Subscrevendo a maior parte do que foi dito sobre Eusébio,
ontem, já ao fim da noite, numa conversa sobre o modo como decorreu o último “adeus”,
ouvi uma Senhora dizer isto:
«Acho que o povo
anónimo, como eu, em primeiro lugar, devia rezar por ele. Depois, devia sair à
rua e prestar-lhe homenagem, por ter conseguido erguer bem alto o nome de
Portugal, engrandecendo-o… foi por isso que, apesar da chuva e ser do Sporting,
na hora de almoço fui à Baixa e juntei-me às pessoas que estavam na Praça do
Município...».
Estas palavras, bem medidas, suscitam uma breve reflexão quanto à
publicidade das exéquias, transmitidas em “canal aberto”. Um aspecto
só aparentemente de somenos no calor daquela onda de comoção.
O assunto abarca várias questões de fundo, sobretudo
relativas a um código não escrito que tradicionalmente existia no
jornalismo e dá mostras de ceder. Concorre agora com o carácter instantâneo,
sem filtro, das redes sociais e plataformas digitais, onde, por seu turno, começam a
adoptar-se códigos de conduta. A espiral torna-se inevitavelmente complexa, para mais
tratando-se, no dizer dos media, de
um “funeral de Estado”.
Por um lado, a figura que desaparece é “património de
todos”, irmanando Portugal, a Portugalidade e o Mundo. Por outro lado, o extinto não é uma “coisa”. Transporta uma esfera
de “pessoalidade”, cuja honrosa memória e dignidade da Família precisam da cautela de um último reduto de intimidade e recato, que só certos momentos
de discrição e privacidade permitem.
Entendendo-se que a exposição do féretro em câmara ardente
de figura pública tão popular, ou que a transmissão televisiva da sua descida à
sepultura "é normal”, deixa de haver “limite”. Corre-se o
risco de abrir a porta a um grau de “desumanização” contrário à grandeza da
homenagem.
Isto, para nem falarmos da segunda figura do Estado fazer declarações públicas, sobre contas, ainda o enterro não terminara…
Isto, para nem falarmos da segunda figura do Estado fazer declarações públicas, sobre contas, ainda o enterro não terminara…
Afinal, a última vontade de Eusébio, com a humildade que o caracterizava e a
genialidade que o notabilizou, era só uma: que lhe fosse
permitida uma volta ao seu Estádio da Luz.
Que descanse em paz. Vitorioso. No esplendor da luz perpétua. Com os holofotes no lugar certo.