foto: Sol
Nesta Semana Santa, tivémos indicadores internos dolorosos, que tanto o Governo como o maior Partido da Oposição logo haviam de agudizar, ambos com escorregadelas, típicas de um certo desvario, que a ninguém deixa tranquilo, isto, como se não nos bastassem as nuvens de chumbo que se adensam, para cá e para lá dos Pirinéus. Parecia-nos, portanto, difícil de «colar» o «discurso da esperança», amiúde invocado nos mais diversos púlpitos.
Esperança, mas como?
Se a informação com que somos «bombardeados» está prenhe de abismos, e se quem devia «alumiar», (não nos referimos apenas aos políticos, mas a toda a «classe dirigente»), os primeiros, sobre quem recai o especial «dever de exemplo», comportam-se demasiadas vezes como se não medissem as responsabilidades em que estão investidos? Como se não fosse de esperar deles a abertura de novos caminhos?
António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ao convidar para a inauguração do último troço do Túnel do Marquês os antecessores no cargo António Carmona Rodrigues e Pedro Santana Lopes, com um gesto, demostrou elevação e deu um óptimo exemplo de como «deve ser».
Foi muito digno ver três personalidades, com estilos, percursos e posições diferentes, aparecerem conjunta e cordialmente num acto que assinala uma melhoria para a cidade que a todos (re)une.
Foi também bonito verificar um tal senso de gratidão e partilha, pelo empenho que cada qual, a seu tempo, depositou na realização agora completada.
Não nos escapou um pequeno detalhe na peça da SIC/Notícias, que vimos:
O primeiro condutor a passar ali, após ter recebido uma lembrança do Presidente da Câmara, logo foi interpelado pelos jornalistas... é sabido que o trânsito é uma autêntica «dor de cabeça» para quem circula em Lisboa... antes que o jovem respondesse, logo atalhou, previdente, Pedro Santana Lopes, "hoje, só falamos de coisas boas".
Dir-se-á, «isso é nada». Nada, não. É a importância da cortesia do vereador da oposição para com aquele que mais está mais exposto à crítica, o responsável pelo órgão executivo. Ensinam os avós aos netos, «dizer Obrigado, não custa nada e fica bem». O debate, na hora do debate. A lealdade institucional, na hora da instituição.
Era bom que o País tomasse como exemplo a forma como a Câmara Municipal de Lisboa aqui procedeu.
A res publica precisa de gestos edificantes. A esperança, individual e colectiva, também. Para começar.