sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Histórias que o meu Avô contava III - Rectidão

Durante muito tempo, foi a castanha. Depois, veio a batata que, juntamente com o trigo, eram essenciais. Isto, no Continente. Nas Ilhas, povoadas nos adventos quinhentistas, com as Descobertas, acabaria por ser, mais tarde, junto com o milho, o inhame.
 
Ainda no Século XX, fazia parte principal da alimentação de muita gente.
Ter ou não ter inhames significava, quase sempre, a diferença entre a abundância e a carência.
 
Até há meia dúzia de décadas, ninguém roubava, salvo alguns desgraçados, apontados por esse "vício". Estavam mais ou menos identificados. Os delitos, porém, não perturbavam a ordem e a harmonia social.
 
Quando alguém dava por falta de alguma coisa, os homens mais respeitados da freguesia, o regedor ou, em última instância, o Presidente da Câmara, sem alarido nem falar muito sobre disso, tratavam do assunto.
 
Por regra, chamavam fulano, mais beltrano e sicrano (cada um por sua vez e sem que uns soubessem dos outros) "à pedra". Estes confessavam, devolviam o que tinham roubado e eram "admoestados". E assim continuava a vida, na paz do Senhor. Coisas do Estado Novo...
 
Todavia, davam-se casos mais complicados, principalmente nos anos de maiores temporais, logo, de piores colheitas. Aí, entrava a caridade, aliás, como sempre.
 
Ora, esta história, verídica, terá acontecido, julgo, entre as duas Grandes Guerras:
 
Um dia, alguém chegou à sua "terra de inhames" (terreno mais apropriado para o cultivo desta planta) e encontrou um homem, considerado sério, a sair de lá com um braçado.
 
Interpelou-o, então, dizendo-lhe que nunca pensara que ele fosse capaz de uma coisa daquelas.
 
Respondeu o dito homem:
“… Eu levava daqui onze pés de inhame. Em minha casa, sou eu, a minha mulher, e onze filhos. Há três dias que não temos côdea de pão…”.
 
Interrompeu o dono do terreno:
“Mas vocês são treze… isso não dá um inhame a cada um…”.
 
Tornou a falar o homem:
“Ó senhor… eu arranquei estes onze pés e também meti plantio novo lugar, para não estragar a terra. Os onze pés, era um a cada um dos meus filhos. Eu e a minha mulher... íamos comer as cascas…”.
 
Sentenciou, então, o proprietário:
“Vai buscar um cesto, enche-o e leva.”
 
Moral da história:
O meu Avô deu-me uma lição sobre justiça e rectidão.
A maioria de nós terá conhecido os avós e ouvido coisas semelhantes. Talvez fosse boa altura de Portugal agradecer aos avós. Tanto aos egrégios, como aos nossos, egrégios que são com aqueles.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A ruína dos empregadores?

 
21/10/2014 | 13:18 |  Dinheiro Vivo    

Tenha cuidado com o que escreve e partilha nas redes sociais. Um número cada vez maior de recrutadores admite que já reconsiderou um candidato a um emprego depois de analisar o seu perfil social.

Os números reunidos pelo Jobvite, no Social Recruiting Survey 2014, são claros. Se o ano passado apenas 13% dos recrutadores admitia ter mudado de ideias em relação a um possível candidato depois de analisar o que publica nas redes sociais, este ano esse valor é bem mais significativo: 55%.
E mudar de ideias significa que, na maioria dos casos, o candidato ficou pelo caminho: 61% dos recrutadores admite que a sua decisão teve consequências negativas para o candidato. (...)
 
Percebemos a “bondade” desta notícia.
Ressaltam, contudo, várias questões, cuja complexidade das respostas será inversamente proporcional à elementaridade das perguntas. De uma penada, ocorre-nos “postar” estas:
 
1 – A questão laboral

A montante, por que razão não hão-de poder os posts ser avaliados pelo empregador durante a entrevista? Qual o motivo para não interpelar o candidato sobre aquilo que colocou na internet? Será que alguém prefere candidatos sob reserva mental, ainda que tenham pedido à Google para votar tudo ao esquecimento?

E depois de admitido o candidato? Os empregadores devem ignorar ou conhecer aquilo que as pessoas da empresa/organização dizem ou fazem na internet? E da parte dos trabalhadores? Seria isso a ruína dos empregadores?

2 – A questão jurídica

Até que ponto vai o “direito ao exibicionismo” da vida privada, com ou sem “prejuízo próprio”, digamos assim, também por contraposição ao direito à honra e ao bom-nome, quando visa terceiros? Em matéria opinável, será que alguém pode ser prejudicado por expressar opinião, ainda que convocado pelo uso da responsabilidade na liberdade?

Estaremos a assistir a um “revisionismo” dos «direitos, liberdades e garantias»?
 
3 – A questão cultural

Parece-nos bom ir até ao bom senso. Oportuno promover um debate que traga conclusões.
Todavia, ir mais longe é entrar numa escuridão cheia de perigos, que a civilização já escolheu afastar, como, por exemplo, a cultura do pensamento único.

Quem quer, afinal, (sejam eles candidatos ou recrutadores, trabalhadores ou empresários) seres humanos mudos e acéfalos - formados à imagem e semelhança de meras “coisas” inanimadas, excepto na capacidade de fazer de conta, fingindo, pois, sobre o universo virtual, neste nosso Mundo, que é real?

domingo, 26 de outubro de 2014

Brasil, de novo palco do Mundo

 

Hoje, o Mundo inteiro está de olhos postos no Brasil.

Impende sobre os brasileiros uma responsabilidade democrática bem maior que decidir sobre quem serão os seus representantes estaduais e federais, assim como o seu Presidente da República.

Neste nosso tempo, de aceleradas mudanças globais, escrever uma das maiores páginas da História de uma das maiores potências do planeta, é algo que extravasa as fronteiras políticas do Brasil e, mais ao perto ou mais ou longe, toca todo o concerto dos povos e nações.

Aquilo a que o Mundo se prepara para assistir hoje no Brasil, trata-se, sobretudo, de um fenómeno social mundial.

Donde, será desde logo muito importante que o acto eleitoral decorra com elevado civismo, em clima de tolerância e pluralismo, com o maior respeito pela consciência individual de todos e cada um dos cidadãos. Negar isso, seria dar razão ao totalitarismo recrudescente nalgumas áreas do globo.

Depois, é fundamental que quem perder as eleições tenha fair-play e seja o primeiro reconhecer a derrota publicamente, saudando o seu oponente e prestando-se a cooperar com ele em tudo o que seja matéria de regime.

Não dizemos isto receando a eficácia ou a solidez das instituições democráticas brasileiras e, muito menos, o discernimento e a maturidade política do eleitorado.

Dizemos isto, a pensar, antes de mais nada, em Dilma Rousseff e Aécio Neves, bem como nos seus apoiantes e mais directos colaboradores. Nos meios de comunicação social, também.

Tão renhida que foi a campanha e tão bipolar que se prevê ser o resultado das urnas, as palavras, os gestos e a atitude de quem perder, tudo isso assumirá um significado de tal ordem que, pelo menos até à tomada de posse, em Janeiro, o candidato derrotado terá deveres paritários aos do candidato vencedor.

Na verdade, tudo aquilo que não se deseja ver hoje no Brasil é algum vestígio ou reedição daquilo que aconteceu em 2000 nos EUA, quando George W. Bush disputou a Casa Branca com Al Gore.

Que ganhe quem tiver mais votos, sem contestações e sem “floridas”. 

Que bela ocasião, portanto, para o Brasil, com imensa grandeza, servir de exemplo ao Mundo.
 
 
Post Scriptum

Com efeito, para mais numa disputa tão renhida, é muito assinalável o modo sereno com que mais de 140 milhões de eleitores exerceram o seu direito/dever e que a votação tenha decorrido com total normalidade, não havendo relato de perturbação alguma merecedora registo.
 
Depois, as declarações finais dos candidatos corresponderam àquilo que se lhes exigia. Aécio Neves terá sido mais feliz, pela forma concisa e breve que escolheu. Porém, no essencial, a Presidente Dilma, cujo discurso era mais difícil, por razões óbvias, soube estar à altura, desde logo quando apelou à reconciliação e, depois, quando fez questão de destacar, logo ali, os seus compromissos mais forçosos, consoante o que interpretou dos sinais expressos nas urnas. Caso será para dizer, "Mandato novo, Ano Novo... vida nova no Planalto."

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Brasil e a esperança

 
Entre outras, se há coisa em que o Brasil leva vantagem sobre Portugal é na esperança.

Em terras de Vera Cruz, os nossos irmãos lusófonos aguardam por Domingo, cheios de entusiasmo e expectativa. Acorrerão às urnas determinados e confiantes. Acreditam na força do seu voto. Sentem, talvez como nunca, que a Democracia reserva aos cidadãos da República o maior de todos os exercícios de soberania: julgar sobre quem governa.

Por cá, na “ocidental praia lusitana”, o torpor é rei. Parece que já nada move ninguém.

A percepção é que seja Pedro, seja Paulo, ou seja João a governar, vai dar tudo ao mesmo... afinal, se no início votar era eleger, tendo passado, mais tarde, a ser punir, agora, as pessoas já nem querem saber… pelo menos, já ninguém perde um segundo a falar disso.

Em 2011, em eleições “extraordinárias”, com o País falido e o FMI à porta, os portugueses foram chamados às urnas. Condenaram o Primeiro-Ministro que vinha governando desde 2005, claro. Meio desconfiado, o eleitorado deu, assim, uma maioria relativa, literalmente, ao líder da Oposição, que beneficiou, obviamente, da dúvida de um Povo encostado entre a espada e a parede.

Pois até isso o desastrado “Governo do FMI” arruinou! Já não se trata de saber quem eleger… a coisa chegou ao ponto de não se saber quem punir… é a impunidade a cavalgar ao deus-dará.

A um ano do fim da Legislatura e irmos a votos novamente, a verdade é que Portugal está pior… pior que isso, pior que a obtusa governação, foi este Governo mais não ter sido capaz que dar cabo da esperança.

Domingo, os portugueses vão puxar pelo Brasil. Força!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Novo Banco - especialistas da borboleta

Estamos a viver tempos de “dessacralização”.
 
A História, mais adiante, julgará isso a consequência natural de uma série de dilúvios em cascata, provocados pela mais rápida aceleração social e tecnológica que o Mundo vira até hoje. Tão incomportáveis solavancos haveriam de ser acompanhados por uma inédita fragmentação das estruturas clássicas, onde dantes assentava a ordem das coisas. Desde a mais singela das famílias ao mais poderoso dos Estados, trespassando, também, obviam...ente, empresas e personalidades, outrora com aparências de inquebrantáveis solidezes.
 
O verdadeiro problema reside aqui.
Que fazer? Qual o novo paradigma? As elites do conhecimento e do saber, também elas despedaçadas, tentam ensaiar um passo aqui, duas guinadas ali ou três metas acolá, todavia, ainda andamos atrás do prejuízo, às apalpadelas. A escuridão favorece um Adamastor em cada esquina. Anda-se a palmo.
 
Olhemos para o Novo Banco.

Significativamente, adoptou para logótipo a imagem da borboleta, que não convoca perenidade alguma, mas antes efémera transformação e ligeiro acaso.
 
Vem isto a propósito dos ditos “especialistas” - da banca, das finanças, da economia, das entidades reguladoras, de universidades, do governo, até organismos da UE.
As “soluções” encontradas têm ou não saído da cabeça de “especialistas”?
A “administração” está ou não a ser exercida por “especialistas”?
A “ideia” de que é forçoso vender o Banco depressa pertence ou não a “especialistas”?
 
Agora, é ou não verdade, como 2 mais 2 são 4, que não aparece comprador, a não ser em saldo, que acabará por ser, quando os “especialistas” concluírem que a experiência de “laboratório especializado” falhou e que o Banco já não vale “um caracol”?
 
Se o Banco está nas mãos do Fundo de Resolução, ou seja, a mutualista constituída pelas demais entidades bancárias, por que razão não é feito um rateio, cada qual assumindo a quota-parte correspondente à sua contribuição?
 
Significaria isso entregar o Novo Banco à Caixa Geral de Depósitos e, por conseguinte, ao Estado? Mas não era isso que, na verdade, o Governo queria ao início? Com pinças, aproveitar a conjuntura, para tirar de cena Ricardo Salgado e depois, subtilmente, por a mão aos salvados? Não!?
 
Se os “especialistas” não vêem isto, coitados dos “especialistas”. Aqui, como em geral.

Emaranhados em papéis, com gráficos, relatórios, directivas e compêndios, os “especialistas” vêem cada vez mais de cada vez menos. São pagos para emprestar o nome. Em nome das borboletas que povoam o sistema político, as quais, por instinto, vêem dois palmos à frente, tentando adiar o seu ocaso, tal qual os insectos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

E agora, Marina?

O PSB acaba de anunciar o seu apoio a Aécio na 2ª volta. Apesar de ideologicamente mais próximo do PT, já todos perceberam de que lado está a maioria do eleitorado que votou em Marina. As negociações deveriam terminar aqui. Nada ser prometido a Marina. Deixar-lhe o ónus. Ela que decidida, falar ou ficar calada. O poder demasiado negociado tende a ser demasiado comprometido... Quem votar em Aécio no dia 26 - seja do PSB, outros partidos, ou partido nenhum - quer um Presidente forte, que chegue ao Planalto livre de fazer o que deve fazer, com as mãos desatadas. Até do próprio PSDB.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Aécio

A avaliar pelas contagens divulgadas, cerca de 34% dos votos permitem-lhe afirmar-se claramente como a alternativa à Presidente Dilma e ao PT. O Senador Aécio Neves dificilmente deixará de ser o próximo Presidente da República Federativa do Brasil. Caso não o seja, já no próximo dia 26, na 2ª volta/turno, terá, em qualquer caso, caminho aberto para alcançar o Planalto daqui a 4 anos. Para tal, basta-lhe manter-se o rosto da oposição... e esperar.