Lembro-me bem.
Em 1990, quando rebentou a 1ª Guerra do Golfo, também a primeira a ser transmitida «em directo», andava no 12º ano e pertencia à Associação de Estudantes. Por essa altura, alguém da Amnistia Internacional foi ao Liceu da Horta fazer uma palestra. Só se falava da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da sua reiterada violação por toda a parte, incluíndo Portugal. A dado momento, quando, como de costume, o debate foi aberto à plateia e as pessoas da mesa faziam aquele ar simpaticamente forçado, de curiosidade a roçar o troça, sobre a timidez dos alunos em avançar com questões, levantei o braço e perguntei, «Se o ditador Saddam Hussein for apanhado e depois executado, qual é a posição da Amnistia Internacional? Protesta?». Não obtive resposta. Fiquei, claro, com a sensação própria dos irreverentes, por ter embaraçado os de cima do estrado.
Passaram 21 anos.
Ao ver há pouco as imagens que estão a ser divulgadas sobre a barbárie da morte de Kadafi, continuo, não só a interrogar, como a censurar veementemente. Tanto o horror perpetrado, em si mesmo, como a aparente aceitação daqueles factos, por parte dos meios de comunicação social, por múltiplos responsáveis e organizações, e pela comunidade global.
O «espectáculo» parece ser visto como trivial, ou mais uma notícia entre outras, em que tudo se equivale, acabando por resultar no mesmo plano o abate dos felinos que um cidadão dos EUA soltou numa cidadezinha e abate de Kadafi depois de capturado enquanto pedia clemência.
Cumpre perguntar: mas o que é isto?
À luz da Lei da Guerra (sim, as forças da NATO, infiltradas no terreno, deixaram que aquele homem fosse morto daquele modo, às mãos dos desgraçados dos ébrios rebeldes), à luz do Direito Internacional, e à luz dos valores da dita «civilização ocidental», o que é isto?
Não é de Lei, não é de Direito, nem é de Justiça.
Por cá, que somos muito dados a moções, intervenções e reclamações, é caso para perguntarmos: onde andam as Anas Gomes, os Marinhos Pintos, e demais indignados do nosso País?
Shame on you all, human rights advocates!