segunda-feira, 30 de julho de 2012

Elementar

A ser verdade o que vem nos jornais, o Primeiro-Ministro e a maioria dos membros do Governo já gozam ou preparam-se para ir alegremente de férias, como se Portugal não estivesse a atravessar momentos da maior complexidade e até mesmo verdadeira emergência.

É preocupante quando os titulares dos mais altos cargos políticos, cujas funções são da mais extrema responsabilidade, acham que lhes basta «ir para fora cá dentro» para darem o tal sinal de contenção e exemplo no apoio à economia nacional.

Quem vai para o Governo a julgar que pode ter feriados, fins de semana e férias, como se de um assalariado se tratasse, julga mal, para além de passar a ideia que as funções que exerce cabem no horário «nine to five» dos dias úteis, revela um bizarro sentido de serviço, para não dizer irresponsabilidade. Isto, para mais, quando se apregoa que a grande prioridade é, nem mais nem menos, «salvar o País».

Realmente, quando se confunde o exercício de um cargo público com uma profissão qualquer, não só se esvazia a exigência do cargo como se desvaloriza o trabalho de quem o procura emprego ou faz enormes sacrifícios para mantê-lo.

Que se saiba, Winston Churchill, que depois «lixou-se nas eleições», não teve um dia de férias enquanto Londres foi bombardeada. Mas salvou Inglaterra, decisivo para a vitória dos Aliados.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Outra loiça

Teresa Anjinho

Nuno Teixeira

Em plena «crise de vocações», também para o exercício da cidadania e entrega ao serviço da causa pública, agudiza-se não só a ideia que os partidos dão-se bem com uma certa mediocridade, como também que terão deixado cair a meritocracia que dantes os levava a «ir buscar os melhores», pois o «submundo» das organizações partidárias já quase nada tem que ver com a exaurida sociedade civil, a qual, por sua vez, também é de soslaio que olha para aquelas, no âmbito do tal «fosso» que foi sendo cavado nas últimas décadas, e que vem desaguar na questão central, do esgotamento da III República.

Ora, se é assim, a pergunta que se impõe é se a regeneração do Sistema passa por um corte abrupto no edifício jurídico-constitucional vigente e bem assim uma «limpeza geral» nos actuais titulares dos cargos públicos, ou se devemos partir para uma nova aurora do poder democrático contando com as «sementes de trigo» que, apesar de tudo, conseguem germinar no meio destas adversidades.

É claro que a interrogação só se faz para convocarmos o paralelo histórico que, ressalvadas as diferenças, pode traçar-se com os finais do Estado Novo e o advento da Revolução que nos levaria, depois, à CRP de 1976.

Donde, ensina-nos o passado recente que para erigir um País novo não se pode fazer a destrinça pelo rótulo mais fácil, como se tudo e todos fossem da mesma «loiça». Não são.

Temos casos excepcionais:

Com o respeito devido por outros, que os há, achamos aqui merecedores de referência os casos de Teresa Anjinho e Nuno Teixeira, eleitos, respectivamente, à Assembleia da República, em Junho de 2011, e ao Parlamento Europeu, em Junho de 2009, os quais estão a desempenhar os seus mandatos de acordo com aquilo que deles se espera: préstimo de valor, genuíno ideário, sensibilidade política, e apurado sentido de serviço à comunidade.

Elementar? Pois... mas se fosse assim tão elementar a excepção era regra, que não é.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Em frente

"Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal", declarou Pedro Passos Coelho, durante um jantar do grupo parlamentar do PSD para assinalar o fim desta sessão legislativa, na Assembleia da República. (Fonte: SIC/N)

Este «grito de alma» de Pedro Passos Coelho, que não podia ter sido mais peremptório, vai dar que falar e, no mínimo, ser repescado mais à frente, quando os factos revelarem aquilo que ia na cabeça do Primeiro-Ministro para ter dito o que disse.

- Será que pressente que o euro chegou ao estertor, mais a derrocada que isso implica para a UE, com as inevitáveis réplicas que se farão sentir em Portugal?
- Será que sabe que vai ter de anunciar mais carga fiscal em breve para, custe o que custar, atingir as metas do déficit?
- Será que pressente que o PS vai rasgar o compromisso com a Troika e votar contra o OE para 2013?
- Será que sabe quando e como vai remodelar o Governo?
- Será que pressente que, em caso de agravamento da situação política e social, o Presidente da República pode ser tentado a sair do seu recato e patrocinar um Governo de Salvação Nacional?

Estas e outras questões vão ser levantadas, com análises e comentários para todos os gostos.

A nosso ver, independentemente de tudo o resto, há um aspecto que nos agrada:

Em 38 anos, à excepção de Sá Carneiro, todos os líderes satisfizeram, cederam, ou tiveram de conceder às pretensões do «aparelho do PSD», sempre faminto, sempre tentado a misturar o Partido com o Regime e as suas Instituições. Até Cavaco Silva «fechou os olhos» a muita coisa.

Ora, se o que Pedro Passos Coelho quis dizer (ali, olhos nos olhos aos deputados, note-se) foi que está disposto a dar um murro na mesa e a romper com as «pressõezinhas» do Partido, isso é de se lhe tirar o chapéu. Serão muitos a levantar-se em sua defesa neste salto qualitativo, de ajustamento da política ao pulsar da sociedade. 

Caso tenha sido, afinal, uma frase feita «para dar ares para fora», ensaiada para fazer títulos de jornal, então, que se desengane o Chefe do Executivo...
É que não só perde eleições, como também perderá a liderança do seu Partido e, ainda por cima, não salva «um chavo» de Portugal.

Não vai faltar muito para sabermos.
Passos agora só tem um caminho: ir em frente, fiel à palavra dada e leal ao País que jurou servir.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lisboa na rota do Mundo



Que bonita que ficou a frente ribeirinha da Cidade, com os 48 grandes veleiros da «Tall Ships Race 2012» que aportaram a Lisboa na semana passada e ontem partiram, Tejo abaixo, para mais uma etapa da regata, rumo a Cádiz.

Para além dos aspectos lúdicos, importantes sem dúvida, este e outros eventos desta natureza abarcam em si mesmo as mais impressionantes metáforas sobre os desígnios que devemos prosseguir nestes tempos tão agitados e simultaneamente tão desafiadores que Portugal atravessa: em terra, no ar e no mar.

Aqui fica o link, para melhor elucidar:

domingo, 22 de julho de 2012

Nada é assunto


É verdade que o «estado de graça» do Governo não durou quatro estações.
Também é verdade que era praticamente impossível ao Executivo não sofrer contestação e desgaste.
Não deixa ainda de ser verdade que a doçura inicial dos media com Passos Coelho já lá vai.

Agora, sendo certo que, só por si, é bastante difícil cumprir o Programa do Governo, leia-se, gerir e honrar os compromissos do Plano de Ajuda Externa, e manter Portugal «à tona da água» no actual quadro da zona euro e da União Europeia requer um esforço descomunal, isso não pode servir de argumento para justificar tudo e mais alguma coisa.

Os membros do governo estão lá, com maior ou menor sentido patriótico, com mais ou menos espírito de missão e de serviço. Mas foram para lá porque quiseram, por vontade própria, em total liberdade. De cada vez que erram, de cada vez que tomam uma decisão polémica, de cada vez que a sua acção é questionável, mal seria da democracia que não pudessem ser interpelados, contrariados e criticados!

O facto de estarmos em «estado de emergência», tanto a nível nacional como europeu (as últimas dão a Grécia praticamente fora do euro e Espanha à beira do resgate total), não pode servir para desculpar tudo a todos o tempo inteiro, oposição incluída.

É claro que os governantes são cidadãos de pleno direito, como os governados, e uma e outra condição jamais pode acrescentar ou diminuir um milímetro aos direitos, liberdades e garantias, para além das prerrogativas especiais que a Lei também prevê, consoante os casos.

Ora, dado por adquirido o que há muito foi conquistado e que importa aperfeiçoar constantemente, é perigoso que entremos na «moda» dos «não-assuntos». Há nesta «tendência» um malefício pior que qualquer tique de autoritarismo: uma certa ideia de impunidade.

Grato, devia estar o Governo aos portugueses, pela capacidade de perceber a gravidade da situação, pelos sacrifícios que têm suportado e pela paz social que têm mantido.

Era bom que alguém soubesse dizer ao Primeiro-Ministro que quando ele vem com a conversa dos «não-assuntos», está a fazer precisamente o contrário do que pretende: atear fogos em vez de os apagar. O pior que pode acontecer ao Governo é convercer-se que, haja o que houver «no pasa nada».

quinta-feira, 19 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Entrincheirados


Especialmente este ano, por razões mais que evidentes, era de esperar que o debate do Estado da Nação fosse o momento mais alto desta Sessão Legislativa, e que dali brotasse qualquer coisa de novo cá para fora. Mas não foi.

Seria interessante saber-se quantos portugueses seguiram o debate e desses quantos ficaram esclarecidos, tirando aqueles que acharam que ficou tudo empatado.

Ouvimos a espaços as intervenções que se iam seguindo na Assembleia da República e, avaliando pelo tom gasto e pelas palavras puídas que ali eram proferidas, mais parecia estarmos perante um relato das trincheiras. Posições definidas. Nem uma passo adiante, nem um passo atrás. Um arrastar rançoso pelo tempo à espera que o tempo passe sem que nada se perca. «Tropas» desmoralizadas a manter posição.

Tudo muito previsível, tudo muito recauchutado, tudo muito dorido. Do lado do Governo, um penar para aguentar o sacrifício. Do lado da Oposição pouco mais que um último fôlego para cumprir os papéis alinhavados.

Passos Coelho percebeu finalmente que tem de estender a mão a Seguro. O líder do maior partido da Oposição agora faz birra e diz que não dá. O Ministro da Saúde percebeu que tem de ouvir os médicos. Os médicos já não ouvem nada porque estão aos gritos na rua. O PSD espremido é zero. O PS espreme-se para apontar um zero. O CDS representa como pode. A CDU parece um disco riscado. O BE já não tem mais argumentos. Os Verdes levantam o volume a ver se a coisa pega.

No fundo, todos acabam por justificar estar ali: faz-se aquele teatro e pronto.

Uma excepção:
Paulo Portas e o seu verbo. Mais não fosse que pela qualidade «literária» do texto, consegue «salvar a honra do Convento» com argumentos bem construídos, cujos recortes ficam no ouvido dos que aguentaram deitar o ouvido à escuta até ao fim. Fica o apelo ao patriotismo, o que não é mal pensado, sobretudo para quem não vê como sair das trincheiras.

sábado, 7 de julho de 2012

Foi dinheiro a mais...


Dantes, um pouco por todo o País, mesmo aqueles que mais se distinguiam nas «forças vivas» de cada comunidade, poucos tinham chegado ao ensino superior e os «ricos» contavam-se pelos dedos das mãos. A maioria tinha a 4ª Classe e vivia «remediada». Não era, pois, nem pelas habilitações literárias nem pela condição sócio-económica que A ou B gozava de um estatuto de honorabilidade e respeito. Era, sobretudo, por uma questão de honra e bom-nome. Embora a nossa memória não remonte exactamente a esse tempo, ainda assistimos a sinais essa realidade, entre finais da década de 70 princípios da de 80. Na freguesia ou no município, na vila ou na cidade, não podia ser «qualquer um» o dirigente do clube desportivo, da associação recretiva ou da sociedade filarmónica da terra. E «ai» de quem «prevaricasse» nas suas funções, bem como de quem se atrevesse, sem fundamento, a desprestigiar quem prestava tais serviços com brio e mérito, as mais das vezes de modo gratuito. A «censura social», assente em pesados códigos, operava de modo mais eficaz que hoje em dia funciona o «controlo» exercido pelos media. Mas nem tudo era perfeito. O sistema permitia-se a abusos e ostracizações várias. Em todo o caso, bem podia acontecer que um Presidente de Câmara, por exemplo, mudasse o sentido de uma decisão, quando confrontado com o «conselho» de um munícipe, que podia ser o mais modesto dos cidadãos, não ter qualquer grau de instrução e andar descalço... desde que «aquela voz» fosse «autorizada», isso era quanto bastava.

Depois, veio «o progresso», com o acesso generalizado às «normas-fim» consagradas na Lei Fundamental da III República. No início, foi muito bom. Houve um salto qualitativo enorme nos índices de conforto e bem-estar, e não se perdeu de vista o tal «espírito de comunidade» e a tal «consciência colectiva», que premiava o mérito e desprezava que alguém se «armasse em esperto». Foi sol de pouca dura. O País entra na então CEE e começa e ser inundado por pacotes de milhões e susbsídios todos os dias.  A honra começou a ceder aos maços de notas. Foram-se os valores colectivos. Passou a pontificar a ascensão social em massa. A partir da década de 90, já não interessava nada aqueles que tinham sido os pilares sócio-culturais do País. O «sucesso» foi uma panaceia que varreu tudo isso, e o objectivo generalizado focou-se na cultura da «marca», que veio substituir a cultura do «bom-nome»; carro, electrodomésticos, roupa, acessórios, universidade dos filhos, férias, etc. Teve o seu lado positivo; Portugal experimentou o que nunca vira dantes e alguns foram fazendo o seu caminho, com êxitos, naturalmente. Também houve o reverso da medalha; o deslumbramento, misturado com desmedida ambição, gerou uma «salada russa», de falta de escrúpulos. Instalou-se a ideia que o dinheiro tudo compra e passou a achar-se que a aptidão social estava no plafond de um cartão de crédito. Assistimos, então, a um fenómeno esquisito: gente que dantes «não riscava nada» passou a ocupar os lugares com poder de decisão, desde o nível da paróquia até às altas esferas do Estado, tanto no sector público como no privado. Entretanto, os «melhores» foram dando lugar aos «maiores». E na proporção inversa aqueles foram-se desligando da «participação cívica», que quanto mais propalada mais vazia se foi tornando.

E assim aqui chegámos.
Agora, "ai", mas é de quem levante a voz para dizer que «o rei vai nu». Perdemos o que de melhor tinha o Portugal «dos valores» e não conseguimos erigir um Portugal «de valor». Estamos falidos e com a soberania condicionada a um «programa» de ajuda externa que, na verdade, corresponde, pela via financeira, àquilo que seria uma «invasão» em tempos bélicos. Governantes e governados vivem como um casal desavindo, que está separado mas continua sob o mesmo tecto: não se respeitam, não se dão ao respeito, nem podem respeitar-se. Apenas respiram o mesmo ar. O ar está a ficar irrespirável. Grande é a confusão instalada, quer sobre o que «deve ser», quer sobre os desígnios que temos de prosseguir. Falta um novo paradigma, diz-se. A imagem que ocorre para ilustrar a nossa história nas últimas décadas é a de uma viagem de finalistas:

Portugal fez a maior viagem de finalistas de sempre. Foi fantástico mas correu mal. Fantástico, porque foram todos finalistas e a viagem foi a mais cara de sempre. Correu mal porque, no regresso, os melhores finalistas foram parar ao desemprego e estão sem saber como vão criar os filhos, enquanto que outros voltaram promovidos, vêem uma «oportunidade» ao dobrar de cada esquina da crise, e alguns até mandam ou preparam-se para mandar nas freguesias e no País. Foi dinheiro a mais...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Espanha com justiça


Depois das quatro equipas apuradas para as meias-finais do Euro/2012 terem sido Portugal, Alemanha, Espanha e Itália. Depois da Cimeira Europeia de Bruxelas ter ido de encontro às posições dos países do Sul. Depois da Itália ter mandado a Alemanha para casa. Depois de Espanha ter dado um «banho de bola» à Itália, num jogo e numa prova que ganhou com justiça. A Europa, com muito futebol à mistura, ficou um bocadinho melhor.