quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Francisco Sá Carneiro


Sobre Francisco Sá Carneiro, desde há 34 anos a esta data, já quase tudo foi dito. Já quase todos o evocamos. Já quase todos o homenageamos. Já quase todos contámos alguma história nossa que tão marcante político, advogado e estadista nos tenha marcado. Também já quase todos, alguma vez, já invocámos o seu exemplo para justificar algum acto.
 
Ao longo destes anos, sobretudo por ocasião do 04 de Dezembro, 06 de Maio e 19 de Julho, sucedem-se livros, filmes, sessões, memoriais,... testemunhos, citações e passagens alusivas àquele que foi o católico entusiasta do Concílio Vaticano II, o advogado das liberdades, o destacado deputado da Ala Liberal, o fundador do PPD, o político desassombrado, o estadista visionário e o português amante da Vida.
 
Ao fim destes anos, salvaguardando a comunhão com o passado, olho agora para Francisco Sá Carneiro numa perspectiva diferente. Ao contrário de uma “figura divina”, ante a qual nos apagamos, mais proveitosa é a mensagem do arquitecto da social-democracia portuguesa enquanto incentivo a sermos mais “nós”, irmanados matricialmente na fonte, porém diferenciados na prossecução actual de um ideário, geneticamente reformista.
 
Pegando nesse mote, importa, pois, novamente, clarificar. É imperativo dar lugar a uma verdadeira cultura mais democrática e mais pluralista. De maior união na diversidade. De maior responsabilidade na liberdade. De maior compromisso na autenticidade. Com mais respeito pela individualidade. Com mais tolerância pela diversidade. Com mais ética na política. Se a ninguém custa convergir nas premissas, de ontem de hoje, urge que todos pugnem por maior conformidade entre aquilo que é dito e aquilo que é feito.
 
Compreende-se que a imagem de Francisco Sá Carneiro surja mais associada ao PSD, que fundou. Redutor seria, contudo, que o PSD dela se apropriasse, em círculos tão herméticos quanto o enquistamento partidário actual, passados 40 anos, quando se verifica um acentuado desvirtuamento do “método”, sobrepondo-se aquilo que é instrumental àquilo que é essencial.
 
O PSD, hoje, não é “sá-carneirista”. Como, desde o primeiro dia, não o foi, várias vezes, no passado. Tal como não está obrigado a sê-lo, no futuro.
 
O que o PSD não pode é mandar celebrar a Missa da Estrela, todos os 04 de Dezembro e sair de lá a bradar “Sá Carneiro”, sem olhar para trás e tentar perceber por que motivo andam tantos social-democratas apartados do Partido, tantos cidadãos indiferentes aos partidos, e tantos portugueses alheados da política, dimensão maior para o Bem Comum.