A uma semana das Eleições, por aquilo que se vê e o que nos dizem pessoas com quem falamos, ressaltam fenómenos interessantes e percepções curiosas:
- Pela primeira vez, desde há muitos anos, surgem contra-manifestações, como, por exemplo, a que aconteceu em Coimbra, a propósito do episódio das «Monumentais»;
- Embora se sinta uma atmosfera mais propícia à vitória do PSD, pela primeira vez e desde há muitos anos, a esta hora ainda persistem dúvidas entre as populações, não sobre se será o partido A ou B a conseguir maioria absoluta ou a ficar por lá perto, mas sobre qual dos dois ultrapassará o outro no final;
- Pela primeira vez e desde há muitos anos, há eleitores a dizer que“desta vez…” vão optar por um partido onde nunca votaram antes;
- Pela primeira vez e desde que nos recordamos, deparamo-nos ainda com pessoas que perguntam, “em quem é que eu hei-de votar?”.
Isto, conjuntamente com outros sinais, leva-nos a pensar que os eleitores estão mais atentos à actividade política, estão muito cientes da importância do seu voto, estão desprendidos das cores partidárias que se habituaram a sufragar, ainda que ultimamente sem especial entusiasmo, e sobretudo, no particular momento que o País atravessa, querem ponderar muito bem antes de confiar o seu voto.
Ora, se os resultados eleitorais não fossem por vezes permeáveis a variantes que escapam à mera lógica, dir-se-ia que se afiguram reunidos pressupostos bastantes para que no próximo Domingo haja uma mudança política em Portugal.
A consequência dessa mudança será a formação de um governo de coligação, entre os dois partidos de centro/direita, e essa viragem iniciará um ciclo em que os eleitores deixam de passar “cheques em branco” aos eleitos, passando a exigir aos titulares dos cargos políticos, na exacta medida em que o Estado exige aos contribuintes, e ainda na proporção do que as entidades externas exigem ao Estado Português.
Nestas eleições em especial, cada voto expresso será um autêntico “contrato sob condição” com o respectivo “fiel depositário”. Em caso de incumprimento, a penalização opera automaticamente. Acabou o tempo das desculpas, tanto para os do governo como para os da oposição.
Vem aí tolerância zero!
PS:
Oportuno será ainda fazer notar o seguinte, pois nas campanhas eleitorais há temas que se evaporam. Um deles, a já “velha” questão dos deputados e dos círculos eleitorais. Como os governos dependem da Assembleia, que é o órgão directamente eleito, os eleitores, quando preferem este ou aquele na governação, e assim decidem o seu voto, por vezes têm de “fechar os olhos” aos candidatos que integram as listas afectas a A ou B.
Sucede também o contrário: deixar de eleger como seu representante no Parlamento o candidato a deputado C ou D, pois ao caso o fizessem estariam a desperdiçar um voto para a solução de governo em que querem contar.
É por isso que muitos daqueles que seriam à partida bons deputados são excluídos, acabando, ao invés, por ir parar ao hemiciclo quem faz dos aparelhos partidários um modo de vida, e mais não pode que pagar a cadeira que ocupa a troco de um conhecido estatuto, que se não é equivalente “à mais velha profissão do mundo”, pelo menos de “mercenário” há-de ser, com toda a certeza.