Visto pela nossa parte – contrariando a maioria dos comentários que ouvimos, quase todos de encanto pela descoberta da fórmula feliz que este ano foi encontrada para comemorar o 25 de Abril, e de satisfação geral pelo enorme significado da «mensagem» que brotou do Palácio de Belém – se concedemos quanto à organização do evento, no que tange à substância da coisa, não só confirmámos aquilo que tínhamos antecipado como ocorre acrescentar algumas notas:
Desde logo, e se dúvidas existissem, o Presidente Cavaco Silva passou a "bestial" depois de ter usado da palavra para fazer a espantosa revelação de que o Executivo que sair das eleições de 05 de Junho precisa, impreterivelmente, de uma ampla maioria no Parlamento para governar.
Hélas, que grande nova!
Hélas, que grande nova!
Depois, desde a agricultura à marinha mercante, da absoluta exigência de responsabilidade à incompetência geral da classe política, passando por conselhos para que se acabe com as quezílias e o debate seja sereno, isto, de permeio, com “um ou outro” mea culpa, cuja elevação do momento ditou esquecer, esta "salada russa" foi o bastante para que os comentadores viessem a correr, exaltando as metamorfoses do grande sentido patriótico que dali sobrelevou. Finalmente, eis que se abre caminho para que as divergências sejam postas de parte e a grei se una por um ideal.
Soberbo!
Soberbo!
Mais à frente, trocado por miúdos, ficou a saber-se que o arranjo entre o PS e o PSD para formarem governo está feito e tanto faz que seja um como outro a ganhar as eleições. A única dúvida por esclarecer é sabermos quem vai ser indigitado Primeiro-Ministro, mas o resultado do escrutínio, quando comparado com as soluções ora aventadas pela "Troika+1", é um aspecto de somenos importância.
Está bem visto!
Está bem visto!
Para rematar, Paulo Portas, também ele é digno de nota: "pressionado" até mais não, para fazer o pleno do arco tricolor, por via do chamamento do «Compromisso» que é mister nacional, encarna o peso da responsabilidade histórica que recai sobre o CDS, e vai balbuciando qualquer coisa do género, que os seus serão parte da solução.
Lindo!
Posto isto, a cereja em cima do bolo será a criação de um pensamento único, segundo o qual quem se atrever a não alinhar com a "Situação" merece ser excomungado da condição patriótica, por "crime" de desligamento da "santa união", mais que selada na tenda de Belém.
Que medo!
Ou seja:
Votar no PS, no PSD ou no CDS, é "igual ao litro". Irão todos na mesma parar ao governo. Todavia, é preciso cumprir o dever de sufragar as listas, para cumprir as formalidades, que quanto mais força tiverem estes três, melhor o País fica "na fotografia".
Os mercados ainda não têm famílias destas no álbum!
De facto, o "Sistema instalado", apesar das falhas e podridões desavergonhadamente indiciadas, encontra a forma de se manter. Tal qual. Pegam no bolo, dão-lhe outra cobertura, e repartem-no alegremente, cantando e rindo.
Ou há moralidade, ou comem todos!
Para quem não acreditasse, era ver de seguida o debate na SIC/N, entre João Soares e Miguel Relvas. Só faltou abraçarem-se em directo. PS e PSD estão em noivado, e o CDS parece aperaltar-se para levar os anéis. Vão todos fazer algum "barulho" durante a campanha. E depois? Há licença para um certo ruído e campanha é campanha… uma vez assinado o pacto FMI/Partidos, onde o PR passará como faca na manteiga. As eleições reduzem-se ao jogo da "apanhada" de todos com José Sócrates.
Que divertido!
Por fim, e para cúmulo dos cúmulos, uma vez que os nossos opinion makers (os de ontem, que são os mesmos de hoje e serão os de amanhã) à cautela, para que eventuais tsunamis não lhes deitem por terra itinerários de luminosos pensamentos, sempre vão admitindo, através de exercícios de prognose na espargata, que é provável haver espaço para uma reconfiguração do actual quadro partidário.
Pois pudera! A confirmar-se que o Regime salta todo para o mesmo barco a 6 de Junho próximo, espaço, nunca terá havido tanto, desde 24 de Abril de 1974. Que embarquem, que embarquem.
Embarquem todos!