segunda-feira, 25 de abril de 2011

Isto tem de ser dito


Isto tem de ser dito:

Por certo, Cavaco Silva mais a Troika Eanes/Soares/Sampaio, que o PR convidou para se lhe juntar este ano nas comemorações do 25 de Abril, irão fazer discursos patrióticos, com que estaremos de acordo em muitos aspectos e a exortação patriótica, que se antevê, irmanará os portugueses, embora não tanto como quando vemos a Selecção alinhar-se para o Hino antes dos jogos.

Também, espera-se, hão-de ecoar de Belém, entre outros, apelos para que ninguém se resigne, especialmente dirigidos aos jovens e aos cidadãos sem filiação partidária, a quem Abril veio permitir que participem na nobre tarefa de todos os dias regenerar a Democracia, através dos prestimosos contributos cívicos à «causa pública» que, afinal, são um dever.


Para os nossos ouvidos, é música roufenha. Alguém quer saber o que pensamos ou podemos fazer?
Não. Simplesmente porque isso poria em causa o status quo instalado, quando, na realidade, o que se pretende é dar uma impressão de mudança, mas sem mexer no Sistema.

Faz lembrar as noites eleitorais, em que todos vêm, em primeiro lugar, lamentar as elevadas taxas de abstenção, logo manifestando solenes propósitos sobre a necessidade de uma profunda análise das causas endógenas que levam a tão grande alheamento do Sistema, etc., quando, passados cinco minutos não se fala mais nisso, pois quem está eleito, eleito está e as prioridades, afinal, são outras… é uma vergonha!

Estou farto destes farisaísmos e palavras de circunstância.
A repulsa nada tem que ver com o 25 de Abril, cujo significado e alcance tive o privilégio de aprender desde cedo. Aqui, não se embarca em demagogias do género, “o 24 é que era bom”, ou “isto não melhorou nada com o 25 de Abril”. Não, antes pelo contrário. O 25 de Abril permite que agora digamos, alto e a bom som, para azia de alguns, que este Regime já deu o que tinha a dar, ponto!



Se 37 anos não chegaram para instaurar, de facto, um verdadeiro Estado de Direito Democrático, condizente com velhas e novas aspirações, que nunca mais chegam a ver a luz do dia ou, dito de outro modo, se passadas quase quatro décadas o Estado atingiu um definhamento tal que, com os mesmos de sempre a aplicar as políticas de sempre, e o resultado queda-se por este “fartar vilanagem” do «bem público», ao ponto de termos de pedir que nos venham governar, então, de que é que estamos à espera para chamar as coisas pelos nomes, propondo (não é reequacionar, que isso soa a conversa da treta) que se declare este Regime caduco, dando-se inicio à IV República, com salvaguarda, é claro, dos valores e princípios indeclináveis que herdamos de Abril?


Agora, e com o devido respeito pelo esforço de todos, pergunta-se:

- O Presidente da República, última reserva moral da Nação, já não consegue disfarçar a sua fraqueza política, ao ponto ter de chamar os antecessores para, assim, mais uma vez, não assumir, por inteiro, as suas responsabilidades, nem dar a cara perante os portugueses, no exercício da tal “magistratura activa”, ademais expressamente penhorada no dia em que jurou a Constituição?

- A imagem que vai perpassar das quatro altas personalidades ali reunidas remeterá para as décadas passados ou os tempos futuros?

- Das comemorações do 25 de Abril de 2011 perdurará a memória de uma metáfora sobre o soçobrar de um Regime, ou o mote para a construção de um Portugal novo?



Ouvir os mais ilustres «senadores da República» tem sempre cabimento, e não só é útil como deveria ser instituído constitucionalmente - isso é uma coisa. Outra, bem diferente, é o Presidente da República dividir com os antecessores* uma mensagem ao País que só a ele cabe, especialmente no dia das comemorações deste 25 de Abril.

Percebe-se a ida desta autêntica Troika a Belém. As razões estão bem à vista.
O problema é que este acto, da última encenação, não augura nada de bom... 
Na verdade, Abril já foi.

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* Como é que o Dr. Jorge Sampaio, particularmente falante nas últimas semanas, vai fazer a apologia da «estabilidade governativa» e do «regular funcionamento das Instituições» quando, (após ter aceite as condições do então Primeiro-Ministro e actual Presidente da Comissão Europeia, deu posse a um Governo que tinha um suporte parlamentar de maioria constituída por uma coligação), fez uma leitura peregrina da Constituição e decidiu dissolver a Assembleia da República, só porque o XVI Governo, assim, sem mais, deixou de lhe inspirar confiança? Oxalá, o próximo Governo possa agora abundar em tudo o que o Presidente Sampaio viu faltar em 2004.