quarta-feira, 27 de março de 2013

Grande lamaçal



Quando se soube que José Sócrates iria fazer comentário político na RTP, não entrei na onda de protesto que se gerou, a qual, embora compreensível, pensando com frieza, não deixou de ser uma manifestação emocional um tanto primária.
 
Achei, pois, que José Sócrates tinha todo o direito em aceitar o convite da RTP, e que era legítimo que quisesse defender-se do «diabo» em que se tornou.
 
Aliás, pensando políticamente, os adversários de Sócrates erraram em irritar-se tanto com o seu regresso.
 
O José Sócrates de hoje, visivelmente ainda muito ferido, revelou-se pior do que aquele que partiu para Paris em 2011.
 
Disse que vinha exercer o contraditório.
 
Que excelente oportunidade agora, com Sócrates cá, para dar-lhe réplica e vencê-lo do modo mais leal e democrático. Olhos nos olhos, ponto por ponto.
 
O problema é este:
 
O abismo ou a regeneração de Portugal não passam por José Sócrates.
 
O ex-Primeiro-Ministro vai provocar uma coisa. Enlameado, também vai enlamear.
 
No fim, os portugueses vão repartir as «culpas», e vão achar que Cavaco Silva, Passos Coelho, António José Seguro e José Sócrates são iguais, pois todos eles estão enredados no mesmo novelo.
 
Ora, isto é que é preocupante. Assustador.
 
No fim da legislatura, ou antes, o sistema, já bastante bloqueado, mais bloqueado vai estar.
 
Todos os principais protagonistas, a que agora se junta Sócrates, fazem parte do passado.
 
Depois de Sócrates ter sido afastado pelos portugueses em eleições para dar lugar a Passos Coelho, será que os portugueses vão querer repetir a dose, afastando agora Passos Coelho para substituí-lo por António José Seguro ou outro possível líder do PS?
 
O epifenómeno Sócrates na RTP vai agudizar a percepção que o PS e o PSD são a mesma coisa, pelo que ambos merecem castigo. Um por ter sido o seu «carrasco». O outro por ter sido o seu «coveiro».
 
Como a solução não virá nem do PCP nem do BE, e o CDS/PP está amarrado ao destino do Passos Coelho, se os partidos não se reinventarem rapidamente, agora, sim, vem aí um grande pântano, com as forças políticas do arco da governação ainda mais atoladas.
 
Quem quiser inovar, terá de demarcar-se, passando por cima deste grande lamaçal.