Durante muito tempo, foi a castanha. Depois, veio a batata que, juntamente com o trigo, eram essenciais. Isto, no Continente. Nas Ilhas, povoadas nos adventos quinhentistas, com as Descobertas, acabaria por ser, mais tarde, junto com o milho, o inhame.
Ainda no Século XX, fazia parte principal da alimentação de muita gente.
Ter ou não ter inhames significava, quase sempre, a diferença entre a abundância e a carência.
Até há meia dúzia de décadas, ninguém roubava, salvo alguns desgraçados, apontados por esse "vício". Estavam mais ou menos identificados. Os delitos, porém, não perturbavam a ordem e a harmonia social.
Quando alguém dava por falta de alguma coisa, os homens mais respeitados da freguesia, o regedor ou, em última instância, o Presidente da Câmara, sem alarido nem falar muito sobre disso, tratavam do assunto.
Por regra, chamavam fulano, mais beltrano e sicrano (cada um por sua vez e sem que uns soubessem dos outros) "à pedra". Estes confessavam, devolviam o que tinham roubado e eram "admoestados". E assim continuava a vida, na paz do Senhor. Coisas do Estado Novo...
Todavia, davam-se casos mais complicados, principalmente nos anos de maiores temporais, logo, de piores colheitas. Aí, entrava a caridade, aliás, como sempre.
Ora, esta história, verídica, terá acontecido, julgo, entre as duas Grandes Guerras:
Um dia, alguém chegou à sua "terra de inhames" (terreno mais apropriado para o cultivo desta planta) e encontrou um homem, considerado sério, a sair de lá com um braçado.
Interpelou-o, então, dizendo-lhe que nunca pensara que ele fosse capaz de uma coisa daquelas.
Respondeu o dito homem:
“… Eu levava daqui onze pés de inhame. Em minha casa, sou eu, a minha mulher, e onze filhos. Há três dias que não temos côdea de pão…”.
“… Eu levava daqui onze pés de inhame. Em minha casa, sou eu, a minha mulher, e onze filhos. Há três dias que não temos côdea de pão…”.
Interrompeu o dono do terreno:
“Mas vocês são treze… isso não dá um inhame a cada um…”.
“Mas vocês são treze… isso não dá um inhame a cada um…”.
Tornou a falar o homem:
“Ó senhor… eu arranquei estes onze pés e também meti plantio novo lugar, para não estragar a terra. Os onze pés, era um a cada um dos meus filhos. Eu e a minha mulher... íamos comer as cascas…”.
“Ó senhor… eu arranquei estes onze pés e também meti plantio novo lugar, para não estragar a terra. Os onze pés, era um a cada um dos meus filhos. Eu e a minha mulher... íamos comer as cascas…”.
Sentenciou, então, o proprietário:
“Vai buscar um cesto, enche-o e leva.”
“Vai buscar um cesto, enche-o e leva.”
Moral da história:
O meu Avô deu-me uma lição sobre justiça e rectidão.
A maioria de nós terá conhecido os avós e ouvido coisas semelhantes. Talvez fosse boa altura de Portugal agradecer aos avós. Tanto aos egrégios, como aos nossos, egrégios que são com aqueles.