sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

(in)Dignidade

A dignidade é um bem de nascença. A dignidade é sempre individual, antes de ser colectiva. A dignidade é sempre condição de cada pessoa, antes pertencer à comunidade. A dignidade é sempre inalienável, antes de ser reconhecida. Não há procuração civil ou mandato político que confira a dignidade de alguém a outrem.
 
Coisa diferente é o dever de interpretar e defender a dignidade dos outros perante uma ofensa. Não perante uma confissão. Qual foi o português agredido pelas declarações do Sr. Junker?
Quem é Portas, Passos, ou Costa, para se indignarem ou exultarem com o Presidente da Comissão Europeia, em nome da minha dignidade, em nome da dignidade de cada português?
 
Quem são Portas, Passos, ou Costa, para tomarem nas suas mãos o poder de refutarem ou consentirem uma contrição, a cada um de nós e a Portugal inteiro? Quem assim procede, atirando a questão para o relvado político-partidário, em vez do respeito de devolve-la a todos e a cada um, é indigno de abrir a boca.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Europa - o tempo é breve

 
Parece que não há maneira da nomenklatura europeia perceber que, quer chegue a acordo com a Grécia, quer não, vai ficar a perder.
 
Com acordo, a UE perde menos. Sem acordo, os danos tornam-se incontroláveis para a Europa inteira.
 
Faltam políticos capazes de ver largo e longe, em vez de comissários que só conseguem ver ao perto e estreito.
 
A esta hora, o problema já não é uma questão de engenharia financeira, de execução de um programa de assistência, ou sequer, de uma nova adenda, com um plano específico de apoio ao investimento. É política. É geopolítica. São razões dos Estados soberanos. São razões da União Europeia. 
 
A esta hora, o problema é que os céus da Europa já estão cheios de abutres.
 
P.S. 
O reembolso antecipado de Portugal é uma boa notícia. Mas uma Maria Luís frígida com Varoufakis não fortalece a posição portuguesa e cava mais fundo sobre o estado de necessidade grego. É triste.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Saúde - tolice sobre a desgraça alheia

A propósito do acordo que o Governo celebrou com o Infarmed e a Gilead para comparticipar os medicamentos dos doentes com hepatite C, vimos por aí um esdrúxulo deputado da maioria escrever um post em que se diz "emocionado" com a notícia.
 
Não se bastando com excitação do momento, este mandatário, especialista em saúde, avança, jubiloso, com um “sentido abraço solidário a todos”, para depois rematar, triunfante, na “certeza que hoje acordaram com um enorme sentimento de esperança no futuro”.
 
Era bom que alguém dissesse a este infeliz babado que o dever não se adorna. Cumpre-se. E que o respeito pelos doentes não se proclama. Exerce-se. E que é de péssimo gosto não ter sobriedade nem discrição perante dramas humanos em que o Estado é convocado por obrigação.
 
O Sr. Deputado Baptista Leite não deve ter noção de nada disto, ou não vinha com uma prosa que é de dar vómitos a um porco.