Não recuando mais que ao advento das Autonomias, por referência aos dois arquipélagos portugueses, era comum dizer-se - "Os Açores e a Madeira". De há uns anos para cá, foi-se tornando habitual ouvirmos as Regiões Autónomas serem referidas como - "A Madeira e os Açores". Mero detalhe, de somenos? Talvez sim, ou talvez não...
Visto do Continente, dá a sensação que as tão propaladas deformações do sistema, tais como asfixia democrática, nepotismo, controle da administração regional sobre a sociedade civil ou descontrole das contas públicas, entre outros desmandos, são realidades próprias da Madeira e do Porto Santo.
Deste modo, os Açores parecem ganhar na inevitável comparação, pois, segundo se diz, aqui a democracia funciona, há pluralismo, a sociedade civil manifesta-se genuinamente, e, imagine-se, a aplicação dos dinheiros públicos, melhor administrados, é mais eficaz e transparente.
A explicação para essa vantagem comparativa dos Açores funda-se principalmente no argumento de já ter havido alternância governativa entre os maiores partidos, e no facto de quase todas as câmaras municipais já terem mudado de mãos.
Tal análise é demasiado baça. Desatende um dado crucial, que é a dispersão geográfica, por 9 ilhas divididas em 3 Grupos, pulverizar pequenos poderes, enfraquecendo um tanto a força centrípeta da cadeia de comando. Ou seja: enquanto que na Madeira temos, por assim dizer, uma hegemonia de partido único, nos Açores a hegemonia é do bloco central de interesses, só quebrada, num ou outro caso, por equações que escapam à lógica regional.
Só assim se explica que nos Açores nunca alguém tenha esticado a corda relativamente à mais que necessária auditoria às contas da Região, pois também não há-de convir que certas autarquias sejam devidamente escrutinadas administrativa e financeiramente.
Resultado:
Como que por ironia do destino, disse-o o Ministro das Finanças em entrevista a José Gomes Ferreira, as contas da Região Autónoma da Madeira vão ser auditadas, ainda antes das eleições regionais de 09 de Outubro próximo.
Quanto aos Açores, cujas eleições só se realizam em finais de 2012, pela bonança que se vê, ficamos com a impressão de que o deficit da administração regional e do subsector público, a existir, será apenas de uns trocos... o facto é que também esta Região se prepara para solicitar o seu "Programa de Ajustamento"... ora passem lá as contas dos Açores a pente fino, a ver se o equilíbrio açoriano está mesmo imune a parasitas.
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