sexta-feira, 23 de maio de 2014

Tudo malta porreira

 

Ensinaram-me desde pequeno que as listas devem pautar-se por um mínimo de equivalência no quilate, desde o primeiro efectivo ao último suplente. Que os chamados “verbos de encher”, ainda que em posições menos cimeiras, são nefastos às candidaturas. Embora cientes, na hora de votar, nem sempre observámos esta regra. Por exemplo, quando a importância de eleger o cabeça de lista a um órgão executivo sobrepôs-se ao resto. Aqui, a consciência falou mais alto que a ciência. Adiante.
 
Nas eleições deste Domingo está em causa eleger deputados ao Parlamento Europeu, ponto. Não pode dizer-se que os candidatos sejam todos “umas estacas”. Cruzando as listas, aqui e ali, vemos gente de reconhecida capacidade. Mas esses, à partida, estão eleitos pelos fiéis militantes. Depois de uma campanha medíocre, feita de muita tolice, saloiada e episódios para desanimar, a questão põe-se entre ir ou não ir votar. Vamos votar. Mas se o voto é o direito/dever mais sério da democracia, é um bem demasiado importante para ser endossado com ligeireza, como quem faz like num post engraçado do Facebook. Sobra uma única alternativa. Usar o voto como “arma pacífica”. Nas últimas europeias, em 2009, foram apurados 165.830 votos em branco, o equivalente a 4,65%. Nestas eleições, não será de espantar que esse record seja batido.
 
Está-se mesmo a ver o início da noite eleitoral. Os porta-vozes dos partidos aparecem, com aquele ar entre o esforçadinho e o contrito, saudando os portugueses que foram às urnas, salientando a normalidade cívica com que o sufrágio decorreu, reafirmando ainda, outra vez, juras antigas, sobre a necessidade de uma ampla e profunda reflexão sobre as causas do elevado grau de abstenção. Depois, segue-se o tradicional corso de encavalitar, na altura das “leituras dos resultados”. Mais tarde, já com outra cara, os eleitos festejam... e vão às suas vidas. Afinal, “é tudo malta porreira”.