta a ironia do destino que Cavaco Silva vem propiciar ao centro/direita português - com ou sem ele em Belém, depressa veremos, com nitidez, um grande campo político. Que está vazio. Haja, pois, quem se predisponha a restaurar a essência da política e a sua dignidade, chamando os portugueses para a missão de retirar o país do torpor em que se encontra.

Trata-se de devolver a Portugal um projecto "de mão cheia". Que jamais poderá perder-se no meio do nevoeiro.

RICARDO ALVES GOMES
* artigo de opinião, publicado na edição do Expresso de 26 de Novembro de 2005

Chocolate em tempo de crise?

Que os rapazes do PS e do PSD, parece, ainda precisam de beber muito leite, a ver se crescem e ganham algum juízo, já Portugal inteiro percebeu. Agora, que alguns exijam que o milk, de primeira necessidade, seja com chocolate, tenham mas é lá paciência!...

Razão tem Alberto João Jardim, quando vem dizer que "esta República já deu o que tinha a dar".

Que seria?

Está visto. O Professor Cavaco Silva não gosta mesmo nada de outdoors e, desta vez, até vai aproveitar para poupar. Em que situação estaria hoje Portugal se não tivesse sido a sua acção, ainda que, por vezes, discreta?...

Sem expressão real?

Rotativismo foi a designação dada ao sistema político-partidário que vigorou em Portugal durante a segunda metade do século XIX, com maior expressão no período entre 1878 e 1900. O sistema era caracterizado pela alternância no poder dos dois grandes partidos políticos do centro-direita e centro-esquerda, na maior parte do período entre o Partido Regenerador e o Partido Progressista ou o Partido Histórico.

O rotativismo português, de inspiração britânica, teve o seu período áureo entre 1878 e 1890: durante esse período, o Partido Regenerador, liderado por Fontes Pereira de Melo, governou durante 81 meses e o Partido Progressista durante 69 meses. Fora deste regime alternante ficavam apenas os pequenos partidos de oposição permanente – o Partido Republicano Português e o Partido Socialista Português – que se dedicavam ao combate contra o regime pela via doutrinária, perpetuamente fora do arco do poder e sem expressão parlamentar relevante.


No rotativismo português, os dois partidos do centro – Regenerador e Progressista – conseguiram, com pequenos hiatos, manter a alternância no poder até 1906, ano em que o sistema finalmente colapsa por esgotamento de soluções que resulta da dissidência de João Franco que em 1901 liderara uma cisão no Partido Regenerador que dera origem à formação dum novo Partido – o Regenerador Liberal (que ainda assim apenas conseguiu um lugar de deputado nas eleições).


Apesar dos maus resultados eleitorais, alias de esperar face ao caciquismo e à fraude eleitoral que protegia os partidos do rotativismo, João Franco consegue manter uma intensa acção de propaganda que lhe permitiu em Abril de 1906 formar a Concentração Liberal, unindo-se ao Partido Progressista para combater nas urnas o Partido Regenerador que acabara de ascender ao poder. Nas suas palavras, aquilo que décadas antes fora o grante da estabilidade política e do constitucionalismo era agor denunciado como a alternação no poder de dois Partidos acordados entre si para evitarem uma séria fiscalização parlamentar.


A implantação da República Portuguesa a 5 de Outubro de 1910 e a recomposição partidária que se lhe seguiu pôs fim ao sistema, já que durante a curta Primeira República Portuguesa o predomínio do Partido Republicano Português e a instabilidade política que se seguiu à sua fragmentação nunca permitiram que o sistema se refizesse. Apenas nas últimas duas década começam a surgir sinais de um novo rotativismo, desta vez protagonizado pelo Partido Socialista e pelo Partido Social-Democrata, mas ainda sem expressão real.


Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre (com sublinhado nosso).

Que coerência!

Paulo Portas justificou a posição do CDS/PP em votar contra o OE/2011 com a palavra «coerência». O OE, péssimo, diz ele, sempre soube que acabaria por ser aprovado pelo PS mais o PSD - com a bênção de Cavaco Silva, dizemos nós.  

Até aqui, percebe-se... 

O que já não se percebe é que o líder dos populares, O Coerente, tenha vindo anunciar a posição de apoiar Cavaco Silva para uma reeleição presidencial, o mesmo que acabou de colocar a "bandeira nacional por cima" das políticas contra as quais Portas vai dizer cobras e lagartos - já na discussão do Orçamento - num discurso a ensaiar a campanha das próximas eleições legislativas, onde irá encher o peito, dizendo que o CDS/PP é a verdadeira alternativa de Centro-Direita em Portugal, e que PS e PSD são "farinha do mesmo saco". 

Que coerência!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Limiano

Os holofotes estão montados e os flashes prontos a disparar. O País está exaurido e não aguenta ficar em suspenso por muitos mais dias... 

... E se, de repente, Paulo Portas, que tem andado "calado que nem um rato" - mas que vai falar, precisamente na véspera do início das negociações Governo/ PSD - viesse dizer que o CDS/PP, patrioticamente, equidistante da barganha do Bloco Central, garantirá a viabilização do OE/2011, salvando, assim, Portugal da bancarrota?

Como ficaria, no minuto seguinte, a imagem de Paulo Portas junto dos portugueses, comparada com a dupla José Sócrates/Passos Coelho? 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um passo em frente?

Na década de 60, no Brasil, ficou célebre a frase do General Artur da Costa e Silva, quando disse, "Pegamos o país à beira do abismo e demos um passo à frente"...

Em 2010, em Portugal, temos os passos de Passos. Vejamos:




18 de Outubro de 2010


Pedro Passos Coelho admite que Portugal ficará numa situação "muito difícil" caso o Orçamento do Estado para 2011 não seja aprovado. O líder dos sociais-democratas fez esta revelação numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine, mas sem, no entanto, revelar qual será o sentido de voto do partido quando o documento for a votação na Assembleia da República.

Fonte: RTP

07 de Março de 2010
Pedro Passos Coelho, candidato a líder do PSD, defende que é preferível chumbar um mau Orçamento do que manter a estratégia de calculismo que atribuiu a algumas pessoas do partido.

(...)
Ao nível, por exemplo de viabilização do Orçamento de Estado.
- O PSD assumiu uma posição que foi abster-se para deixar passar o Orçamento, apesar de dizer que é mau. É uma coisa que confesso que tenho dificuldade em entender. Se o Orçamento é mau não sei porque é que o deixam passar. Mas enfim... Há pessoas que me acusam de ser muito redondo, mas não conseguem explicar com clareza a sua posição.

Se não passasse o Orçamento caía o Governo e havia uma crise política em Portugal. E as agências de rating aproveitar-se-iam disso... Foi por sentido de Estado.
- Tenho a opinião contrária. Se o Orçamento é mau, as agências de rating e a Comissão Europeia não vão gostar dele, como não gostaram.

Bom, mas ainda faltam as medidas do PEC...
- É verdade, mas é insuportável esta ideia de que nós temos na nossa mão o poder de dar confiança ou retirá-la, aprovar ou desaprovar um instrumento financeiro, e nos preocupemos apenas com o tacticismo político. E é isso que se está a passar na conversa do Orçamento. Se o Orçamento for mau, é um bem para o País que ele seja chumbado. Isso é a primeira coisa que se tem de dizer, porque um Orçamento mau retira credibilidade à política portuguesa e nós seremos penalizados pelas agências de rating. Elas não nos penalizam mais hoje porque estão na expectativa de que o Governo emende a mão com o PEC, pois já não acreditam neste Orçamento. O pior que pode acontecer nos mercados é manter o Orçamento se ele é mau. Portanto, não se trata de uma questão de patriotismo ou de responsabilidade, é exactamente ao contrário.

Mas se não fosse o PSD, outros partidos o fariam...
- Em política podemos responder por nós. Os outros partidos respondem por eles.

Mas tradicionalmente, na democracia portuguesa quem faz cair um governo é penalizado nas urnas...
- Ah... Estamos a chegar a um ponto que é importante: há pessoas no PSD que estão mais preocupadas com o que lhes pode acontecer em eleições do que com aquilo de que o País precisa. Não temos um Orçamento como deve ser porque o PSD estava muito preocupado em que houvesse uma crise e tivesse de ser chamado à responsabilidade de fazer governo numa altura difícil. Preferiu castigar o engenheiro Sócrates, dizendo 'O Sr. vai ficar aí a fazer uma má política mais um ano e meio até o País ser suficientemente castigado para perceber que nós não temos culpa da situação, e vamos lá chegar dentro de um ano e meio para tomar as medidas que toda a gente então aceitará'. Chama-se a isto calculismo político, não interesse nacional.

Portanto, se o Orçamento for mau e as medidas previstas no PEC forem más, o PSD liderado por si censura este Governo...
- Penso que fui absolutamente claro sobre isso. É preferível enfrentar uma crise política e ultrapassá-la e ganhar credibilidade económica do que estar permanentemente numa situação de apodrecimento das instituições judiciais, das instituições políticas, e em particular da situação económica.

Fonte: CM, excerto de entrevista de Pedro Passos Coelho ao Correio da Manhã/Rádio Clube Português (sublinhados nossos).