Ensinaram-me
desde pequeno que as listas devem pautar-se por um mínimo de equivalência no
quilate, desde o primeiro efectivo ao último suplente. Que os chamados “verbos
de encher”, ainda que em posições menos cimeiras, são nefastos às candidaturas.
Embora cientes, na hora de votar, nem sempre observámos esta regra. Por
exemplo, quando a importância de eleger o cabeça de lista a um órgão executivo
sobrepôs-se ao resto. Aqui, a consciência falou mais alto que a ciência.
Adiante.
Nas eleições deste Domingo está em causa eleger deputados ao
Parlamento Europeu, ponto. Não pode dizer-se que os candidatos sejam todos
“umas estacas”. Cruzando as listas, aqui e ali, vemos gente de reconhecida
capacidade. Mas esses, à partida, estão eleitos pelos fiéis militantes. Depois
de uma campanha medíocre, feita de muita tolice, saloiada e episódios para
desanimar, a questão põe-se entre ir ou não ir votar. Vamos votar. Mas se o
voto é o direito/dever mais sério da democracia, é um bem demasiado importante
para ser endossado com ligeireza, como quem faz like num post engraçado
do Facebook. Sobra uma única alternativa. Usar o voto como “arma pacífica”. Nas
últimas europeias, em 2009, foram apurados 165.830 votos em branco, o
equivalente a 4,65%. Nestas eleições, não será de espantar que esse record seja batido.
Está-se mesmo a ver o
início da noite eleitoral. Os porta-vozes dos partidos aparecem, com aquele ar
entre o esforçadinho e o contrito, saudando os portugueses que foram às urnas,
salientando a normalidade cívica com que o sufrágio decorreu, reafirmando ainda,
outra vez, juras antigas, sobre a necessidade de uma ampla e profunda reflexão
sobre as causas do elevado grau de abstenção. Depois, segue-se o tradicional corso
de encavalitar, na altura das “leituras dos resultados”. Mais tarde, já com
outra cara, os eleitos festejam... e vão às suas vidas. Afinal, “é tudo malta porreira”.