Ouvi na RDP a maior parte do discurso de Cavaco Silva, nesta sua 2ª posse como Presidente da República. Gostei.
Era fácil dizer que desta vez foi longe de mais, que as palavras do PR foram "gasolina sobre brasas", ou que agora é tarde, pois esteve calado tempo de mais e tal permissividade ajudou a criar uma situação que já não há discurso que salve.
Não, não pode ser «preso por ter cão e preso por não ter».
Com o mesmo critério com que várias vezes tenho criticado, e talvez, por isso, com algum reforço de legitimidade, digo sem tibiezas que foi o melhor discurso de sempre de Cavaco Silva, enquanto Presidente da República. Um dicurso que há muito Portugal precisava ouvir, alto e a bom som.
Daqui não se retirem as conlusões ligeiras e demasiado curtas, sobre saber quantas críticas veladas fez ao Governo ou se José Sócrates foi o "bombo da festa".
Não.
As palavras de Cavaco, se críticas transportaram para a classe política, (leia-se Partidos), bem podem todos os figurantes "enfiar os barretes", que a todos servem. E se servem!
Dito isto, (saltando sobre o sobressaltado sobressalto), ouvir o PR "abençoar" e irmanar-se com a indignação dos jovens, fez lembrar aquela imagem do governante que vê a manifestação na rua agigantar-se, então, a ver se a onda passa por ele sem causar estragos, decide descer, juntando-se aos manifestantes para entoar, à cabeça, o coro dos protestos.
Provavelmente será isso que a partir de agora vai começar a acontecer um pouco por todo o lado.
A "revolução à portuguesa", mais que "erradicar" quem quer que seja, faz-se com "golpes de rins" absolutamente formidáveis.
A grande ironia da República é vermos amiúde ser proclamado o dito mais conhecido da monarquia, «O Rei está morto. Viva o Rei!». Isto é que é muito preocupante: muda-se o que é preciso para que tudo fique na mesma. Nem podemos admitir que os mesmos digam sempre o mesmo e o seu contrário, nem nos basta que quem ontem erguia o punho hoje faça o vê da vitória, ou vice-versa.