Sem ser imaculado, longe disso, merecendo reparos aqui, ali, ou acolá, o «caderno de engargos» da Troika não é o nosso maior opróbrio.
Fomos nós que, ao longo de muitos anos e vários Governos, incorremos numa situação tal que o pedido de ajuda tornou-se inevitável.
É claro que a partir da crise do sub-prime, a instabilidade global e, depois, os ventos desfavoráveis que vieram acossar a Europa, não só concorreram como ajudaram a precipitar a queda de uma economia tão exposta e vulnerável como a nossa.
Mas, em primeira linha, as maiores responsabilidades residiram cá dentro, sobretudo pelas «reformas estruturais», que apesar de recorrentemente invocadas a torto e a direito, na verdade, foram ficando por fazer.
Agora, coisa bem diferente com aquilo o País hoje já reconhece, indo ao ponto aceitar de uma enfiada um rol de medidas duríssimas, com iniqualável sentido de dever no quadro da UE, é esta ideia, que germina e começa a disseminar-se.
Portugal vai cumprir imperativamente, até à exaustão, os compromissos a que se submeteu e, ainda que a receita aviada pela Troika revele efeitos meramente paliativos, não tomará a iniciativa de «denunciar» a agonia, a não ser que os credores o façam, como e quando bem entenderem, numa lógica que ultrapassa largamente as fronteiras do Estado intervencionado.
Sinceramente...
A ideia de que temos de aguentar até cair, para, por um lado e por ora, provar-se que a Grécia é um caso isolado de incapacidade, enquanto que outros países são realidades diferentes, e que, por outro, mais adiante, o modelo desenhado, a ter de ser revisto, só será clamoroso quando se comprovar que mesmo um «aluno aplicado, obediente e cumpridor», como Portugal, também, nem assim, atinge os objectivos, é de um experimentalismo brutal.
O facto dos portugueses presentirem isso, só por si, é gerador de uma depressão colectiva, mais fatal que o destino.
Tudo tem limites.
Não podemos ser nem laboratório das parvoíces de Bruxelas, nem pretexto para os timoratos mais desalinhados virem estribar-se no «caso português», para se oporem a Merkel e Sarkozy ou ao eixo franco-alemão.
A «canga» que pesa sobre os portugueses está a ficar longe de uma metáfora...
É altura, portanto, de Portugal se unir, reunindo todos os esforços políticos, institucionais e diplomáticos que tem, para pôr travão a isto, antes que «isto», uma vez endémico, dê cabo de um sentido para os sacrifícios, e ceife a esperança e os horizontes de uma estado-nação, que tem na sua independência a sua «carta de alforria», e na sua vocação histórica «a seiva» da sua Liberdade.