Vimos agora, através do YouTube, o discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal.
A intervenção foi longa e «à defesa», puxada ao centro. 42 minutos e 59 segundos, onde começou «assim assim», melhorou a meio, perdendo-se um pouco no fim, com aquela questão da falta de crédito e das razões que levaram a banca à crise financeira. Resultou num 3, na escala de 1 a 5.
Cinco notas ressaltam da mensagem do Chefe do Governo:
1) A ideia, amiúde repetida, de que não há outro caminho que não seja aquele que tem vindo a ser trilhado - não empurrar a dívida pública «com a barriga» para a frente e desonerar as novas gerações dos desmandos passados;
2) A preocupação, mais que evidente, em separar o PSD do Governo e a sociedade civil do Estado - quis ser mais o Primeiro-Ministro que o líder do PSD e da Coligação a falar, para «apagar fogos» e a ideia ultimamente acentuada dos favorecimentos clientelares e dos «jobs for the boys»;
3) O sinal político, expressivo, endereçado ao PS e aos parceiros sociais, de que está disposto a dialogar e a negociar - numa tentativa de restauro de um certo consenso político, também em nome da coesão social;
4) A muito americana «regra de ouro», colocando o debate na questão «mais despesa pública mais impostos versus menos impostos menos apoios estatais» - também aqui a puxar as três forças partidárias que subscreveram o Memorando com a Troika para uma concertação de esforços, a que a proximidade da discussão do OE/2013 não é alheia;
5) A tónica na «governação horizontal», pondo o Executivo entre um dos múltiplos agentes da resposta patriótica que a todos convoca - ao insistir que em momento de tão grande exigência os cidadãos também são responsáveis, pois o Governo não pode fazer tudo por todos a todo o tempo.
Dirão alguns que Passos deixou cair o «que se lixem as eleições», de antes das férias parlamentares, para recuperar agora o objectivo de chegar ao fim da Legislatura em condições de tornar a ir a votos.
Não cremos que seja bem isso.
Achamos Passos Coelho quis mais foi acertar o passo e «corrigir o tiro» naquilo em que o Governo tem estado mais frágil, por um lado. Por outro, declarando-se a 4/5 do «Cabo das Tormentas» de uma viagem com 1/4 de caminho percorrido, o PM quis fazer um discurso redondo, de modo a manter em aberto o mais amplo leque de opções possíveis, nada descartando... até a eventual necessidade de formação de um Governo de Salvação Nacional.