domingo, 31 de março de 2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

Grande lamaçal



Quando se soube que José Sócrates iria fazer comentário político na RTP, não entrei na onda de protesto que se gerou, a qual, embora compreensível, pensando com frieza, não deixou de ser uma manifestação emocional um tanto primária.
 
Achei, pois, que José Sócrates tinha todo o direito em aceitar o convite da RTP, e que era legítimo que quisesse defender-se do «diabo» em que se tornou.
 
Aliás, pensando políticamente, os adversários de Sócrates erraram em irritar-se tanto com o seu regresso.
 
O José Sócrates de hoje, visivelmente ainda muito ferido, revelou-se pior do que aquele que partiu para Paris em 2011.
 
Disse que vinha exercer o contraditório.
 
Que excelente oportunidade agora, com Sócrates cá, para dar-lhe réplica e vencê-lo do modo mais leal e democrático. Olhos nos olhos, ponto por ponto.
 
O problema é este:
 
O abismo ou a regeneração de Portugal não passam por José Sócrates.
 
O ex-Primeiro-Ministro vai provocar uma coisa. Enlameado, também vai enlamear.
 
No fim, os portugueses vão repartir as «culpas», e vão achar que Cavaco Silva, Passos Coelho, António José Seguro e José Sócrates são iguais, pois todos eles estão enredados no mesmo novelo.
 
Ora, isto é que é preocupante. Assustador.
 
No fim da legislatura, ou antes, o sistema, já bastante bloqueado, mais bloqueado vai estar.
 
Todos os principais protagonistas, a que agora se junta Sócrates, fazem parte do passado.
 
Depois de Sócrates ter sido afastado pelos portugueses em eleições para dar lugar a Passos Coelho, será que os portugueses vão querer repetir a dose, afastando agora Passos Coelho para substituí-lo por António José Seguro ou outro possível líder do PS?
 
O epifenómeno Sócrates na RTP vai agudizar a percepção que o PS e o PSD são a mesma coisa, pelo que ambos merecem castigo. Um por ter sido o seu «carrasco». O outro por ter sido o seu «coveiro».
 
Como a solução não virá nem do PCP nem do BE, e o CDS/PP está amarrado ao destino do Passos Coelho, se os partidos não se reinventarem rapidamente, agora, sim, vem aí um grande pântano, com as forças políticas do arco da governação ainda mais atoladas.
 
Quem quiser inovar, terá de demarcar-se, passando por cima deste grande lamaçal.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Cerrar fileiras

 
A onda de «casos» que ultimamente vai assolando a comunidade nacional, a todos indigna e fermenta os mais amplos e díspares sentimentos de revolta, preocupa, preocupa muito, e não augura tempos de bonança...

Todavia, para os nossos problemas internos, a opinião pública está cada vez mais atenta, dependendo de nós, e apenas de nós, meter «o País na ordem».

Mas isso não basta. É preciso mais, muito
mais.

O desmoronamento, mais que iminente, das instituições da União Europeia e das suas políticas, tal como as conhecemos hoje, requer, urgentemente, que Portugal saiba elevar-se na frente externa, cerrando fileiras na defesa da nossa soberania, que é o mesmo que dizer, evitar a alienação definitiva a suseranias sem rosto da nossa gente, da nossa alma, da nossa terra, do nosso mar, dos nossos valores e das nossas tradições. Trata-se, sobretudo, da nossa independência e da identidade nacional.

Que fazer?

Acompanhar, a par e passo, a evolução dos acontecimentos à nossa volta, e sermos responsavelmente implacáveis na exigência, quanto ao que os nossos representantes e terceiros fazem ou deixam de fazer por nós «lá fora».

É chagada a hora do patriotismo e talvez seja chegada também a hora de não termos pruridos em utilizarmos a palavra nacionalismo, no melhor sentido.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Roma mais perto de Porto Alegre


13.03.2013
 
Depois do «fumo branco», quando já passava um quarto das sete horas da tarde em Portugal, vimos aparecer na varanda da Basílica de São Pedro o cardeal francês Jean-Louis Tauran, que proferiu as palavras mais esperadas, Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam.
 
Prosseguindo, o protodiácono adianta Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Jorge Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem Bergoglio qui sibi nomen imposuit Franciscum.

Bergoglio!?
Trocaram-se olhares.
Instantes de alguma confusão, entre a alegria, irrepetível, e a dúvida, momentânea. 
O argentino! O argentino... 
 
O Arcebispo Emérito de Buenos Aires vinha vestido de branco.
O Mundo pôs os olhos naquele que logo ali haveria de lançar o mote para o seu pontificado, em imediata empatia com o Povo, com quem começou por gracejar e a quem logo pediu que rezasse por ele, num gesto simples e belo, da mais fecunda humildade.
 
Quem é o Papa Jorge Bergoglio, que adoptou o nome de Francisco?
Já tudo se sabe e ainda muito pouco se sabe.
 
Numa palavra, por aquilo que já vimos, o Papa Francisco não será um conservador, pelo que «abrirá» mais a Igreja aos novos tempos, mas também não será um radical, pelo que ninguém conte com «aventureirismos».
 
Será, antes de mais, um humanista-cristão, no sentido mais genuíno do termo, pelo que é de esperar um líder próximo dos fiéis, que refirmará a segurança do Credo, por um lado, e inaugurará um regresso à causa cristã, da justiça social, em toda a a linha, sem deixar de atender ainda à preservação da natureza e à defesa do «desenvolvimento sustentável».
 
Entre muitíssimas outras notas que podem ser atribuídas ao caminho alinhavado pelo novo Chefe da Igreja, não só esperamos, como acreditamos, que o novo pontificado será, definitivamente, o tempo da convocação dos católicos para uma intervenção social mais forte. Pela positiva, no testemunho. Pela crítica, na coragem.
 
Após a queda do Muro e o soçobrar do modelo de leste, o Mundo ficou desiquilibrado a favor de um neoliberalismo de consequências muito nefastas. Andamos todos à pocura de um «novo paradigma».
 
O Papa Francisco, cremos, pela sua palavra, pela sua acção e pela sua capacidade de mobilização, vai constitui-se num farol que apontará novos rumos ao Mundo, contrariando os ventos presentes.
 
Daí a inevitabilidade do papel do Sumo Pontífice na reestruturação da ordem mundial.
 
Para grande parte dos lusófonos, em especial os brasileiros, torcia-se pelo Bispo de São Paulo, Dom Paulo Ségio Machado... o Papa afinal acabou por vir da América do Sul, mas da Argentina. Seja como for, o certo é que a geografia também tem os seus desíginios... 
 
Utilizando uma inagem, a partir de agora, Roma passa a estar mais perto de Porto Alegre. 
Davos, agora, fica a uma distância-tempo mais longínqua.

Bom seria que os grandes do Mundo percebessem a dinâmica da Igreja na geopolítica, a começar pelo conservador e neoliberal Directório da União Europeia, ultrapassado e agora mais isolado.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Chavez e a civilização

 
Quando confrontados com a morte de um ser humano, qualquer que seja, ainda que o pior dos nossos inimigos, tal notícia deveria merecer sempre o nosso respeito e discrição.
 
Não compreendo como é que na dita «civilização ocidental» possamos assistir a manifestações de gáudio ou júbilo pela morte de um Chefe de Estado, mesmo que se trate de um ditador ou tirano da pior espécie.
 
Assistimos recentemente a cenas lamentáveis, por exemplo, nos casos de Saddam Hussein e Muamar Kadafi. Muito sangue foi derramado à conta dessas euforias bárrbaras que atiçam vis fanatismos e torpes crueldades. 
 
Da mesma forma que o dito «Estado Democrático de Direito», de «democrático» e de «direito» está longe de o ser, os «valores civilizacionais», para «valores»,falta-lhes muito.
 
Não podemos apertar a mão a alguém num dia e maldizê-lo no outro, quando morto.
 
Paz à alma de Hugo Chavez.
Que a Venezuela saiba ultrapassar este luto com serenidade.
 
P.S.
A este propósito, enquanto escrevemos estas linhas, vemos a declaração de Dilma Rousseff.
Muito bem.