segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Tiro de partida para Belém

A propósito da mais recente «fífia» de Cavaco Silva (que há dias cancelou uma visita à Escola António Arroio por, segundo consta, não se ter sentido seguro, ao saber que havia ali estudantes preparados para uma manifestação), Marcelo Rebelo de Sousa, na sua análise semanal, na TVI, primeiro inaugurou uma expressão de fundo alcance político, dizendo ter começado «a época do tiro ao Cavaco», para, depois, vir em socorro do Presidente da República, figura máxima do Estado.

Alegando, em síntese, que o País não pode correr o risco de perder a última das suas reservas institucionais, especialmente, quando Portugal está em observação permanente por parte de várias entidades externas, por um lado, e o PR em funções tem ainda tem um longo mandato pela  frente, com eleições autárquicas, europeias e legislativas pelo meio, onde, em caso de crise ou bloqueio político, será chamado a intervir, por outro.  

Percebe-se a sensatez do argumentário de MRS, o qual, todavia, a contrario, acabou por revelar quão «pungente» é a natureza da relação entre o PR e o País, depauperado que está o vínculo afectivo e de respeitabilidade entre o garante de soberania e os cidadãos, bem como o primeiro órgão de soberania e as funções que desmpenha perante os demais órgãos de soberania e instituições democráticas.

Numa frase, o apelo de MRS reconduz-nos à tal frase dos corrosivos tempos em que Cavaco Silva era Primeiro-Ministro com Mário Soares em Belém, segundo a qual era preciso «ajudar o Senhor Presidente da República a terminar o seu mandato com dignidade».

Mas o mais «cirúrgico-sensacional» da intervenção de MRS estava reservado para Durão Barroso. En passant, o Prof. aproveitou para chamar o actual Presidente da Comissão Europeia à liça, reservando-lhe a farpa que até aqui ainda não fora assumida em público, apesar do que se diz «à boca cheia», em privado:

Durão Barroso, que tem vários «núncios» em Lisboa, prepara a sua candidatura presidencial. Marcelo Rebelo de Sousa, sempiterno presidenciável, também, ele próprio, já apontado, decidiu ser altura de lançar Durão Barroso e, pela via da defesa de Cavaco Silva, e também do próprio Pedro Passos Coelho, opondo-se ao estrangeirado «candidato a candidato», como disse, lançou-se a si (e assim) mesmo. 

Há já algum tempo aventava-se aqui que, ao centro/direita, as movimentações para Belém estariam iminentes... nada de especialmente premonitório, para quem estívesse minimamente atento.

Agora, aquilo que mais nos impressiona é assistir ao timing do «tiro de partida» para a sucessão a Cavaco Silva/Presidente da República, quer como figura de referência para o centro/direita português, quer como Presidente de «Portugal inteiro», eleito e reeleito que foi, sempre na 1ª volta.

Aferindo pela pressa dos «sucessores» em colocarem-se na «linha de partida», afigura-se-nos, isso sim, uma disputa feroz (a procissão ainda nem vai no adro), a qual, será inevitável, acarretará consigo a tal reconfiguração do quadro político-partidário português, pela qual, de resto, começámos a propugnar em 2005. 

Na verdade, por este esboço, que vai ganhando contornos mais nítidos, como diz o Povo, «não há miséria que não traga fartura».
Deus queira que o adágio se confirme para lá dos «tiros», em toda a sua extensão.