Antigamente, muito antigamente, quando os velhos
estavam no fim da vida, os filhos pegavam neles e iam deixá-los a um local
distante, ermo e inóspito, a fim dos pais ali morrerem.
Era a forma de se libertarem dos velhos que, uma vez
inválidos, já não podiam contribuir para o sustento da casa, tornando-se, pois,
um fardo para toda a família.
Uma vez, um velho estava para morrer. Nada mais
havendo a fazer, o filho pegou nele e foi levar seu pai ao tal local, para que
ali aguardasse o fim.
Quando lá chegaram, o filho pousou o pai sobre um
colchão de junco e ao despedir-se compadeceu-se dele. Então, para não se sentir
tão mal, tomou a manta de lã em que levara o velho envolto e disse-lhe: “Pai,
vou cobri-lo com esta manta, para que passe menos frio.” Ao que este respondeu:
“Não. Corta a manta ao meio e deixa-me só metade. A outra metade, leva-a para
casa e guarda-a, para o dia em que o teu filho vier trazer-te aqui”.
Mal terminara o velho de dizer aquelas palavras, o
filho, lavado em lágrimas, não suportando ouvir tal veredicto do ancião, tornou
a agasalhar seu pai, pegou nele outra vez ao colo e trouxe-o de volta a casa,
novamente para junto da família.
Daí em diante, nunca mais ninguém foi levar nenhum
velho ao tal local distante, ermo e inóspito, e todos passaram a morrer
assistidos em casa, com as famílias em redor.
Moral da História:
Ainda
jurista ou algum político soube explicar-me o que é a solidariedade
intergeracional tão bem como o meu Avô. Ouvi ontem o PM… bem me parecia que o
Governo, vendo-se impotente, considera os velhos descartáveis. Tal como
antigamente, muito antigamente.