sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sistema bloqueado


A sondagem divulgada esta semana pela Universidade Católica, sobre a avaliação que os portugueses fazem do Governo, tem muito que se lhe diga e permite várias leituras, embora seja facto, como diz o JN, que "... A perceção que os portugueses têm do Governo é cada vez menos favorável, mas o PS perde credibilidade como alternativa. Aparentemente contraditórias, são estas as conclusões...".

Lançados os dados, se tivermos em conta, entre outros aspectos, o adensar da ideia que Portugal precisará de um 2º Programa de ajuda externa - baptizados com nomes diversos, consoante as instituições ou protagonistas e respectivas posições - bem como o pulsar da opinião pública noutros países da União Europeia com eleições à vista, este «cocktail», quando traduzido internamente no campo político-partidário, faz-nos antever um bloqueio do sistema.

Qualquer que ele seja, o período da intervenção externa irá constituir-se como um marco muito vincado no tempo, nas mutações políticas e, uns anos mais adiante, no modo como será escrita a História. Neste caso, existirão as forças políticas «da Troika», aquelas que subscreveram  o pedido de ajuda, e também aquelas que, ainda que o não tendo assinado o Acordo, não compareceram nas conversações. Todas, de uma forma ou de outra, acabarão por ficar conotadas com esta «subjugação nacional», para mais, quando foram estas mesmas forças que, ora no governo ora na oposição, para o bem e para o mal, conduziram o destino dos portugueses nos últimos 35 anos.

Passada o tempo da Troika, caso não ocorram sobressaltos dantescos, o sistema estará esgotado e a virtude estará no «novo», do lado daqueles que nem nos empurraram para aqui, nem tiveram de chamar o FMI. Mesmo que, no fim desta fase, se tudo correr bem, a avaliação fôr que «não havia outro remédio» e que o que foi feito tinha de ser feito, os cidadãos dificilmente quererão saber do «partidos do Pacto» (PS, PSD e, este menos, o CDS/PP), tal como dos «partidos da rua» (CDU e BE). É um pouco aquela imagem de ganhar a guerra e depois perder as eleições, sendo que, aqui, quase todos perderão nas suas tradicionais bases sociais de apoio.

No «pós-Troika», de duas uma: ou a vida política é capaz de se reestruturar, reconfigurando, acolhendo e gerando novas forças, ou a sociedade portuguesa - como a de outros países - corre o risco de cortar de vez os frágeis laços que ainda vão dando um «aspecto de legitimidade» aos debilitados poderes instituídos, expondo-se, assim, por omissão, o «sistema imunitário» da democracia a agentes de matriz radical, cuja essência não se coadunará com um patamar comum de valores que tínhamos dado por assentes. É que, a «descompressão social», ensina-nos a História, só se faz de duas maneiras: com reformas, ou à força.