domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma chapada por causa da doutrina

 
Histórico do PSD/A Adolfo Lima diz que partido está "esvaziado de doutrina"
 
Adolfo Lima, ex-secretário da Agricultura e Pescas dos governos de Mota Amaral e um histórico do PSD/A, fez hoje uma intervenção bastante aplaudida no segundo dia de congresso, ao apelar ao partido para que "reconstrua" a sua doutrina. "O partido anda esvaziado de doutrina e ideologia e, sem isso, não há modelo, nem estratégia. O que nos distingue do PS? Nada" alertou... 
Fonte: Açoriano Oriental, 12.01.2013
 
Quando se realizou o XVIII Congresso Nacional do PSD de Santa Maria da Feira, em Março de 1996, António Guterres acabara de arrancar a vitória do PS nas legislativas nacionais, em Outubro de 95, ditando, assim, o fim dos 10 anos dos Governos de Cavaco Silva. O PSD não tornaria a voltar ao poder, excepto entre 2002 a 2005, até que o pedido de ajuda externa conduziria José Sócrates à queda, em 2011,com a ascensão de Passos a Chefe do Executivo. 
 
Nos Açores, aproximavam-se as legislativas regionais de Outubro/96, em que Carlos César haveria de levar o PS-A à vitória, quebrando o jejum socialista no Arquipélago e o ciclo dos 20 anos consecutivos dos Governos de Mota Amaral. O PSD-A não haveria de tornar ao poder. Até hoje.
 
Cruzei-me com Adolfo Lima nos corredores do Europarque de Santa Maria da Feira.
 
Com o «sangue na guelra» próprio dos 20 anos, disse-lhe que o PSD-A estava mal e que não ia longe.
 
Que alguns membros da estrutura dirigente do Partido percebiam muito de carreirismo mas não tinham qualquer ideário político, ou tampouco sabiam o significado de «social-democracia».

E apontei o dedo a um responsável regional que passava por perto, como exemplo de uma cabeça vazia de uma ideia que fosse.
 
Adolfo Lima não me permitiu tal atrevimento e disse-me, repetes isso e levas uma chapada!
 
Adolfo Lima não se lembrará do episódio.

Jamais terá imaginado o quanto aquela «cena» me marcou.

Em Fevereiro de 1999, na Madalena do Pico, logo na primeira e das escassas vezes em que consegui assento no Cogresso da JSD-A, apresentei uma Moção Sectorial, intitulada «Saber quem somos».

Abordava precisamente a questão da «social-democracia», apropriada que parecia estar por Guterres e César, inspirados pelos ventos da «terceira via», alimentada na Europa por Tony Blair.

Pouca sorte... entre montes de moções sectoriais, todas aprovadas por unanimidade, a minha foi a única a ser rejeitada, com não sei quantos votos contra, umas quantas abstenções e um voto a favor, o do proponente... o Congresso terá querido rejeitar mais o subscritor do que a Moção, nem que para isso tivesse de deitar pela borda fora a reflexão ideológica proposta.  

Depois, no primeiro e último Congresso do PSD-A em que participei, em Ponta Delgada, corria o mês de Novembro de 2003, citei Adolfo Lima na minha intervenção, que na véspera fizera um discurso notável, recordo.
 
Entretanto, das vezes que reencontrei Adolfo Lima, conversamos sempre amistosamente sobre vários assuntos, que não o PSD...
 
Mas verdadeiramente em paz com Adolfo Lima, só me senti hoje, quando li a notícia do Açoriano Oriental, passados muitos anos sobre o tal Congresso de Santa Maria da Feira.

1 comentário:

Inez Dentinho disse...

Espero que Adolfo Lima leia este texto.