quinta-feira, 29 de setembro de 2011

100 dias - de "alta velocidade" a "velocidade elevada"


No último debate quinzenal do mês, António José Seguro dizia que ao fim de 100 dias o Governo acordou para a economia. Em parte, é verdade. Na Segunda-feira passada, o Ministro Álvaro, entre outras medidas, vez eco ao anunciar que em vez de TGV de Sócrates, agora vamos ter duas linhas de "bitola europeia", uma de Sines a Madrid e a outra de Aveiro a Salamanca, com a diferença do projecto ter sido reformulado com aproveitamento dos fundos europeus já alocados e aprovação de Bruxelas.  É uma boa notícia que, entretanto, em pouco mais de 48 horas, como que se desvaneceu, tal é o ritmo da agenda e das notícias que se sucedem.

Esta imagem, em sentido figurado, ou talvez nem tanto, retrata bem o que foram estes 3 meses de Governo. 3 meses que parecem muito mais tempo, pois a sensação que temos é que os 6 anos de Sócrates pertencem a um passado bem mais distante, quando, na realidade a Executivo de Passos nasceu este Verão. Para já, e ainda que com críticas pelo meio, a nota é positiva.

Daqui e 100 dias vai parecer uma "eternidade" e com o Orçamento Geral do Estado aprovado e  muitas medidas anunciadas já sob forma de letra de lei, veremos se o Governo mantém a agulha em velocidade elevada, pois isso significará que a 250 km à hora é possível suster a respiração e atravessar a rebentação da onda que vem direita à praia no 1º Semestre de 2012.

Suspeitos não seremos, de certeza, pois nunca vimos em Pedro Passos Coelho um ás. Mas, por vezes, a mediania quando conjugada com bom-senso resulta profícua. Sinceramente, gostamos de ver o Primeiro-Ministro, na resposta a Francisco Louçã sobre as contas da Madeira e o plano de ajuste que se lhe seguirá assumir que no debate anterior tinha "falado demais".

Esta atitude, que, claro, faz as delícias mais janotas dos jornais, devia ser a pauta normal do debate democrático. 

Terá sido um dos gestos que mais apreciamos em Passos Coelho e o "episódio", em vez de gaffe, deveria ser encarado por todos como um sinal de que a nova política tem de romper com cânones do passado, como, por exemplo, aquela célebre frase do "nunca me engano e raramente tenho dúvidas".      


Quiçá ainda mal refeito das "partidas" que o "autarca" dos Açores lhe pregou a semana passada (nem de propósito, pois, de facto, parece oportuno convocar o Conselho de Estado em Outubro...), no rescaldo da entrevista a Judite Sousa quase todos viram em Cavaco Silva um Presidente mais predisposto a intervir, pese embora as nuances dos comentários, em função das diversas sensibilidades das forças que ouviram atentamente o Presidente da República. Uns a achar que o Chefe do Estado puxou mais pelo País, outros pelo Governo.

Nem uma coisa nem outra: o PR desta vez foi mais igual a si próprio e entendeu não só assumir-se como um referencial de ordem institucional, como também uma autoridade em matéria governativa, quer pela seu domínio da economia e das finanças, quer pelo seu conhecimento do contexto externo.

Todavia, há um aspecto que temos mais dificuldade em perceber: foi visível que o PR esteve mais "solto" do que noutras ocasiões, em que se esperava que "abrisse mais o livro".

Ora, porque será que Cavaco Silva, deliberada ou involuntariamente, passou a ideia que se sente mais "confortável" a falar de esferas executivas nesta Legislatura, por contraposição à anterior, com Sócrates em campo, onde, salvo a tal Mensagem de Ano Novo, da "situação explosiva" , não saia do defeso da "cooperação estratégica", mesmo quando, numa segunda fase, todos já viam ali apenas uma  "relação táctica"?  Passará a resposta pelo "pecado original" da posse de 2009 ao XVIII Governo, de minoria?