É costume dizer-se que as pessoas morrem do modo como vivem.
Margarida Marante, densa e intensa, atraiçoada precocemente pelo coração na Sexta-feira passada, foi este Domingo a enterrar, entre públicos e plúrimos elogios ao seu enorme talento, que desde muito cedo conquistou respeito e admiração geral.
Mas Margarida Marante foi mais longe que isso, e tornou-se numa das figuras mais autorizadas do Portugal democrático, ainda antes do aparecimento dos canais privados de televisão.
Ao contrário de muitos, assumindo a sua matriz ideológica e as personalidades políticas que a entusiasmaram, nem assim algum dia houve quem pudesse acusá-la de não cumprir a sua missão de serviço público à frente das câmaras da RTP.
Para o momento da partida da jornalista, o destino reservou as suas ironias:
Num fim-de-semana em que a III República, em estertor, apareceu virada do avesso, por um lado, e em que a SIC, por outro, comemorou 20 anos de «revolução na informação» - pelejando agora contra a privatização da RTP - o desaparecimento de Margarida Marante logo havia de coincidir com estas duas datas, sinais de fim de ciclo.
Não há-de ser por acaso que na sua última despedida, Margarida Marante tenha conseguido juntar tantos protagonistas dos media e da política, a que se juntaram muitos anónimos, ou não fosse também ela querida dos portugueses.
Associamo-nos aos votos de pesar expressos pelo País, e num tempo em que os cidadãos parecem irremediavelmente dissociados da causa pública agradecemos ainda a Margarida Marante por ter prendido desde cedo a nossa atenção, ajudando-nos a pensar, e a intervir também.