quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

É quando a luta aquece que se vê a fraqueza do PS


Há alturas na política, como na vida, que o momento para apostar tudo é um, só um, e mais nenhum.
 
Ontem, quando saíu da Praça do Município para o Largo do Rato, António Costa estava convicto que tomava «Constantinopla aos turcos».
 
Chegado à cidade sitiada, contou «espingardas» e «embainhou o sabre». 
 
Ante a resistência de Seguro, Costa optou pelo cálculo do risco e por um desarranjo de «Ultimato».
 
Em nome da putativa unidade do PS, os Antónios acordaram um pacto de não agressão.
 
Até ver...
 
Aos olhos dos portugueses, António José Seguro continua na mesma. É o que há.
 
Aos olhos dos portugueses, António Costa não continua na mesma. Fraquejou.
 
Ninguém ganhou nada.
 
Tornou a ganhar o sistema, o aparelho partidário e as meias tintas.
 
A pré-anunciada «clarificação» do PS ficou obscurecida por promessas de «trabalho» e «consenso».

A pré-anunciada «clarificação» do PS redundou num teatrinho de fraca qualidade.

Costa continua a ser melhor que Seguro? Continua. Só que agora ficaram mais parecidos.

Tal como o PS ficou mais parecido com o PSD.

A politicazinha portuguesa tornou-se um mero negócio.

A quanto está um prato de lentilhas na praça?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

É quando a luta aquece que se vê a força do PS

 
1. O País está farto.
Tanto está farto do Governo como da oposição. 
 
2. Os portugueses olham para um lado e para o outro, e não têm escolha.
Não suportam a ideia que a alternativa a «Passos I» seja... «Passos II».
 
3. Os dois principais partidos bateram no fundo. 
O líder do PSD tem consideráveis atributos políticos. Mas daí a possuir envergadura para chefiar o Executivo vai um passo.
O líder do PS tem consideráveis atributos políticos. Mas daí a possuir envergadura para chefiar o Executivo vão dois passos. 
 
4. António Costa é claramente melhor que António José Seguro.
Mas Costa não pode ter um pé no barco e outro no cais. 
Ou bem que avança para o PS e para a Câmara de Lisboa (qual é o problema?) ou bem que se deixa estar quieto.
 
5. Ou António Costa consegue provocar rapidamente um «tsunami», ou desbarata capital político, ainda que ganhe Lisboa, hipotecando assim o seu «caminho aberto».
 
6. Se a decisão estivesse na mão da opinião pública, António Costa era líder da Oposição já amanhã.
Se a decisão estivesse na mão da opinião pública, o Governo cumpria a Legislatura até ao fim.
 
7. Caso o actual Presidente da Cãmara de Lisboa fosse eleito líder do PS já amanhã, amanhã mesmo começavam as movimentações dentro do PSD, para suceder Passos e ver quem ia às legislativas.
 
8. É por isso que ao Sistema não interessa nada que ocorram mexidas no PS e no PSD.
 
9. É por isso que ou Costa «irrompe» ou o Sistema continuará neste torpor até 2015, ou talvez até 2019.
 
10. É por isso que os dois principais partidos vão rebentar, a bem ou a mal. O País está farto. 
Os portugueses não suportam a ideia de «levar» com um «Passos II» depois do «Passos I».
Seja ele Pedro Passos ou Tozé Seguro.
 
P.S.  
 
É um mau precedente, o perigoso puritanismo de «degolar na praça pública» Glória Araújo, a tal deputada do Partido Socialista que foi detida numa operação stop, por ter sido apanhada a conduzir com excesso de álcool. A deputada fez o que tinha a fazer, submetendo-se à Lei e pedindo para abandonar a Comissão de Ética. Ponto.
 
A propósito, lembremo-nos daquela passagem famosa de Churchill com Bessie Braddock:

Braddock - "Winston, you are drunk, and what's more you are disgustingly drunk."
Churchill - "Bessie, my dear, you are ugly, and what's more, you are disgustingly ugly. But tomorrow I shall be sober and you will still be disgustingly ugly."


Importa dizer que não conhecemos Glória Araújo, nem do eléctrico.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mercados de Inverno


Os mercados estão mesmo concorridos.
 
O Estado foi ao mercado e conseguiu fazer uma das emissões de dívida com mais procura de sempre.
 
O FC Porto foi ao mercado e conseguiu levar Izmailov e Liedson baratinhos para o Dragão.  
 
O PS também se prepara para ir ao mercado. Pedro Silva Pereira deu o tiro de partida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Alternativa de laboratório

 
A entrevista de António José Seguro ao DN/TSF é um hino à espuma que enrola na areia.
 
Nota-se que o Secretário-Geral do PS, na linha do que fez Passos Coelho, escolhe o cenário, adopta a pose, coloca a voz, ensaia o gesto, e assim se lança para governar Portugal.
 
Passos teve a sua «Plataforma de Ideias». Seguro tem agora o seu «Laboratório de Ideias». Como se a espessura dos políticos pudesse medir-se pela camada dos think thank que os adornam. 
 
De facto, não pode dizer-se que este eventual futuro Primeiro-Ministro seja lá muito promissor...
 
Mas o certo é que se dizia o mesmo de Passos Coelho e ele vai andando, sob batuta da Troika mais Gaspar e Moedas.
 
Parece-nos que o maior problema de Seguro, caso chegue lá, será mesmo esse:
 
É que não vai ter nem dinheiro, nem o argumento, fatal, de que há um Programa para cumprir.

Ver resumo da entrevista aqui:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=NoRwF7aynV8

sábado, 19 de janeiro de 2013

A democracia não é um éfe-erre-á!

 
 

 
 
Passos e Seguro estão bem um para o outro mas nem um nem outro servem Portugal.
 
O triste espectáculo com que brindaram os portugueses no debate mensal desta Sexta-feira fala por si.
 
Não fazem ideia dos estragos que as suas chicanas causam à política. 
 
Pior que isso, os seus exemplos nivelam muito por baixo a bitola de quem serve a causa pública.
 
É que, se o Primeiro-Ministro e o líder do principal partido da oposição podem comportar-se assim, como é que vamos exigir mais qualidade e elevação à classe política em geral?
 
De facto, a democracia não é um éfe-erre-á!
 
Não cheira a fim de legislatura. Cheira a fim de regime.
 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Livra!

 
António José Seguro disse esta Quinta-feira no Opinião Pública da SIC-Notícias que «ambiciona uma maioria absoluta».
 
Em vez de estar à altura das responsabilidades de líder do maior partido da oposição, Seguro fala com uma ligeireza que é de bradar aos céus.
 
Como se o País pudesse cair-lhe nos braços e dormir descansado... livra!
 
O «impasse» político-partidário que Portugal atravessa deve-se tanto à omissão do PS como à acção do PSD e do CDS/PP.
 
Um ano e meio após as eleições, os portugueses estão fartos do Governo de Passos Coelho.
 
Menos de ano e meio após as directas do PS, os portugueses estão fartos de António José Seguro.
 
O problema é que quando a legislatura chegar ao fim (ou antes, não se sabe), os portugueses podem «correr» com o PSD e o CDS do Governo, mas não podem «correr» com António José Seguro de Secretário-Geral do PS...
 
Definitivamente, algo vai ter de mudar no xadrez político-partidário.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Quanto mais longe dos mercados, melhor!

Segundo o Diário Económico, "O Governo está a preparar o regresso aos mercados de dívida de médio e longo prazo mais cedo do que o previsto. Após o sucesso do de ontem do leilão de Bilhetes do Tesouro (BT), e com a recuperação dos mercados de dívida na periferia da zona euro nos últimos meses, o Estado está a preparar uma emissão sindicada de Obrigações do Tesouro (OT) a cinco anos, que poderá decorrer já nos próximos dias...".

Adianta o DE que, "Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar ainda não tomaram a decisão final, dependente do ‘road-show' que o Governo está a realizar esta semana nos EUA, da reunião do Eurogrupo da próxima segunda-feira e da execução orçamental de 2012, que será conhecida no dia 23. Mas o Governo já terá decidido regressar aos mercados antes do dia 25 de Fevereiro, data de início da sétima avaliação da ‘troika', a decisiva, com uma emissão de valor, ainda, indeterminado...".
 
A confirmar-se, é uma boa notícia, sem dúvida.
 
Resta saber qual a estratégia portuguesa para colocar dívida no mercado, de modo a impulsionar o crescimento económico, por um lado, e que o Governo não venha a inebriar-se de tal modo a contrair dívida que faça o País entrar novamente em default, por outro.
 
Regressar aos mercados é um meio, nunca um fim em si mesmo.
 
A grande questão é produzir, crescer, criar emprego, baixar a carga fiscal e adoptar um modelo que nos permita sermos o mais auto-suficientes possível. É que quanto mais longe dos mercados, melhor! 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Chatham house rule eleva o debate

 
Na falta de melhor argumento, lá vem o argumento geralmente usado para convencer os indígenas:
 
«Lá fora faz-se assim»...
 
Foi o que aconteceu no primeiro dia das conferências do Palácio Foz, o tal debate em que Passos Coelho muto queria ver a sociedade civil envolvida. 
 
E assim singrou a Chatham house rule, de imediato subscrita por Arnauts & Companhia.   
 
Diz-se que a regra permite que os participantes falem com toda a liberdade, e que é propiciador de um debate franco sobre os temas em causa.
 
Talvez seja. Mas para outro tipo de reuniões: o Conselho de Ministros, por exemplo, ou até encontros entre conhecidos comentadores políticos e membros do Governo...
 
Neste caso, uma vez que, está visto, o debate pouco mais serve que para emoldurar as «dúvidas» do Secretário de Estado Carlos Moedas, em vez de dizerem que iam utilizar a Chatam house rule, bem podiam ter dito, «os governos tecnocratas fazem assim» ou, «no Estado Novo fazia-se assim».
 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sociedade civil à moda da Troika

 
Sobre a denominada «Refundação do Estado» ou «Reforma das funções sociais do Estado», ou simplesmente «Reforma do Estado», enfim... 
 
Para o Governo alinhavar até meados de Fevereiro um draft com os tais cortes na despesa pública de 4 mil milhões de euros, o Primeiro-Ministro quis a sociedade civil envolvida no debate. 
 
Ora aí está! A Conferência «Pensar o futuro, um Estado para a sociedade», segundo foi noticiado, irá decorrer esta semana, nos dias 15 e 16, no Palácio Foz, em Lisboa.
 
Só temos uma dúvida:
 
A entrada é livre, ou os cidadãos devem inscrever-se nalgum guichet da administração pública?
 
Ou será que, já a pensar no futuro, os tickets estão disponíveis online nas lojas Fnac?

domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma chapada por causa da doutrina

 
Histórico do PSD/A Adolfo Lima diz que partido está "esvaziado de doutrina"
 
Adolfo Lima, ex-secretário da Agricultura e Pescas dos governos de Mota Amaral e um histórico do PSD/A, fez hoje uma intervenção bastante aplaudida no segundo dia de congresso, ao apelar ao partido para que "reconstrua" a sua doutrina. "O partido anda esvaziado de doutrina e ideologia e, sem isso, não há modelo, nem estratégia. O que nos distingue do PS? Nada" alertou... 
Fonte: Açoriano Oriental, 12.01.2013
 
Quando se realizou o XVIII Congresso Nacional do PSD de Santa Maria da Feira, em Março de 1996, António Guterres acabara de arrancar a vitória do PS nas legislativas nacionais, em Outubro de 95, ditando, assim, o fim dos 10 anos dos Governos de Cavaco Silva. O PSD não tornaria a voltar ao poder, excepto entre 2002 a 2005, até que o pedido de ajuda externa conduziria José Sócrates à queda, em 2011,com a ascensão de Passos a Chefe do Executivo. 
 
Nos Açores, aproximavam-se as legislativas regionais de Outubro/96, em que Carlos César haveria de levar o PS-A à vitória, quebrando o jejum socialista no Arquipélago e o ciclo dos 20 anos consecutivos dos Governos de Mota Amaral. O PSD-A não haveria de tornar ao poder. Até hoje.
 
Cruzei-me com Adolfo Lima nos corredores do Europarque de Santa Maria da Feira.
 
Com o «sangue na guelra» próprio dos 20 anos, disse-lhe que o PSD-A estava mal e que não ia longe.
 
Que alguns membros da estrutura dirigente do Partido percebiam muito de carreirismo mas não tinham qualquer ideário político, ou tampouco sabiam o significado de «social-democracia».

E apontei o dedo a um responsável regional que passava por perto, como exemplo de uma cabeça vazia de uma ideia que fosse.
 
Adolfo Lima não me permitiu tal atrevimento e disse-me, repetes isso e levas uma chapada!
 
Adolfo Lima não se lembrará do episódio.

Jamais terá imaginado o quanto aquela «cena» me marcou.

Em Fevereiro de 1999, na Madalena do Pico, logo na primeira e das escassas vezes em que consegui assento no Cogresso da JSD-A, apresentei uma Moção Sectorial, intitulada «Saber quem somos».

Abordava precisamente a questão da «social-democracia», apropriada que parecia estar por Guterres e César, inspirados pelos ventos da «terceira via», alimentada na Europa por Tony Blair.

Pouca sorte... entre montes de moções sectoriais, todas aprovadas por unanimidade, a minha foi a única a ser rejeitada, com não sei quantos votos contra, umas quantas abstenções e um voto a favor, o do proponente... o Congresso terá querido rejeitar mais o subscritor do que a Moção, nem que para isso tivesse de deitar pela borda fora a reflexão ideológica proposta.  

Depois, no primeiro e último Congresso do PSD-A em que participei, em Ponta Delgada, corria o mês de Novembro de 2003, citei Adolfo Lima na minha intervenção, que na véspera fizera um discurso notável, recordo.
 
Entretanto, das vezes que reencontrei Adolfo Lima, conversamos sempre amistosamente sobre vários assuntos, que não o PSD...
 
Mas verdadeiramente em paz com Adolfo Lima, só me senti hoje, quando li a notícia do Açoriano Oriental, passados muitos anos sobre o tal Congresso de Santa Maria da Feira.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Quero, posso e mando

«O Governo está legitimado para governar. O Governo está mandatado pelo povo português para cumprir o seu mandato de quatro anos. O Governo não foi eleito apenas para executar o memorando de entendimento com a troika; foi eleito para governar o país de acordo com o seu próprio programa e de acordo com as necessidades que o país tem». TSF, 11 Janeiro de 2013
 
Na ressaca da Mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva, com o Orçamento suspenso da fiscalização do Tribunal Constitucional, com um alto dirigente do PSD a pedir a demissão do Secretário de Estado «da Troika», horas depois do PS ter falado em eleições, num dia em que não se fala de outra coisa que não seja o Relatório do FMI e, ainda por cima, com a publicação de uma sondagem que lhe é desfavorável, apesar disso tudo o Primeiro-Ministro decidiu «esticar a corda».
 
Gostando-se ou não de Passos Coelho, importa reconhecer que o Chefe do Executivo aparenta uma determinação inabalável e contraria quaisquer sinais de estar disposto atirar a toalha ao chão.
 
O «impasse» já não está tanto no plano da Coligação, das relações partidárias, ou entre o Governo e outros órgãos de soberania. Agora é sobretudo entre Passos e os portugueses. A «corda chia», entre o «quero, posso e mando» do PM e a capacidade do povo «aguentar».
 
Estamos para ver se Passos Coelho, com este seu «quero, posso e mando», tem músculo bastante para o «tira-teimas» do «braço-de ferro» iniciado no 15 de Setembro.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O FMI (não) manda aqui


"A importância deste relatório é que realmente que é um relatório quantificado, é um relatório muito bem feito, muito bem trabalhado, e que eu espero que seja lido por todos, pelos partidos políticos, pela sociedade civil em geral, porque ele é importante".
SOL, 09.01.2013


 
"Esta maioria que detesta a Constituição, a mesma Constituição que garante a democracia que lhe permitiu tornar-se Governo, é criminosa e cobarde. É criminosa porque destrói o país. É uma mistura explosiva de fanatismo e irresponsabilidade". "O Governo encomendou ao FMI um estudo que dissesse o que quer fazer".
TVI 24, 10.01.2013 

A propósito do malfadado Relatório do FMI, entre a excitação de Carlos Moedas e a verve de Catarina Martins, preferimos a deputada do Bloco a uma dúzia de Moedas.

P.S.
Expressões injuriosas?
Há no Parlamento uns rapazes caceteiros de vez em quando armados em virgens ofendidas.
Não devem ter noção das razões para as suas imunidades.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Irra!


Às Segundas, Durão Barroso vem a Lisboa falar paternalmente sobre o aproveitamento dos fundos da UE ainda existentes à disposição do País.
 
Às Quartas, o porta-voz da Comissão para os Assuntos Económicos e  Monetários, Simon O'Connor, vem dizer que ainda antes da chegada da próxima missão da Troika a Portugal, em meados de Fevereiro, o calendário para o corte dos 4 mil milhões na despesa tem de estar pronto, revelando ainda total sintonia com o último Relatório do FMI.
 
Não há Governo, nem consenso parlamentar, nem parceiros sociais, nem sociedade que resistam a tantas confusões, ingerência e pressões.
 
É tempo de uma reunião ao mais alto nível entre as autoridades portuguesas e os responsáveis máximos pelas 3 entidades que formam a Troika... para pôr os «pontos nos is». Irra!

sábado, 5 de janeiro de 2013

Expresso na primeira pessoa


Ao contrário do que tem sido habitual, não se opta neste post pelo plural majestático. No dia em que o Expresso faz 40 anos, expresso-me, pois, na primeira pessoa do singular.

Nasci no dia em que o Expresso saíu pela primeira vez em liberdade, pelo que as reminiscências guardam do jornal a figura de uma instituição, um familiar e uma referência. Um rito. Desde sempre. Até hoje.
Meu Pai, convicto da linha e das propostas da Ala Liberal, cuja intervenção acompanhava sobretudo através do Diário das Sessões, depois, quando o Expresso apareceu, deve ter sido o primeiro e, talvez, durante algum tempo, o único assinante do jornal nas Flores. Apesar da Ilha mais ocidental viver quase apartada do resto do arquipélago e do mundo, ainda assim, havia lá alguém interessado com o País e quisesse receber notícias da Duque de Palmela.

Com o Expresso aprendi, portanto, as primeiras letras. Sem saber, também foi com o cheiro e as fotos daquelas páginas enormes que fui percebendo a ligação genética entre o projecto da Ala Liberal e o nascimento do Expresso, e entre o Expresso e o nascimento do PPD. Mais tarde,  mais crescido, foi ainda com o Expresso que acompanhei o advento e a páscoa do cavaquismo, numa época mais cinzenta para o jornal, a pender para um centro um tanto opaco.
Em Coimbra, na Faculdade, princípios dos anos 90, acaloradas eram as discussões às Sextas, por causa da irreverência do Independente. No regresso das borgas, aos Sábados, manhã cedo, ia apanhar o Expresso a um quiosque, na Estação de Coimbra A, para que a síntese ficasse em dia.
 
Tinha a mania de guardar o caderno principal e a Revista. Fi-lo durante anos, o que me saíu caro numa mudança de casa, quando já vivia em Lisboa. Na falta de espaço para guardar toneladas de papel encaixotado e sem coragem para me desfazer das histórias do Expresso, despachei a carga de barco, para a casa da Família, na origem das Flores, cave e sótão de arquivos guardados no mar.

Zanguei-me com o Expresso uma vez, em Dezembro de 2001. Foi quando o jornal chegou um dia mais cedo às bancas, com uma sondagem que dava vitória folgada de João Soares sobre Pedro Santana Lopes, na antevéspera das eleições autárquicas desse ano. Escrevi indignado ao Director, José António Saraiva, apresentando-lhe as credenciais de leitor «encartado», com duras críticas, e os protestos de não mais comprar um edição que fosse. Foi sol de pouca dura. Passado algum tempo, a irritação também, e o «saco de plástico» voltou ao itinerário dos meus Sábados.

Em Novembro de 2005, antes da primeira eleição do Presidente da República,  publiquei um artigo de opinião no Expresso, intitulado «Cavaco e o Centro/Direita», adiantando um cenário que, creio, já esteve mais longe...
Adiante:

O tempo corre depressa. Cavaco Silva foi eleito para Belém em Janeiro de 2006, e reeleito para o segundo mandato em Janeiro de 2011. Neste Janeiro de 2013, é capa do Expresso, onde, em entrevista exclusiva, põe mais timbre àquilo que disse na sua Mensagem de Ano Novo.
Palpita-me que a edição de hoje do Expresso, onde a referida entrevista é mote, vai marcar um virar de página, o início de um tempo novo, ou, pelo menos, o princípio de outro ciclo neste nosso Portugal intervencionado.

Hoje, como há 40 anos, o Expresso continua a fazer história, quando não a precipitá-la. O País precisa do Grupo Impresa e os portugueses precisam de liberdades bem expressas.
Parabéns ao Expresso.
Muitos parabéns ao Dr. Francisco Pinto Balsemão.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Bom Ano

Funchal, Madeira, Portugal