segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 de Abril, apesar de Marcelo

Apesar da frescura do novo Presidente da República, o 25 de Abril tem de se "reinventar". Mais no ideário que na forma, porventura.
 
Nasci dois dias após a Revolução, precisamente. Desde sempre que tive a sorte de saber o que foi a I República e o Estado Novo. Tal como o período do fervor ideológico dos anos 70, desde a aurora democrática até à revisão constitucional de 1982.
 
Daí para cá, a nossa história colectiva é também a da minha vida e da minha geração. Sabemo-la de cor. Contamos muitos Abris somados. De testemunhos, sonhos, ideias, discursos, evocações, homenagens, realizações, circunstâncias e pessoas. De um País que conheceu nestes anos uma aceleradíssima mudança, não apenas política mas também sócio-económica e cultural.
 
Abril mudou Portugal. Passados mais de 40 anos, queremos que Portugal mude Abril. Não aquilo que foi conquistado, aquilo que foi conseguido ou aquilo que está realizado. Mas aquilo que está subvertido, que está incumprido, mais o imenso que falta fazer.
 
Claro que é a qualidade da democracia (a formal é uma falácia) e o bem-estar social (a ruptura mais que iminente do Estado Social) que estão principalmente em causa!
 
Uma sociedade onde, muitas vezes, os poderes de facto se sobrepõem aos poderes legítimos, de direito, é uma sociedade de medo. Que mete medo.
Uma sociedade que atira os velhos a um canto e nada garante aos novos, é uma sociedade sem esperança. Que exaspera e desespera.
Uma sociedade onde um quarto da população está em risco de pobreza ou exclusão, mais que uma sociedade injusta, é um barril pólvora, com tantas desigualdades.
 
Hoje, fez o tal "dia inteiro e limpo": nas praças, esplanadas e lugares à beira-mar. Não no Parlamento, onde, por exemplo, vimos uma deputada do PSD ir à tribuna bradar contra a "indiferença" e apelar à participação cívica, enquanto nas bancadas do hemiciclo podiam ver-se clareiras com cadeiras vazias.
Sou por Abril, sim. Aquele que falta. O da República que falta regenerar. O do Estado que falta reedificar. O da justiça social que não brota nem do assistencialismo gauche nem do liberalismo nouveau riche.
 
Os povos e as comunidades, tal como as pessoas, têm identidade, possuem traços genéticos. Têm raízes e não são imunes a determinantes externas. Trabalhemos, pois, todos e cada um, por fazer mais e melhor a partir de nós mesmos. Como somos, com aquilo que temos, que sabemos e que somos capazes.
 
Cumprir Abril será agora, primeiro que tudo, encontrarmos soluções próprias para os nossos problemas concretos. Portugal, todo ele, merece uma agenda própria. Ou não fosse a especificidade o traço comum que mais une os portugueses de toda a parte.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Les Enfants Terribles do PSD

Achei graça à entrevista que o José Eduardo Martins deu à Revista do Expresso. O novo "enfant terrible". Sê-lo-á. Para o Jornal. Não para o PSD, que conhece o "Zé Eduardo" há décadas, desde que começou a fazer carreira na JSD.
 
Curiosamente, com um itinerário e um estilo semelhante ao de Pedro Passos Coelho. Talvez com três diferenças. O José Eduardo não saiu da actividade política para ir fazer o curso. Chegou aos 40 anos com mais cargos políticos que Passos quando este foi eleito Presidente do Partido. Porém, o ex-Primeiro-Ministro, ao longo de muitos anos, foi "o desejado" na Jota, enquanto que o José Eduardo, também ao longo de muitos anos, foi mais "terrible" que "enfant", não recolhendo tanto afecto do povo laranja.
 
Contudo, no essencial, ambos são talentosos. Ambos são ambiciosos. Ambos são obstinados. Ambos são tácticos. Ambos são social-democratas na economia e liberais nos costumes. Ambos provêm de uma espécie de bloco de esquerda do PSD. Sim, "queques" nunca foram. Ambos são duros de roer. Ambos estão entre os melhores da sua geração. Com relativa vantagem para o José Eduardo, por ser mais culto e mais "fino", por preferir lampreia em vez de carne assada.
 
Digamos que no PSD alternativas não faltam...

sábado, 9 de abril de 2016

Sobre a demissão de João Soares

Claro que melhor fora que João Soares não tivesse dito aquilo. Claro que o excesso verbal causou desconforto ao Primeiro-Ministro e ao Governo. Claro que não é linguagem recomendável para um Ministro. Até aqui, tudo claro.
 
Todavia, do caso concreto para diante, não será assim tudo tão claro. Legítimo será questionar sobre qual dos males é maior para a sã convivência democrática. Se um desabafo sob forma de "post" no FB, ou se o desencadeamento, também no FB, de um grito gutural, a exigir a cabeça e o escalpe de um político, para gáudio de instintos bem mais bárbaros que a promessa de um tabefe.

Assim, a demissão do Ministro da Cultura só é adequada na medida em que constitua um acto edificante para o Estado de Direito Democrático. Mas nunca a "execução sumária" de um governante por "dá cá aquela palha".

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Exemplar

 
Acabei de ver há pouco Pedro Santana Lopes dizer que, caso estivesse em Belém, faria aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa está a fazer.
Esta humildade revela muito sobre a espessura que se exige a quem põe a ideia de "serviço" e "Bem Comum" em primeiro lugar. Exemplar. Assim, sim, a política vale a pena.

domingo, 3 de abril de 2016

Coroa de Espinho

Numa palavra, em Espinho, o Congresso do PSD está a ser de prazos e tácticas. Passos Coelho dá um ano de prazo ao Governo e ao PR. O PSD dá um ano de prazo a Passos. Isto, com as autárquicas no calendário.
 
Lá dentro, nada de novo. Esboço-se o "remake" daquilo que aconteceu há 20 anos, na JSD. A sucessão de Passos. De um lado, Jorge Moreira da Silva e outros. Do outro, os opositores de antanho: Pedro Duarte, José Eduardo Martins e outros. Curiosamente, outra vez, uns e outros, em tempo de fastio de poder, sob a batuta de Marcelo Rebelo de Sousa.
 
A táctica sobrepõe-se à convicção. Social-democracia, todos enchem a boca com a ideologia, mas é mais espuma que conteúdo. Discutem-se nomes, presenças, ausências, e putativos candidatos. Especula-se. É a vitória dos bitaites e das tribos.
 
É "poucochinho". Parece não haver quem ali apresente um modelo capaz de tirar o País da "geringonça" e propor aos portugueses um modelo que dê resposta a questões muito simples:
Social e economicamente, como é que vamos viver? Como vamos garantir a nossa identidade, enquanto comunidade nacional? Como é que Portugal deve colocar-se perante a Europa e o Mundo?
 
Não se trata de reinventar nada. Trata-se da refundar o sistema constitucional e político-partidário, criar um modelo económico-social novo, apontar para uma ideia de cultura própria, nossa, e convocar todos a dar mais e melhor à causa pública.
 
Até lá, este Congresso do PSD, continua a ser, para além da Troika e da saída de cena de Cavaco Silva, uma coroa de Espinho.
 
P.S.
Este post foi escrito ontem à tarde, antes da intervenção de Pedro Santana Lopes que, com rasgo e elevação, foi a "alma" do Congresso, metendo os pontos nos is. 
Antes também da intervenção final de Passos Coelho, já hoje, em que fez um discurso alto nível, parecendo ter acertado o passo enquanto líder da oposição.