Remodelar o Governo é passado.
Ou tinha sido depois da aprovação da Lei do Orçamento na Assembleia, ou entre o Natal e o Ano Novo.
Mas assim não foi e o que lá vai, lá vai.
Após a demissão de Relvas, caso esta tivesse sido antecipada uns dias, ainda talvez tivesse sido possível Passos Coelho ensaiar um novo fôlego e proceder a mexidas no Executivo.
Todavia, Passos tornou a teimar em fazer da teimosia uma qualidade. Errou.
Agora, conhecido o alcance do Acórdão do Tribunal Constitucional, é o Primeiro-Ministro e o seu seu seguidismo relativamente a Gaspar que ficam em causa. Não há remodelação que consiga a proeza de conquistar algum "estado de graça" para as pastas mais fragilizadas e para o próprio PM.
Por outro lado, importa notar nas mensagens subliminares dos últimos dias e horas, por parte do CDS/PP, até do PSD e sobretudo do Presidente da República. Este, nomeadamente, quando ontem disse que é a Assembleia da República que tem legitimidade para causar a demissão do Governo, quando falava a propósito da Moção de Censura apresentada pelo PS.
Lemos aqui que o PR, por ele, "corria" com o Governo, mas que não o fará, deixando o encargo da "(des)confiança no Governo" à maioria no Parlamento.
Ora, chegados aqui, e uma vez que não se vislumbra uma alternativa credível da banda do PS, a que acresce que precipitar o País em eleições seria dar um passo em frente à beira do abismo, qual a saída que assegure um ânimo novo na governação, tanto cá dentro como perante as entidades e instituições externas, garantindo, simultaneamente, estabilidade política?
Pedro Passos Coelho tem de perceber que chegou ao fim desta linha e não tem mais condições para governar.
Vai fazer o quê?
Inverter a orientação política e dizer que se enganou?
Vai chegar "lá fora" e dizer que agora "bate o pé"?
A única saída que vemos, portanto, passa pela demissão do Primeiro-Ministro e, com ele, todo o Governo, levando os partidos da Coligação a Belém um nome indigitado, para que seja empossado Chefe do Executivo e apto a formar um novo Governo de imediato.
Para isso é necessário que Passos Coelho tenha sentido de Estado bastante para "resignar" e que, o PSD como o CDS/PP se entendam, tanto no interior das respectivas máquinas partidárias como na correlação de forças entre as duas forças partidárias.
Ao ponto a que as coisas chegaram, não vemos, pois, outra saída "limpa" que não seja esta, com a vantagem de Portugal poder virar a página da sua condução política em estabilidade, com as instituições a funcionarem sem solavancos insanos.
Caso assim não seja, ao menos haja alguém que diga a Passos Coelho que vai passar a ser o "três em um" aos olhos dos portugueses: o Passos, o Gaspar, e o Relvas.
É uma cruz demasiado pesada para um homem só, e o PSD, que sempre gostou de heróis, fica aterrorizado, de cabelos em pé, só de pensar em anos de calvário.
Basta pensarmos em Marco António Costa quando, ao que se diz, em 2011 virou-se para Passos Coelho e terá dito qualquer coisa do género, "ou tiras de lá o Sócrates, ou tiramos-te a ti de líder".