A data 15 de Setembro de 2012 fica na História como o dia em que os portugueses, liderados por niguém, tão só pelo estado de necessidade, sairam à rua, em protesto contra o garrote financeiro imposto pelo empréstimo que o País foi obrigado a pedir aos credores externos (Troika), contra a injustiça nos critérios da escolha das medidas de austeridade (Governo), e ainda contra a classe política em geral (Partidos).
A maioria dos portugueses, incluindo-se aqui os manifestantes, acha que os compromissos do Estado face os credores são para cumprir e que Portugal deve pagar a dívida.
A maioria dos portugueses, incluindo-se aqui os manifestantes, acha que há outras formas de conseguir esses objectivos, pelo que a verdadeira motivação dos protestos está nos critério utilizados pelo Governo, a propósito do Orçamento Geral do Estado para 2013.
A maioria dos portugueses, incluindo-se aqui os manifestantes, acha que a classe política, tanto os do lado do governo, como os da oposição, não têm legitimidade para pedir mais sacrifícios aos cidadãos, nem são capazes, por si só, de oferecer alternativas, dentro de um Sistema profundamente corroído e em que os pilares das instituições democráticas estão «por um fio».
Quebrado o relativo consenso político, que durou desde a assinatura do Memorando de Entendimento entre PS-PSD-CDS, (seguido da formação de um Governo estribado na representação parlamentar destes dois últimos, com a desvinculação agora do primeiro), instalada a desconfiança entre os parceiros da Coligação que formou Governo, e arredada a possibilidade de outra das forças políticas poder «pegar no País», sobra, no limite, a paz social como o derradeiro dos bens que o 15 de Setembro, ainda assim, não hipotecou.
É por isso que os próximos dias, contando com a agendada reunião Conselho de Estado, são absolutamente decisivos.
Não se trata de salvar a III República, agonizante e perdida que está. Trata-se de apresentar outro Orçamento de Estado que, por um lado, acolha a mensagem da manifestação e, por outro, possa ser viabilizado, de modo a evitarmos a bancarrota.
É por isso que as maiores responsabilidades recaem neste momento sobre o CDS/PP, que tem de assegurar estabilidade política, sem deixar de ser consequente com as suas posições, as quais, em boa medida, são de acolhimento dos protestos dos manifestantes.
Mas não basta.
Antes que o poder caia definitivamente na rua e já nada surta efeito, o Primeiro-Ministro tem de remodelar o Governo. Por seu turno, o PS não pode posicionar-se «por arrasto». Precisa de explicar muito bem explicado o sentido do seu voto.
Trata-se de ganhar tempo? Sem dúvida. Ir agora para eleições seria «o fim».
Primeiro, é preciso que os portugueses sintam que o 15 de Setembro teve consequências, e que obrigou a mudanças palpáveis na condução política e económica do País.
Depois, é preciso que haja uma concertação social que dê um novo fôlego à governabilidade.
Por fim, urge que se desenhe e concretize um amplo movimento regenerador, de modo a dar fundada esperança aos portugueses, e que passa, no essencial, por apresentar ao País um Novo Programa, que contenha resposta para as maiores interrogações:
Quais os desígnios, qual o novo rumo, como é que Portugal vai passar a viver daqui em diante? O que se pretende, afinal?
Nesse dia, Passos Coelho, Paulo Portas e António José Seguro (e boa parte daqueles que os estão exercício da actividade política) podem ir às suas vidas.