I - Henrique Monteiro, na sua crónica de hoje no Expresso, sugere um simples "exercício de Verão" que toca no essencial.
Pega no generation gap português, interpelando sobre as tremendas responsabilidades da comunidade nacional para com as gerações mais novas, como quem diz, "Que terra e que legado vai deixar a geração que sonhou em 1974 e prosperou a partir de 1986 às gerações seguintes, para quem o futuro parece hipotecado?".
De facto, a nossa «classe dirigente», como costumamos dizer, (incluíndo aqui não só a classe política mas todos aqueles que têm algum poder de decisão, tanto no sector público como privado, bem como nas instituições de natureza social) deveria ter sempre em mente que o melhor critério de decisão para cada assunto passa, invariavelmente, por acautelar o mínimo de ónus possível para quem vier a seguir.
O exemplo das PPP´s será a melhor caricatura de algo que nem por sombras se resume a planos de pagamentos dilatados no tempo, como também tem muito de intangível, a começar no ensino e a acabar no conceito de comunidade, perdido entre Quadros Comunitários de Apoio, derrapagens orçamentais, euro, déficits, regates e Troikas.
Feitos os diagnósticos e agora mais cientes do horizonte de obrigações que Portugal tem pela frente (com a necessidade de «cortar nas gorduras» pelo meio, a questão é esta: como ganhar «massa muscular»? Isso, Henrique Monteiro não diz. Mas suscitar a discussão conduz mais perto do essencial.
II - Na mesma edição, no espaço «Opinião», João Bosco Mota Amaral usa da pena para uma refexão muito séria sobre a crise económica e social que atravessa a Europa, alertando, com todas as letras, para a possibilidade mais que iminiente de desintegração da união política.
É muito significativo e revelador que este «Senador» venha fazer um apelo tão gritante a que se mobilizem "os nossos melhores recursos humanos... antes que seja tarde!"
Bem pode dizer-se que as duas mensagens ínsitas às citadas peças, de Henrique Monteiro e Mota Amaral, acabam por confluir e, mais importante, afiguram-se-nos como desafios da maior grandeza, a que ninguém cidadão responsável poderá ficar indiferente ou alhear-se.
Resta saber se a «corrente» que se desenha é estival, ou se mais vozes autorizadas irão engrossar um caudal de legítimas e urgentes preocupações, a fim de desaguarmos numa Primavera de respostas, com aqueles que sintam o apelo ou sejam convocados para a missão patriótica de erigir a IV República e garantir Portugal.