A crise que o País e a III República atravessam, cujos
expoentes máximos são a assistência financeira da Troika, o colapso iminente da
coesão social, e o espectro do bloqueio jurídico-constitucional e
político-partidário a que temos assistido, tudo isto está a mexer com as
estruturas da sociedade portuguesa e os alicerces do regime.
Indo directamente ao assunto que aqui queremos tocar, é
hoje evidente que os partidos políticos que temos não servem e que tanto a
condução político-administrativa do Estado como as respostas para os novos
problemas da nova realidade social não podem ser-lhes confiados por muito mais
tempo.
Caso a presente Legislatura chegue ao fim, ou a
comunidade nacional consegue alavancar um novo ânimo numa regeneração que é
imperativa, ou estaremos perto do terceiro-mundo, que há muito pensávamos ter largado.
Há uns pares de anos, quando já existiam sinais
fortíssimos da degenerescência a que os partidos chegaram, não havia
praticamente ninguém que entendesse «haver espaço» para o aparecimento de novas
forças políticas, especialmente na área denominada de centro-direita.
Hoje já não é assim. Começam a fazer-se ouvir sem
tibiezas nos media várias vozes sonantes, (algumas, inclusive, de venerandos «senadores»
da República), apontando para a necessidade urgente de uma reconfiguração
formal e qualitativa do nosso leque partidário, assim como para a premência de
uma clarificação do sistema de governo, entre outras alterações em matérias
chave da democracia.
Mas aquilo que merece mais atenção é outro aspecto:
Os cidadãos despertaram para o problema e a sociedade
civil, se bem que divorciada da actividade política, deixou de estar apartada
de acompanhar a actualidade, sendo agora notório um grandíssimo
descontentamento com os partidos. Basta vermos como é que o País entendeu a
comunicação do Presidente da República, para que o PS, PSD e CDS se
entendessem, e de que «lado» estava o «Portugal profundo».
Para apertar esta tenaz, notemos o seguinte:
De há muitos anos a esta parte, quando muda a cor
política da governação, a ideia dominante é que não é a oposição que ganha as
eleições mas sim o governo que as perde. Andamos nesta espiral rotativista há
muito, e as pessoas não têm votado no PSD ou no PS por «convicção», mas para
«tirar de lá» este ou aquele.
Ora, toda a gente sabe que o PSD ganhou as Legislativas
em 2011, não por Passos Coelho e o a sua equipa constituírem uma opção
deliberada, mas pelo facto do eleitorado ter querido, deliberadamente, «correr»
com José Sócrates e o PS.
O problema é que em 2 anos o PSD e o CDS já desbarataram
todo o capital que tinham e os portugueses não querem eleições apenas porque
consideram António José Seguro pior. E é!
Donde, em 2015, se não for antes, a maioria do
eleitorado, ainda que mudem as lideranças, vai ser confrontada com esta coisa,
muito simples:
Não «vai dar» para acreditar mais no PSD/CDS, como não
«vai dar» para acreditar mais no PS, de modo a que uns ou outros alcancem uma
maioria para governar.
Sem contarmos aqui, propositadamente, com a saída de
cena de Cavaco Silva, (e as fracturas que as Presidenciais de 2016
provavelmente abrirão), 40 anos sobre o 25 de Abril teremos reunidas condições
para emergir uma nova força política em Portugal.
Passará «por cima» do PS, do PSD e do CDS, e irá buscar
a sua força ao espaço sociológico da troika formada pelos partidos do «velho
arco governativo». Esse fermento, uma vez na rua, não deverá deixar de crescer.