As
eleições autárquicas do passado Domingo servem de mote a todo o tipo de comentários,
análises e estudos, à luz de uma leitura nacional dos resultados em que cada um
elege o prisma da sua afeição. Tanto assim é que vários protagonistas cantam
vitória.
O PS, a CDU, os Independentes, o CDS… até o maior derrotado, o PSD, consegue demonstrar por números que, contados todos votos expressos, e tendo por referência a votação dos socialistas, afinal, a derrota acabou por não ser tão pesada como parece, pois caso de eleições legislativas se tratasse António José Seguro estaria longe de obter uma maioria absoluta.
O PS, a CDU, os Independentes, o CDS… até o maior derrotado, o PSD, consegue demonstrar por números que, contados todos votos expressos, e tendo por referência a votação dos socialistas, afinal, a derrota acabou por não ser tão pesada como parece, pois caso de eleições legislativas se tratasse António José Seguro estaria longe de obter uma maioria absoluta.
Optamos por centrar o nosso olhar no PSD, eixo estrutural do sistema de
partidos, o parceiro maior da Coligação de Governo e historicamente a
organização política mais alicerçada no poder local.
1. O resultado do Porto é paradigmático. Há dois PSD´s: o das estruturas e o dos eleitores. O PSD dos eleitores está farto do PSD das estruturas. Se assim não fosse Rui Moreira não teria ganho a Câmara da Invicta. Tal como a maioria das vitórias nas 13 Câmaras Municipais onde ganharam listas Independentes resulte de dissidências, onde os eleitores social-democratas decidiram sacrificar o Partido;
2. Depois, descontando
o Porto, já falado, as derrotas do PSD nos maiores centros urbanos (sem
esquecer algumas «ilhas» dispersas pelo País, como Braga, Viseu, Aveiro,
Santarém, Cascais, Faro, Ponta Delgada), o PSD praticamente desaparece nas
Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, o que significa que, para além de
um voto de protesto ao Governo, o PSD tem muita dificuldade em criar
relações de confiança e de proximidade com os sectores mais dinâmicos da
sociedade, onde tradicionalmente tinha implantação;
3.Segue-se que na
distribuição geográfica da força laranja, o PSD é praticamente varrido a
Sul do Tejo, é afastado do litoral e fica muito encurralado no Norte
Interior. Com o agravante de ser quase expulso das Regiões Autónomas, que
durante décadas foram bastiões social-democratas.
Ora, estas três questões comprimem e exercem uma
força tenaz sufocante sobre um Partido geneticamente vocacionado para exercer o
poder e que, de repente, vê-se confrontado com a vertigem de um abismo enorme:
não caber dentro de si próprio.
Donde, é quase inevitável que seja irreprimível a
tendência para ajustes de contas e purgas internas, pulverizando, tal como na
representação geográfica, a consistência de um aparelho, cada vez mais
representativo de si mesmo, e o lastro ideológico-programático, cada vez mais
carcomido.
Tudo concorre para que o PSD, depois de 2015, seja
confrontado com um dos seus traços instintivos mais genéticos. A capacidade de
se regenerar para sobreviver, começando tudo de novo. Se assim não for, o risco
da implosão é cada vez mais real.
Nesta voragem partidária em curso, o outro maior
partido estruturante do sistema incorrerá num erro enorme caso entenda que vive
num mar de rosas. Não vive. O PS também vai ter o seu Porto.
Falta o tempo dos
portugueses se desiludirem com a maioria das 150 presidências de Câmara
conquistadas nestas eleições autárquicas, tal como com o Governo de Seguro,
Costa, ou outro, que há-de vir.