quinta-feira, 31 de março de 2011

Conselho de Estado


A União Europeia não quer que se saiba ou apure toda a verdade sobre a situação financeira de Portugal. 
O Presidente da República, também não, e o Governo, idem aspas.
O líder do PSD depois da conversa que teve em Belém ficou calado que nem um rato, e os outros partidos da oposição andam entretidos a jogar ao berlinde. 
Entretanto, até na Conchinchina se sabe que o País está ligado à máquina, e que o pedido de resgate está aqui, está accionado. Esta é a questão. As eleições, dizem-nos os Irlandeses, serão folclore.

Para quê, então, tentar tapar o sol com uma peneira, quando de nada vale mascarar a realidade? 

Há muito que defendo que a Lei que aprova o Orçamento do Estado deve prever o envio aos contribuintes de informação, com detalhe e clareza, sobre quais são as receitas, de onde vêm, o que é que vai ser gasto e onde vai ser gasto. Talvez tal obrigação legal devesse aplicar-se também à Conta Geral do Estado. Não importa a fórmula. O que interessa é que as pessoas, que andam a contar os tostões manter a situação equilibrada, ao mesmo tempo - sabe deus como - esfolam-se a pagar impostos, sejam munidas de informação que lhes permita apurar as opções feitas, e em que medida é que o fruto do seu trabalho está a ser usado por quem está incumbido de gerir os dinheiros públicos.

Fala-se muito de "cidadania", de "sentido cívico", de "participação democrática", e montes de expressões lindíssimas. Mas manter o Povo desinformado ou, pior, exposto a todo o tipo de especulações e boatarias, nada contribui para o tal aprofundamento da Democracia, que se diz pretender. Ou será que, afinal, os senhores e as instituições acima referidas dão-se por contentes com um Estado de Direito formal?

O passado, passou, e cada um terá a sua tese para explicar como é que foi. Mas o presente está aí e temos o direito a saber qual é a situação real, a verdade nua e crua. Quanto ao futuro, é mais que um direito - é um imperativo e uma potestade. Se assim não for, rompe-se de vez o «Contrato Social» e ninguém se admire da vinda do FME/FMI ser seguida de um tsunami - a implosão do sistema. 
Nessa altura o 25 de Abril escusa ser comemorado oficalmente, que a rua será pequena demais para tal "cerimónia". 

terça-feira, 29 de março de 2011

Visitas de luxo

A Presidenta da República Federativa do Brasil chega hoje a Portugal.

Desde que tomou posse, depois de uma  viagem à vizinha Argentina e antes da visita à China, Dilma faz de Portugal a sua primeira visita a um país da Europa. Lula da Silva veio antes, para receber o título de Doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, cerimónia que contará com a presença da sua antecessora no Palácio do Planalto. Isto, é o que "rezam as crónicas"...

Mas num momento de grande instabilidade político-social, cá dentro como na Europa, a visita de Dilma e Lula a Portugal será mesmo assim tão "protocolar", pura coincidência de calendário?
As agências que andam todos os dias a baixar o rating da República Portuguesa deviam saber uma coisa:
Há "activos" que não vêm "nos livros". Este é um deles. Quanto vale o significado desta visita? É inestimável, não tem preço. 

Podemos estar à beira da falência, é certo. Mas, nem assim, poderá alguém dizer-nos que não somos "viáveis". Há uma coisa que os nossos parceiros europeus do "directório" parecem não perceber:
A periferia portuguesa, neste mundo cada vez mais global, cada vez mais é centralidade. Ou não fossemos capazes de ter visitas de luxo, quando ao mesmo tempo temos a sensação que outros, menos abonados, nos viram as costas. 

PS:
Para desanuviar 

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cuidado com os boys

Sobre os tristes episódios que se verificaram durante a madrugada passada no Estádio de Alvalade, há, entre outros, quatro aspectos a reter:

- Os votos demoraram tempo demais a ser contados. É inadmissível que o órgão do Clube a quem compete supervisionar o escrutínio não tenha feito sequer um briefing, com informação segura relativamente ao que se estava a passar, evitando as especulações que se viram;
- Mesmo que Godinho Lopes tenha sido, de facto e de direito, sufragado vencedor na urnas, fica a pairar sobre a eleição uma nuvem de desconfiança que só uma confirmação do apuramento, em sede de impugnação judicial, poderá dissipar-se: como explicar, por exemplo, a declaração de Rogério Alves, (erroneamente convencido que ganhara a Mesa da Assembleia Geral) que às tantas da manhã disse em directo às televisões já ter dado os parabéns a Bruno de Carvalho?
- A forma atamancada como o Presidente da Mesa em exercício veio anunciar os resultados e a impossibilidade do candidato ali empossado vir ao exterior, como estava planeado, por manifesta falta de condições de segurança;
- O silêncio dos demais candidatos derrotados: Dias Ferreira, Pedro Baltazar e Abrantes Mendes.

Bem... até aqui, temos uma problema do Sporting em particular, e do futebol portugês em geral.

A partir daqui, "a novela" do insulto, do ambiente tribal e da violência extravasa o âmbito de qualquer clube e passa para a esfera de toda a comunidade nacional. Ontem foi o Sporting, como poderia ter sido outro. Amanhã, poderão ser outras organizações, entidades e instituições...

Vem aí uma campanha eleitoral, num ambiente muito degradado, onde, por mais apelos que se façam, difícil será que as posições não acabem por extremar-se, tal é a voragem pelo poder de uns, e a ânsia de révanche de outros...

Suponhamos que numa mesa eleitoral se gera um problema semelhante ao verificado ontem em Alvalade, e o que está em causa é, nem mais nem menos, a atribuição de um mandato, cuja eleição do deputado é decisiva - para dar a vitória relativa a um dos dois maiores partidos, ou formar uma maioria no Parlamento: 
- Alguém acha que chamar o C.I. da PSP vai chegar para manter a ordem e garantir a paz social?
- Alguém acha que algum líder partidário terá autoridade moral para ir ao palanque acalmar as suas hostes?

sábado, 26 de março de 2011

Passos derruba Presidente?

Na entrevista na SIC a Clara de Sousa, entre contradições, lugares-comuns e "la palissadas", Passos Coelho chegou a ser anedótico, sobretudo quando a respondeu como é que é possível um Governo de gestão accionar o pedido de resgate, chegando a remeter, relativamente ao necessário compromisso nacional, para a Comissão Permanente da Assembleia da República entretanto dissolvida. Depois, a sua incursão histórica sobre o FMI - seria de gargalhada caso não estivéssemos a tratar do mais grave assunto de Estado.


Mas, revelador revelador, foi ter feito marcha atrás na questão da "verdade toda" sobre as contas públicas e ter tido o desplante de vir dizer que é um político com provas dadas em matéria de credibilidade, pois já teve de pedir desculpa aos portugueses e que quando é o interesse nacional que o determina prefere ser impopular do que ser chamado de mentiroso. Então (impondo as suas condições, claro) por que é que não viabilizou o PEC?


Se for verdade que Cavaco Silva, munido do mais rigoroso check-up sobre a situação real das finanças da República, não só demoveu o líder do PSD de avançar com a ideia de uma auditoria às contas do Estado, como não deseja que os portugueses saibam uma "verdade inconveniente", isso será o canto do cisne.

Oxalá tudo não passe de especulação dos media. Caso contrário, não vai faltar muito para que se levantem vozes a exigir que o Presidente da República, também ele, se demita.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Irmãos Metralha


Na opinião dos portugueses alastra profusamente a ideia que a "culpa" pela situação em que Portugal se encruzilha não é só José Sócrates e do Governo ou de Pedro Passos Coelho e do PSD. Nem o Presidente da República escapa às críticas mais contundentes. E da tripartida "enorme culpa" ainda sobra que chegue para os partidos à esquerda e à direita do Bloco Central.

É por isso que mudar de Governo, só por mudar, de pouco servirá, para mais quando parecem desenhar-se hipóteses do novo Executivo ser desta vez tricolor.

Deste Regime - III República - devemos aproveitar os pilares fundadores: Liberdade, Democracia e Justiça Social. Tudo o resto tem de ser revisto de alto a baixo. É tempo de dar uma nova ordem ao País.

quarta-feira, 23 de março de 2011

À margem das manobras


O Presidente da República, Cavaco Silva, recusa alimentar cenários de eleições antecipadas e diz que a margem que tem para resolver a crise política é muito escassa.

“Esta questão passou muito rapidamente para o plano dos partidos e da Assembleia da República, pela forma como o programa foi apresentado, pela falta de informação, pelas declarações que foram feitas nas primeiras horas ou até nos primeiros dias, tudo isso reduziu substancialmente a margem de manobra para o Presidente da República actuar preventivamente. Tudo avançou muito rapidamente”, disse aos jornalistas, esta terça-feira, no final da cerimónia do centenário da Universidade do Porto. (sublinhado nosso)

Fonte: porto24, 19:02 - 22.03.2011

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Que é grave que o Pimeiro-Ministro não tenha informado de antemão o Presidente da República sobre o PEC IV, já toda a gente sentenciou.

Agora, que o PR invoque não ter "margem de manobra", por "falta de informação", é mais grave ainda.

Será que o Presidente de Portugal não podia ter chamado o Primeiro-Ministro e o líder do maior partido da oposição a Belém, dizendo-lhes «Meus Senhores, o interesse nacional ordena que o Governo e os dois maiores partidos na Assembleia da República se entendam, aprovem o PEC, e todos estejam a uma só voz até à realização da Cimeira Europeia». Ao que Pedro Passos Coelho responderia «Em nome do interesse nacional o PSD, cumprirá o apelo de Vossa Excelência, desde que o Senhor Presidente dissolva a Assembleia da República e sejam convocadas eleições antecipadas».

Para que isso pudesse ter acontecido era preciso que o PR não tivesse sacudido a água do capote, tal o nível de compromisso e de risco político, demasiado elevado para a sua margem de manobra, que diz ser muito curta.

Depois da discussão na AR, uma vez esgotadas as soluções no quadro político-partidário do Parlamento, caso José Sócrates vá a Belém apresentar demissão do Governo e, no dia seguinte, Passos Coelho entre pela "Sala dos Embaixadores" para expressar ao PR estar pronto para "dar solução", teremos:

- O PEC IV chumbado
- Demissão do Governo
- Dissolução da Assembleia da República
- Formalização do pedido de ajuda 
- Portugal na bancarrota
- Eleições antecipadas

- Nenhum dado que permita fundamente prevêr que o resultado das eleições seja diferente daquele que ocorreria caso o PEC tivesse sido aprovado... o Senhor Presidente da República, não com curta margem de manobra, mas "à margem das manobras" - de um País tombado ao naufrágio.

terça-feira, 22 de março de 2011

Gasolina na fogueira

A propósito do apedrejamento ao autocarro do Benfica tal como ao carro do próprio Presidente do Clube, quando regressavam do jogo com o Paços de Ferreira, para além da censura que estes actos criminosos merecem, seja lá de quem for a quem quer que seja, e independentemente da reflexão que deve ser feita sobre as causas mais profundas da violência no desporto, que parece estar a crescer, ou não tívéssemos nós problemas que cheguem em Portugal, outra nota importa realçar:

Quem assitiu ao noticiário da meia-noite da SIC/N parecia que o que se passou à saída de Paços de Ferreira era comparável à guerra na Líbia ou as barbaridades dos soldados americanos no Afeganistão, tal a insistência, a sofreguidão, os termos e a atenção dada à "notícia":
«Luis Filipe Vieira ferido na mão direita», «ataque», «emboscada», dizia-se. E a comprová-lo, directos por telefone, imagens da "viatura" e ainda imagens de arquivo.

É preciso ter muito cuidado com este furor sensacionalista em volta de um incidente, reprovável, repito, mas que empolado só pode ter consequências contraproducentes.
Desde logo, no lugar do Presidente do Benfica, não deixava passar a notícia do "ferimento", nem sequer permitia que o carro fosse filmado.
Depois, no lugar da redacção da SIC/N, por amor de deus, não intercalava a notícia com a ofensiva militar na Líbia ou a reportagem da Revista Der Spiegel... haja tino!

Ou será preciso lembrar que o futebol, modalidade de massas, gera comportamentos irracionais e em vésperas de um Benfica-Porto notícias apresentadas desta forma são como deitar gasolina numa fogueira? 
Inflamar actos destes, duma forma destas, qualquer dia há MESMO feridos. Muitos e graves.
É um benfiquista que o diz e que não gostava de ver tal coisa acontecer.    

segunda-feira, 21 de março de 2011

É nuclear

Sempre defendi que não se deve fazer política "em cima" de calamidades. É do mais elementar bom-senso. Primeiro, tratam-se os vivos, enterram-se os mortos e ampara-se a comunidade. Depois, executa-se no imediato todas as acções que estejam ao alcance e possam minimizar ainda mais danos. De seguida, faz-se um primeiro balanço e determinam-se medidas de segurança, normalmente interdições preventivas.

No passado dia 10, o Mundo viu em directo, e a todos transtornou a imagem do "apocalipse" que atingiu o Japão sob a forma de terramoto, seguido de tsunami, e explosões na central nuclear de Fukushima-Daiichi que se sucederam. Também tem sido muito impressionante, no lado humano, a forma serena e a capacidade de discernimento  com que aquele Povo tem reagido. Não há palavras.

Agora, passados dez dias sobre a catástrofe, em primeiro rescaldo, uma coisa é certa; contra as forças da natureza pouco pode a força dos homens. Mas contra o alto risco da capacidade destrutiva das invenções dos humanas, os homens podem tudo. Tudo é então jogado no campo das opções.

Não terá sido por acaso que na Europa vários Governos actuaram de imediato, no que concerne à fiscalização dos níveis de segurança das centrais nucleares em actividade, tal como quanto aos procedimentos a adoptar relativamente a centrais inactivas ou cujo encerramento está aprazado.

Pergunta-se agora se os acontecimentos do Japão vieram "matar" a energia nuclear. Definitivamente, talvez não, tais são as insuficiências energéticas e os lobbies  pró-nuclear. Mas que estes acontecimentos vieram enfraquecer significativamente os movimentos favoráveis ao uso dessa tecnologia, não sobram dúvidas. É um debate que leva décadas e que nos países mais desenvolvidos costuma entrar na agenda política, sobretudo antes de serem eleitos novos Governos.

Em Portugal, que não tem reactores nucleares, várias vezes chegou a falar-se da necessidade desse debate, havendo quem defenda a solução energética "mais barata".

Vamos partir para eleições dentro de pouco tempo e o País, consumido que está com o "impasse político", a par da séria possibilidade de bancarrota, parece pouco desperto para este e outros temas prementes, como a bioética, por exemplo. Mas importantíssimo seria que o contrato a assinar com os portugueses, por parte de quem se propõe governar nos próximos anos não deixasse de fora estas e outras matérias, com total clareza.

domingo, 20 de março de 2011

O preço certo

O Congresso deste fim-de-semana não podia ter calhado em melhor altura para o CDS/PP. Em vésperas de uma semana em que, na prática, a campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas irá arrancar, Paulo Portas faz ecoar de Viseu uma mensagem forte e uma imagem positiva.
No campo mediático, através de medidas concretas em vários domínios, consegue afirmar-se como o principal rosto da Oposição a José Sócrates, remetendo Passos Coelho para um plano secundário.
Encurralando cada vez mais o PSD à esquerda, abre-se caminho para que o CDS pegue por inteiro nas bandeiras do centro/direita e alcance a meta de crescer eleitoralmente.
A deriva "socialista-liberal" do PSD pode custar caro na próxima solução de Governo.

sábado, 19 de março de 2011

Cara ou coroa?


José Sócrates diz que o PSD estava à espera de um pretexto para provocar uma crise política e Passos Coelho diz que o Primeiro-Ministro criou um pretexto para desencadear uma crise política.

Em que ficamos?
Ambos mentem e ambos têm razão.

O PSD celebrou o acordo que permitiu aprovar o Orçamento de Estado sob reserva mental. Por um lado, foi pressionado a fazê-lo, por outro sabia que o Governo dificilmente escaparia de ter que pedir ajuda ao Fundo Europeu, sendo também certo que quis fazer passar a imagem que era um partido reponsável e que punha os interesses do País acima de tudo, esperando que, entretanto, com o passar de alguns meses melhores sondagens viessem, para "ir ao pote".

Por seu turno, o José Sócrates negociou e apresentou o pacote de medidas adicionais do PEC IV sob reserva mental. Por um lado, foi pressionado a fazê-lo, por outro sabia que Portugal estava beira de ter de pedir ajuda ao FME/FMI, sendo também certo que quis fazer passar a imagem que era um governate responsável e punha o interesse nacional acima de tudo, esperando que, entretanto, com o passar de uns dias o PSD puxasse "o tapete" e tivesse de "ir a jogo", mais cedo do que fazia conta, pondo, em última instância o impasse da governabilidade nas mãos do Presidente da República, pois nenhum  dos dois maiores partidos parece que vá obter maioria absoluta.

Se Pedro Passos Coelho "fosse homem", tinha chumbado o Orçamento de Estado, há meses, assumindo as consequências.
Se José Sócrates "fosse homem", tinha apresentado uma Moção de Confiança no Parlamento, há dias, assumindo as consequências.

Isso, sim, é que seria colocar os interesses nacionais acima de quaisquer calculismos.   

quinta-feira, 17 de março de 2011

Até o Prof. Marcelo chumbava!


Estas, aposto, se fosse a exame até o Prof. Marcelo chumbava:

- Por que é que a cerimónia de abertura do Ano Judicial se realiza em meados de Março?
- Interprete o alcance da frase do Ministro da Justiça, em discurso proferido na ocasião, quando disse "A questão central para a melhoria da qualidade da justiça, entre nós, tem a ver com a sua eficiência operacional."?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Vão dar banho ao cão!

A Agência Moody´s baixou novamente o rating da República Portuguesa... mas quem é a Moody´s?

"A Moody's é uma agência de notas de crédito. Os seus ratings tais como as das empresas concorrentes têm sido fonte de críticas, porque avaliavam com bons ratings a empresa Lehman Brothers, umas semanas antes de falir, bem como não previram as falências dos bancos islandeses e a quase bancarrota deste país (tido como um modelo)."
Fonte: Wikipédia

terça-feira, 15 de março de 2011

Eh toiro lindo!

Recorrendo a uma imagem da tradição portuguesa, a declaração de José Sócrates foi a de um forcado que salta para a arena e cita o toiro... só que este, "distraído" e mal colocado, não sai das tábuas. É manso. E da plateia ouvem-se assobios.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Será vício?

Já tínhamos feito referência ao seu quê de "pitoresco", o facto do Presidente da República usar o facebook para fazer declarações ou emitir opiniões. Hoje, no seu espaço semanal,  Marcelo Rebelo de Sousa, e bem, suscitou a questão, desta vez na sequência das mensagens que Cavaco Silva veiculou através da rede social, após o seu discurso de tomada de posse. O Chefe do Estado, quando "fala", deve fazê-lo de modo mais apropriado que por via de meros "desabafos", postos a correr online.

É bom que os políticos utilizem as modernas plataformas digitais, especialmente para estreitarem contacto com quem já utiliza estas ferramentas de comunicação mais que quaisquer outras. Mas daí a entender-se que essa é a regra pode conduzir a resultados, ou, pelo menos, interpretações contraproducentes. Isto, é claro, não tem nada que ver com o e-government que, como se sabe, é outra coisa, completamente diferente.

domingo, 13 de março de 2011

Tudo empatado

Está visto:

O PM não vai fazer como António Guterres. Sócrates não atira "a toalha ao tapete" e pelo seu pé não sai.
Passos Coelho, à defesa, continua sem se decidir por um contra-ataque que o leve "à área" do adversário.
Como é que "o árbitro", Cavaco Silva, vai marcar o tão esperado "penalty" pelos laranja, para mais quando não pressente que o líder do principal partido da oposição seja capaz de uma "concretização absoluta"?

Entretanto, este "empate" cada vez mais prejudica Portugal. 

Agora desenrasquem-se

Num tempo em que os jovens portugueses pareciam estar em "letargia", as manifestações promovidas pela «Geração à rasca», que contaram com uma adesão muito expressiva, em vários pontos do País, e têm muito que se lhes diga, sobretudo por terem contado com a participação de pessoas de meia idade e até bastantes idosos. Daqui ressalta um sentimento mais amplo - o de Portugal inteiro "à rasca".

Diziam querer levar à rua a sua indignação. Conseguiram-no.
Mas para lá das expressões de descontentamento que podem, de facto, vir a ter um efeito detonador brevemente,  quais serão as reais consequências desta indignação? É que, afastadas as organizações "clássicas", as ditas "forças orgânicas", teriam que ter emergido líderes à cabeça dos protestos.  Isso seria retirar a pureza do espírito fundador, dirão.

Pois é. Mas os «Homens da Luta» apesar de excelentes animadores de intervenção não parece que possam chegar para tudo, e "a cidadã" Joana Amaral Dias, por muito boa vontade que tenha demonstrado com a sua participação, também talvez nã seja exactamente o rosto mais adequado de uma jovem "à rasca".

Se querem ser consequentes, depois do feito que foi ter posto milhares de portugueses na rua através de uma convocatória via redes sociais, agora derenrasquem-se, que a partir de agora o «movimento» deixou de ser virtual.

sábado, 12 de março de 2011

Pote de passos

Caso as Selecções do Reader´s Digest publicassem uma edição dedicada ao impasse político português, com um caderno extra intitulado «Saiba o que fazer para ir ao pote», dir-se-ia que Pedro Passos Coelho era o líder partidário mais cumpridor da fórmula; sim de manhã, não à tarde e nim à noite, de modo a dar impressão que anda sem sair do lugar, onde espera que "o pote" lhe venha parar às mãos de bandeja.

Foi exactamente isso que vimos, mais uma vez, na declaração que veio fazer no fim da Cimeira do Euro. Andou dois milímetros para a frente e um para trás. O País ficou a saber que, a partir de agora, o Governo vai ter que arranjar outro parceiro para aprovar um mais medidas de austeridade. Grande coisa! 

A questão não é nada disso. A questão é que PPC, há uns meses, quando deixou passar o OE/2011, sabendo quão difícil seria ao Governo alcançar as metas propostas ao fim do primeiro trimestre do ano, contava por esta altura ter sondagens na mão que lhe dessem toda a margem para se "atravessar". Não só não tem como dificilmente terá.

O maior erro, de caras, foi ter menosprezado a proposta de Paulo Portas, o qual, após ter levado a "nega" em finais de Janeiro, veio dizer que "registava". Isso tem vindo fazer-se notar cada vez mais na acção política de, e Bagão Félix recentemente até afirmou que os entraves a um entendimento pré-eleitoral só são postos pelos directórios partidários, pois, para a base sociológica de apoio dos dois Partidos à direita do PS ninguém deixa de votar numa alternativa mais ampla, especialmente quando Portugal precisa de agregar em vez de subtrair. Rui Rio, por seu turno, já veio indiciar uma posição algo semelhante, isto, para não falarmos de Alberto João Jardim, que defende a coligação há muito.

Alguém acha que vale a pena irmos para eleições antecipadas prefigurando-se que delas saia um vencedor com maioria relativa outra vez? Que ganharia Portugal com isso?... (à excepção dos gestores públicos, cujas remunerações PS e PSD entenderam-se que foi uma beleza. Aí, nenhum dos dois acusou o outro de falhar o acordo).

Por outro lado, já que os nossos parceiros da UE tornaram-se omnipresentes na política nacional, talvez não houvesse mal em ver por essa Europa fora quantos governos são de coligação, e de entre os governos de coligação quantos são de centro-direita e, desses ainda, quantos são compostos por várias forças partidárias. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Rei está morto. Viva o Rei!

Ouvi na RDP a maior parte do discurso de Cavaco Silva, nesta sua 2ª posse como Presidente da República. Gostei.
Era fácil dizer que desta vez foi longe de mais, que as palavras do PR foram "gasolina sobre brasas", ou que agora é tarde, pois esteve calado tempo de mais e tal permissividade ajudou a criar uma situação que já não há discurso que salve.
Não, não pode ser «preso por ter cão e preso por não ter»

Com o mesmo critério com que várias vezes tenho criticado, e talvez, por isso, com algum reforço de legitimidade, digo sem tibiezas que foi o melhor discurso de sempre de Cavaco Silva, enquanto Presidente da República. Um dicurso que há muito Portugal precisava ouvir, alto e a bom som.

Daqui não se retirem as conlusões ligeiras e demasiado curtas, sobre saber quantas críticas veladas fez ao Governo ou se José Sócrates foi o "bombo da festa".
Não.
As palavras de Cavaco, se críticas transportaram para a classe política, (leia-se Partidos), bem podem todos os figurantes "enfiar os barretes", que a todos servem. E se servem!

Dito isto, (saltando sobre o sobressaltado sobressalto), ouvir o PR "abençoar" e irmanar-se com a indignação dos jovens, fez lembrar aquela imagem do governante que vê a manifestação na rua agigantar-se, então, a ver se a onda passa por ele sem causar estragos, decide descer, juntando-se aos manifestantes para entoar, à cabeça, o coro dos protestos. 

Provavelmente será isso que a partir de agora vai começar a acontecer um pouco por todo o lado. 
A "revolução à portuguesa", mais que "erradicar" quem quer que seja, faz-se com "golpes de rins" absolutamente formidáveis.

A grande ironia da República é vermos amiúde ser proclamado o dito mais conhecido da monarquia, «O Rei está morto. Viva o Rei!». Isto é que é muito preocupante: muda-se o que é preciso para que tudo fique na mesma. Nem podemos admitir que os mesmos digam sempre o mesmo e o seu contrário, nem nos basta que quem ontem erguia o punho hoje faça o da vitória, ou vice-versa.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Para que conste - A (re)união nacional

Antecipam os jornais que o discurso de posse do Presidente da República reeleito fará apelo à política da verdade, terá nos jovens um dos principais enfoques e manifestará a propensão para uma magistratura mais activa. Dito assim, parece bem.


Aqui ficam os principais excertos do que escrevi a 09.03.2006, agora com alguns sublinhados:

A (RE)UNIÃO NACIONAL

No momento em que escrevo estas linhas, o recém-empossado Presidente da República, Cavaco Silva, já saiu do Parlamento e dirige-se para o Palácio de Queluz, onde condecorará o Presidente cessante, Jorge Sampaio (...) com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.

Da “posse”, propriamente dita, se retirarmos a “espuma mediática”, daquela que foi a cerimónia protocolar do género mais “propagandeada” até hoje, há meia dúzia de aspectos a reter e que traduzem politicamente algo -que tem tanto de inédito quanto de bizarro -três décadas passadas sobre a fundação da III República em Portugal.

Voltámos, sob o manto daquilo a que ainda se chama “Democracia do pós-25 Abril”, a tempos de verdadeira “União Nacional”.

Vejamos, então, algumas reacções sintomáticas ao discurso de Cavaco Silva:

- O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, estava tão ufano que até parecia mais veloz e menos desengonçado e -até ao momento de acompanhar a primeira figura do Estado à escadaria de S. Bento -não “descolou”, por um segundo, um milímetro que fosse, do ombro de Cavaco;

- O Primeiro-Ministro, José Sócrates, muito sorridente, declarou, que as linhas traçadas pelo Presidente “iam de encontro à política do Governo”;

- Excepção feita ao esperto Francisco Louçã (que viu aqui uma oportunidade de ganhar espaço à esquerda) e à CDU (que não lhe quis ficar atrás), todas as bancadas parlamentares (PS, PSD e CDS) aplaudiram Cavaco - de pé - e os respectivos líderes desfizeram-se em reverentes elogios ao novo Presidente;

- Entretanto, nas televisões, os analistas políticos, geralmente mordazes, desta vez foram tão doces nos seus comentários quanto a paz de “Deus com os Anjos” que se adivinha entre Belém e S. Bento;

- Já Paulo Portas, ao fazer o seu novo “debute”, na SIC, na antevéspera, tinha “amanteigado”, numa análise “redonda”, onde foi capaz de ir ao ponto de dizer que, “a sua relação com Sampaio era impecável” e que “já tinha votado em Cavaco Silva duas vezes”…;

- Até Carlos César -que costuma ser “diplomata” sem deixar de imprimir um certo acinte na ironia - quis compartilhar do “cálice” e fez, sem reservas, o seu “louvor público” a Cavaco Silva.

(...)
Portugal vive, assim, de novo, em regime de “União Nacional”.

(…)
Passadas as principais hierarquias, vem a oposição, supostamente de “centro-direita”.

Quanto à oposição, por incrível que pareça, também ela está contente. O líder do principal partido da oposição, Marques Mendes, contenta-se em fazer o que pode no meio do soçobrar do “aparelho laranja”, mas -não esqueçamos - ainda tem a maioria das autarquias do país para se entreter. Bem vistas as coisas, ainda assim, é muita gente e ainda são muitos “focos” de poder.

(...)
Espera-se, ao menos, que no meio deste “mar da palha”, se dê cabo do malfadado deficit das contas públicas. A estabilidade política é ainda um bem necessário para que não só se diminua a despesa pública, como se aumente o investimento privado, a produtividade e a competitividade.

Agora, uma coisa é certa. Desenganem-se aqueles que pensam que a “União Nacional” ou o “Bloco Central” vão fazer de Portugal um Estado definitivamente decidido à reestruturação política, à reforma social e à modernidade nos novos vectores por onde passa o desenvolvimento sustentável.

Para isso, era necessário que não “estivessem todos contentes”.

(...)
Quem não entender isto, apenas se ilude, no país do “senhor Feliz e do senhor Contente”, hoje selado, com a reunião nacional.

(...)
O “ciclo novo, do tempo novo”, curiosamente, poderá, de facto, começar.
Mas pela via da “contra-posição”. Nunca pela “situação”.

(Publicado no jornal “As Flores”, na edição de Março de 2006)

segunda-feira, 7 de março de 2011

E o povo, pá?

Homens da Luta

Por que será que ganharam o Festival RTP da Canção/2011?
Já alguém fez a leitura dos resultados de certos concursos televisivos?
Sobre este último, interessante seria que fossem divulgados os "escalões" que votaram na canção vencedora.
Será que foram só jovens irreverentes mais capitães de Abril na reforma?

Ou será que, desta vez, a coisa abrange pessoas de todas as condições sociais e faixas etárias? E os eleitores? Serão só abstencionistas? O leque irá desde a esquerda do BE à direita CDS/PP?
Curioso fenómeno, este, que agrega mensagens tão plurais.

Nem uma fragata no Tejo


Há muito que digo. 
Repito. A questão do divórcio entre os portugueses e a "classe dirigente" (sim, porque não se trata apenas da classe política ou dos titulares dos órgãos de soberania...), só não resulta na queda da III República até ao dia em que, por um lado, o Povo souber a verdade inteira sobre a real situação do País, com as consequências que daqui resultarão para o nosso modo de vida durante os próximos anos. E, por outro, da tremenda falta de noção que a "classe dirigente", cega e surda, padece (deste as mais pequenas das comunidades até o topo da hierarquia das maiores empresas e do Estado...) quanto aos níveis gerais de indiferença, descrédito e repúdio a que está votada pelo comum dos cidadãos.

No dia em que o Povo se capacitar da força que tem, e no dia em que a "classe dirigente" se capacitar que  o País está disposto a vir mesmo à rua, não é preciso sequer uma bomba de carnaval. Um milhão pela Avenida abaixo, em Lisboa, e 500.000 nos Aliados, no Porto, (não se trata de José Sócrates ou deste Governo...), o Regime cai. Tal como tombou há quase 37 anos. E com uma diferença - desta vez, nem uma fragata estará no Tejo. 

domingo, 6 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Não há mais que pensar!

Ex-primeiro-ministro está «farto», mas diz que ainda não tomou uma decisão



A resposta só pode estar nas palavras de Francisco Sá Carneiro - "Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, eis a politica que vale a pena." - frase, diga-se, tão célebre como gasta, de tanto ser repetida por miríades, as mais das vezes usada à míngua, por todos e qualquer um, que continuam a olhar para Portugal sem ter chegado a entender o significado desse postulado tão elevado, tão edificante, tão livre e tão patriótico.

É certo que não rezam as crónicas daqueles que têm razão antes de tempo. Mas é também, fatal como o destino, que aqueles que se aquietam e amparam sucessivamente jamais mudam o curso da História.

O impasse e a encruzilhada que atrofiam o País não se compadecem mais com meias medidas, nem com alternativazinhas tiradas de catálogo. Os portugueses estão saturados. A instituição pública arrasta-se até que seja declarada caduca.

Ninguém aguenta, por muito mais, mais  folclores, fingimentos ou contemporizações. O Povo só ainda não veio em massa para a rua porque temos conseguido fazer hipotecas sobre hipotecas. No dia em que o credor disser que já nada garante o pagamento por isso não há crédito, será o caos. Talvez em certo sentido, pior que no período pós-revolucionário mais conturbado...

Não há mais que pensar. Em liberdade e em democracia, Portugal decide.

E é esse, afinal, o ponto. Temos um País com um quadro político que tem muito para decidir com pouco com que decidir. Ou seja: quem decidam os portugueses que possa decidir.