sábado, 31 de março de 2012

Life Up Together


Escolhemos as músicas um pouco como as gravatas. As razões são mais subconscientes que deliberadas.

Por que será que tiramos a verde em vez da azul, a lisa em vez das riscas, a clara em vez da escura, ou a de há anos em vez da nova? 

Por que será que pomos pop em vez de jazz, clássica em vez de rock, bossa nova em vez de gospel, ou fado em vez de house?

Hoje juntamos estas três. Um «Live Up Together», diríamos. 

A pensar em quê?
Em nada.
Talvez em tudo... em nós, nos amigos, em todos. 
Em Portugal, também. 

Live is Life - Opus

Rise Up - Yves Larock

All Together Now - Moonspell e Carminho

sexta-feira, 30 de março de 2012

Plano B


Sabemos que a arte de governar é incomensuravelmente mais díficil que a prosaica facilidade de um mero «post» na blogosfera.

Sabemos que servir o Estado por vezes passa por guardar planos que devem manter-se insondáveis.

Sabemos que o Primeiro-Ministro tem-se esforçado por ser realista, assumindo com toda a força que Portugal não se desviará do caminho traçado, que os objectivos são para cumprir, e que o Acordo com a Troika é para honrar.

Também sabemos, que essa orientação, pelo menos nas suas linhas mestras, está interiorizada pela generalidade do País, merecendo a simpatia dos nossos credores e parceiros externos, bem como das organizações que Portugal integra.

Mas há uma coisa que nem nós, cidadãos, nem o Governo, nem os partidos e os parceiros sociais, nem a Troika ou a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, ou o Fundo Monetário Internacional, há algo que ninguém sabe, por não vir em nenhum manual e estar fora do alcance das melhores previsões: 

A dimensão exacta do impacto dos efeitos psicológicos colectivos na economia.

Sabe-se apenas que é uma «bola de neve» que escapa às «margens de erro» das previsões, das revisões e da estatística, porquanto as pulsões sócio-culturais e políticas dos povos são, também elas, de prognose reservada.

Interrogamo-nos, assim, sobre se o Governo, juntamente com os demais responsáveis, não deveriam fazer a pedagogia do «Plano B», partilhando com os portugueses algo mais que o chavão actual, de que estamos inextricavelmente entregues ao destino do último dos «remédios».

Interrogamo-nos se a recusa em falar de um «Plano B» é propositada, deliberada, estratégica, e pensada, precisamente para não «precipitar» a tal «bola de neve», evitando-se, desse modo, pôr em causa a relativa «segurança» e o parcial «oxigénio» que um discurso articulado, cá dentro e lá fora, vão dando.

Até aí, embora nos interroguemos, somos capazes de entender as razões «oficiais».

O que não cabe na nossa compreensão é que não exista um «Plano B», e nos possamos deparar com um ponto sem opção, sem alternativa, sem solução e sem «remédio».

Aconteça o que acontecer, precisam os portugueses de ouvir e sentir, Portugal continuará, como Estado-nação, livre e independente, pois a nossa vocação é universal. E saberemos trilhar caminho bastante por esse mundo além: que nos dê paz, trabalho e pão. Não abdicaremos do direito a prosseguir o nosso ideal de justiça, coesão social e bem-estar comum.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Let's look at the trailer


O filme/documentário «Inside Job» mostru-nos como se gerou a crise do subprime nos Estados Unidos, e as consequências económico-financeiras que daí advieram, primeiro para os EUA, logo seguidas de fortes repercussões na União Europeia.

Desde 2008 para cá temos assistido a vários «filmes», em especial os dos denominados PIGS, com a Grécia à cabeça, seguida de Portugal e da Irlanda, sendo que «a fita» também nos chegou de Itália e de Espanha, mesmo aqui ao lado.

No fundo, toda a zona euro é hoje um «pig», incerto que é o futuro da moeda europeia e, por arrasto, da própria construção da união política dos 27 estados-membros, apesar da multiplicidade esforços, iniciativas e diligências das instituições comunitárias, do eixo franco-alemão e de várias outras entidades para ir encontrando soluções de para estancar a crise e estabilizar financeira, económica e socialmente toda a UE.

Pela parte que toca a Portugal, cujo destino está amarrado ao sucesso da «receita da Troika», o Primeiro-Ministro, que não tem, objectivamente, condições para fazer promessas a não ser «cumprir», foi à televisão e, em abono da verdade, disse o que pode dizer... que temos que aguentar, «custe o que custar», pelo menos até ao último trimestre deste ano ou primeiro de 2013. Disse a verdade aos portugueses. E a verdade é que, para lá do grande esforço financeiro para a consolidação orçamental, o que sobra é «uma mão vazia e outra cheia de coisa nenhuma». Outro, no lugar dele, qualquer que fosse, poderia anunciar algo diferente, isto, dentro dos parâmetros do compromisso assumido por Portugal para obter ajuda externa.

A Oposição, logo veio acusá-lo de «vender ilusões»...

Ora, passando das ilusões para a realidade e dos «filmes» para planos concretos, era bom que todos, tanto do Governo como da Oposição, quer empresas quer cidadãos, tivessem presente um caso que, não obstante todas as diferenças da estrutura sócio-económica, política e cultural com o caso português, ainda assim, terá o seu lado «pedagógico», para que todos estejam cientes da «solução» na eventualidade das medidas em curso não resolverem coisa alguma.

Aqui fica, pois, um apontamento sobre a Islândia que, como todos sabem, faliu, e agora «amanha-se como pode», não deixando de ser curioso que por lá «vive-se com o que se tem», e nem por isso nos chegam notícias que aquele povo está a passar assim tão mal, ao contrário do que seria de esperar:

How Iceland Is Rebuilding Its Economy With Social Media

Fonte: Mashable Social Media, by Samantha Murphy

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tenham mas é juízo!


A propósito da Constituição da República, muito convocada agora por causa da «regra de ouro» da UE, e considerando que está em marcha o processo legislativo para a reorganização administrativa de País, também ele gerador de discussão mais ou menos silenciosa, parece-nos oportuno convocar a questão da regionalização do continente, a qual, apesar de nunca ter avançado (travada que foi no Referendo de 1998), continua prevista na Lei Fundamental, enquanto autarquia local supramunicipal.

É impresionante que este assunto esteja a passar despercebido e como, com «pés de lã», tanto o Governo como a Oposição, designadamente PSD e PS, por motivos diferentes mas com a mesma irresponsabilidade, pareçam estar dispostos a «esquartejar» o País, a coberto de uma suposta descentralização, que mais não significa neste momento que uma «compensação» aos às suas clientelas locais, e uma forma de transferir atribuições, competências e recursos financeiros para mãos que «não podem ficar a abanar».

Independentemente de existirem bons argumentos pró e contra a regionalização e o tema merecer reflexão, neste momento, antes de se colocar o assunto na ordem do dia, dever-se-ia pensar se é oportuno fazê-lo. 

Ou seja:

Fará sentido levantar a bandeira da regionalização, antes mesmo da reorganização das freguesias e municípios em curso chegar ao seu termo?

Fará sentido falar em descentralizar poderes do Estado Central para hipotéticas regiões administrativas, antes mesmo de serem redefinidos e fixados os novos parâmetros da relação que vai nascer entre o Governo e os Municípios?

Fará sentido consumir o País numa questão tão «transversal e fracturante», em plena altura de «emergência nacional», antes mesmo de sabermos se conseguimos atingir os limites do déficit, pagar os juros da dívida e alcançar a tão desejada consolidação orçamental?

O exemplo é demasiado fácil, mas serve para ilustrar:

Ao nível do Poder Central e das respectivas cúpulas partidárias, toda a gente critica Alberto João Jardim e leva as mãos à cabeça com o «buraco da Madeira»...

Agora, com o devido respeito por AJJ e salvaguardando-se a diferença entre a Autonomia Regional dos Arquipélagos e as Regiões Administrativas do Continente, imagine-se o que seria termos um Portugal «retalhado», e em cada parcela do território um Presidente do Governo Regional em ponto pequeno...

Sim, ponto pequeno, pois as verbas para a tal «obra dos últimos 30 anos» que se vê na Madeira, pura e simplesmente acabaram e, convenhamos, AJJ não pode ser confundido com um autarca qualquer, por muito bom que seja, a «reivindicar» e a «defender» a sua terra.

Por nós, não é preciso ir a referendo, a regionalização é assunto arrumado.

terça-feira, 27 de março de 2012

Regra que não é brincadeira

Tendo o Primeiro-Ministro dado o mote, o líder do PS veio responder que não aceita abrir um processo de revisão constitucional, para que na nossa Lei Fundamental passe a estar a chamada «regra de ouro» da UE, emanada da Cimeira de Bruxelas, do início deste mês, segundo a qual os estados-membros não podem atingir um déficit superior a 3% do PIB.   

Passando por cima da discussão técnico-jurídica, pois estamos em crer que os nossos constitucionalistas mais iluminados hão-de «torcer o nariz» à ideia, a questão é claramente política: saber se esta regra da UE tem de ser «metida» na nossa Constituição? Passos Coelho e Paulo Portas acham que sim, só para «fazer a vontade» à Senhora Merkel. É pouco.

Achamos que não, que é redundante e até pernicioso.
Quem são os constituintes dos «directórios» de Bruxelas?

Em primeiro lugar, o objectivo de fixar um limite ao déficit não carece da força do texto constitucional, bastando-lhe o «valor reforçado» da lei que aprova o orçamento.

Depois, há também aqui uma componente que tem a ver com a nossa soberania. Podemos ratificar e trazer para a ordem jurídica interna legislação comunitária, mas era só o que mais faltava, sobretudo quando temos outros mecanismos para fazer cumprir a tal meta, que fosse a UE a dizer o que entra e sai da nossa Constituição!

Por fim, já temos experiência comparada que chegue para vermos como os ciclos, tanto da UE como dos estados-membros são voláteis, e de como este tipo de norma constitucional é de aplicação directa, ou não, e acaba por ser uma «regra-fim».

Como se não bastasse, então, indo pela mesma lógica, a UE começaria por ditar que cada estado-membro tem de introduzir na sua Constituição uma norma segundo a qual os orçamentos seriam de «base-zero».

Mais importante que esta polémica constitucional, foi o anúncio do Ministro da Educação, que voltarão a existir exames nacionais na antiga 4ª classe, bem como no 6º e 9º anos. 

Há demasiado tempo que pais, professores, encarregados de educação, a comunidade em geral se queixa que «os miúdos saem da escola sem saber ler, escrever e contar». 

Ora bem:

Se as crianças portuguesas passarem a saber a tabuada «de cor e salteado», daqui por algum tempo o País saberá fazer contas, e não será preciso nenhuma norma da Constituição que diga que não se pode gastar mais do que aquilo que se produz. Essa é que é a verdadeira «regra de ouro».          
             

domingo, 25 de março de 2012

Passos Moreira da Silva

Sem arrebatar, pois não está na sua natureza e o momento recomenda cautelas, hoje, na sessão de encerramento do Congresso do PSD, vimos um Pedro Passos Coelho diferente para melhor, pegando no Partido e no Governo às costas e dali falando com humildade aos portugueses. 

Foi realista, elencou os pontos principais da agenda governativa, deu mostras de estar ciente dos problemas concretos que afligem  cidadãos, famílias e empresas (como desemprego e a coesão social), emendou a mão do Congresso «no tiro aos socialistas», e a todos convocou, desde os partidos da oposição aos parceiros sociais, para a gigantesca tarefa de cumprir os compromissos internacionais, a que o País se obrigou aquando do pedido de ajuda externa. Nessa medida, foi bastante razoável.

Faltou ir mais além que o reforço na aposta em «cumprir», o primeiro dos deveres, mas que é instrumental, porquanto o desígnio do País não pode esgotar-se no «caderno de encargos» da Troika nem no agrado às expectativas de Angela Merkel sobre o mais dedicado dos seus «pupilos».

Em todo o caso, há passagens do discurso que indiciam uma agenda própria de criação de riqueza em Portugal e da sua «mais-valia» no contexto de uma economia aberta ecompetitiva, como, por exemplo, a questão energética, a economia verde, o combate à desertificação de grande parte do território.

Vimos nestas «bandeiras» o «dedo» de Jorge Moreira da Silva, agora 1º Vice-Presidente da Comissão Política Nacional, a quem Passos Coelho, e bem, entendeu delegar a tarefa de coordenação política do Partido.

Jorge Moreira da Silva, que conhecemos há muitos anos, pelo seu perfil, muito próprio, pela conhecimento que tem das matérias que marcam a «agenda global», e por toda a experiência internacional que adquiriu nos diversos cargos que tem exercido «lá fora», está hoje entre os melhores quadros da vida política portuguesa e representa a geração que será chamada a guiar os destinos do País na etapa seguinte, pós-Troika.

Existirão outros, como Nuno Melo, pela banda do CDS/PP, ou Pedro Adão e Silva, do PS, só para ilustrar de entre os depauperados partidos, para não reduzirmos os «recursos humanos» do «capital de esperança» às fileiras do PSD.

Uma nota pessoal:

Há uns anos quando víamos algum caso de renovação, parecia tratar-se de alguém «distante», como que «inacessível». Hoje, damos por nós a pensar que nos tratamos por «tu». É algo «estranho» ver como o tempo é rápido e chama contemporâneos nossos à assunção de responsabilidades, assim mereçam respeitabilidade e possuam o talento e o espírito de serviço exigidos para o exercício da causa pública. Boa sorte, caro Jorge!        

Passos Sócrates


Se o primeiro dia do Congresso do PSD ficou marcado pela figura de Paulo Portas, no segundo pontificou o «fantasma» José Sócrates. Excepção feita a intervenções, em parte, como a de Jorge Moreira da Silva, Alberto João Jardim e mais um ou outro, na falta de «repertório», tal como o Senhor Presidente da República, também o órgão máximo dos social-democratas parece sentir necessidade de «exorcizar» a imagem do anterior Primeiro-Ministro, e assim expiar todo o mal.

É impressionante como no espaço de poucas semanas José Sócrates, ausente, calado, e «sem mexer uma palha» é repescado para a vida política portuguesa. O que será quando voltar e disser que quer falar?... especialmente quando achar por bem contra-atacar às purgas em curso contra o seu Governo, as quais fazem o delírio de incautos promotores.

Caso o Congresso tivesse terminado esta noite e a Pedro Passos Coelho não lhe sobrasse ainda a soberba possibilidade de se elevar no costumado discurso do encerramento, reservado para Domingo, onde poderá depositar rasgo e alma, alumiando o caminho, como lhe cabe, o XXXIV Congresso do PSD, numa palavra, quedar-se-ia por um «sofrível», isto, atendendo ao quadro geral dos partidos.

sábado, 24 de março de 2012

Passos Portas


Arrancou esta Sexta-feira em Lisboa o XXXIV Congresso do PSD. "Histórico", dizem os social-democratas. Na ordem de trabalhos está a revisão ao Programa do Partido, que não era mexido há 20 anos, bem como alterações aos Estatutos, para dar mais eficácia à organização e aproximá-la da «sociedade civil», com a introdução da figura do «simpatizante», por exemplo.

Vimos o discurso de abertura de Pedro Passos Coelho, qual aluno aplicado, dar conta do seu trabalho à frente do Partido e do Governo. Entendeu falar mais para a Troika que para os congressistas, daí o facto de ter resultado numa intervenção politicamente algo «chocha». É possivel que no encerramento venha com a alma mais confortada.

Mas histórico, mesmo, é o facto do «especial convidado», Paulo Portas, ter recebido o «anfitrião», Passos Coelho, em «casa» deste, com a naturalidade do «pastor» que vem »assenhoriar-se» do seu «rebanho».

Independentemente do modo e da forma, o certo é que a imagem de Portas a entrar com todas as honras naquela sala meio vazia, ainda antes do Congresso começar, assinala o início do processo de reconfiguração do centro/direita em Portugal. Neste momento, Paulo Portas está para a Coligação como um «Chairman» para a empresa, e Passos Coelho como o seu «CEO».

Tanto assim é que, findo o discurso do líder do PSD, a jornalista Anabela Neves, na recolha das reacções, começou uma pergunta a alguém dizendo qualquer coisa como «o que achou do discurso de Passos Portas?». Foi um lapso, claro, corrigido de imediato. Mas a tal imagem, que fica no subconsciente, não é lapso algum. Basta ver a 1ª Página do Expresso de hoje e somar as peças do «puzzle».

Se as freguesias, os municípios, até os países podem federar-se, por que é que os partidos não?

Esperemos que mais adiante esta questão seja ponto único da ordem de trabalhos de congressos, tanto do PSD, como do CDS/PP, como ainda de outros mais.

PS: Caso a norma da proposta estatutária seja aprovada, talvez alguém no PSD se lembre de atribuir, "cum laude", a Paulo Portas o cartão de simpatizante nº 1, por forma selar este momento "histórico".

sexta-feira, 23 de março de 2012

O povo é sereno


É claro que ninguém nega que houve greve geral.
É claro que todos viram muitos manifestantes.
É claro que sobejam razões aos portugueses para indignações e protestos.

Todavia, os sinais mais enigmáticos desta greve superam as palavras de ordem da CGTP.
O País não parou, nem pouco mais ou menos.
As centrais sindicais são as mesmas que emanaram do pós-25 de Abril, e tornaram-se tão obsoletas como os partidos as instituições democráticas.
A maioria dos trabalhadores não se sente representada em Arménio Carlos ou João Poença.
São figuras cansativas, com discursos do passado e tiques do passado.  

A questão que se coloca é saber por onde andam os «inorgânicos», os desalinhados, sobretudo jovens desempregados. Aqueles que não acreditam nem Governo nem na Oposição, mas  também não se sentem representados nos slogans dos «aburguesados» líderes sindicais.

Outra, mais subtil, tem que ver com as forças de segurança.
Terá havido um episódio de uso excessivo da força, muito difundido pelo facto dos agredidos serem jornalistas. A que se deve, então, tanta tensão e nervosismo?
Pelo parte dos sindicatos do sistema, podemos estar tranquilos que «o povo é sereno».
A haver surpresas na ordem pública portuguesa, virão sempre de dissidentes do próprio sistema ou de movimentos estranhos às organizações do costume. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Visto que o Governo não viu


O Governo anunciou hoje que o projecto do TGV (comboio de alta velocidade) será "definitivamente abandonado", depois do chumbo do Tribunal de Contas ao contrato do troço Poceirão-Caia.
O anúncio foi feito em comunicado divulgado pelo Ministério da Economia.

A nota adianta que o Governo vai analisar "com pormenor" os termos do acórdão do Tribunal de Contas, hoje conhecido, "de modo a defender o interesse público e os contribuintes portugueses". O comunicado refere que a decisão do Tribunal de Contas "vem, na perspectiva do Governo, encerrar a polémica em torno do projecto do TGV, que será, assim, definitivamente abandonado".

Ainda de acordo com a nota, o Governo reafirma que, em termos de redes ferroviárias transeuropeias, a sua prioridade está nas ligações de transporte de mercadorias a partir de Sines e Aveiro, visando "reforçar as condições para o aumento da competitividade das exportações portuguesas". (...)
Fonte: Lusa/Jornal de Negócios online, 21 de Março de 2012, 22:40

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Se o Governo queria abandonar definitivamente o projecto não precisava ter esperado e vir ao abrigo do "chumbo" do Tribunal de Contas, pois «de modo a defender o interesse público e os contribuintes portugueses», no lugar de ter andado a «engonhar» já tinha tomado a decisão.

Uma coisa é o TC não «dar o visto» ao contrato celebrado entre o anterior Governo e o consórcio das empresas adjudicatárias, onde detectou ilegalidades relativamente ao caderno de encargos para construção de um troço. Outra, bem diferente, é a decisão, da competência do poder executivo, de alterar, suspender, ou abandonar o projecto, sendo que esta última opção, assim, sem mais, apenas com uma referência vaga, a apontar agora para as redes transeuropeias a partir de Aveiro e Sines, parece-nos precipitada.

Sem embargo da tal análise «em pormenor» ao Acórdão do Tribunal, já era tempo do Governo ter feito uma análise «em pormenor» sobre o que quer. Não há Governo que possa acautelar os interesses dos contribuintes quando diz «sim, não e talvez» ao mesmo tempo. Era bom que o Executivo fosse para a próxima cimeira luso-espanhola com a posição portuguesa clarificada, nesta como noutras matérias.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Silêncio

Por um amigo com o coração dilacerado em dor.    

É fazer as contas

Na sequência do post anterior, oferece-nos dar título a este utilizando a expressão de um ex-governante, que ficou bem conhecida dos portugueses, cujo significado, em sentido figurado, tornou-se apropriado para ilustrar determinadas situações complexas.

Vem isto a propósito das respostas às perguntas formuladas, mais algumas «embrulhadas» que se lhes vieram juntar, e o abrir de mais trilhos para desembocarmos numa percepção, cada vez mais nítida, a qual começa a unir pessoas e correntes de opinião de um arco tão amplo que, poder-se-á dizer, em comum têm apenas a concidadania, mais a bandeira e o hino.

Vejamos:

Olli Rehn
Veio tentar confortar as almas, dizendo que a administração da «receita» pelo Governo do Programa de Assistência está no bom caminho, mas, repare-se na «subtileza», o Acordo é para ser cumprido à letra, não se comprometendo com avaliações antes de haver números, antes comprometendo os portugueses, quando insiste no «apelo» para que todos, incluindo parlamento e parceiros sociais, se empenhem nos «objectivos».

Espremido, «noves fora nada».

O que o Comissário Europeu veio fazer (não sem se eximir a falar na questão energética), foi tentar «segurar os cavalos», por um lado, começando também timidamente a sugerir que caso as metas não sejam alcançadas o problema não é «do médico mas do doente»... ele lá sabe por que é que meteu o parlamento e parceiros sociais no discurso... prevenir crise política latente, directamente ligada ao risco de convulsão social. 

Vítor Gaspar
Fez «o seu papel». Dizer aos portugueses, com o «padrinho» ao lado e tudo, que as entidades externas dão o «aval da palavra» , ou seja, que estamos no bom caminho, aproveitando, pelo meio, para acender uma pequena vela de esperança, com a «história» do alívio da carga fiscal, lá para 2014, quando a empreitada da aplicação das medidas em curso estiver concluída. 

O Ministro das Finanças está a aprender uns «truques» depressa. O que ele não sabe, é que o que ele «inda agora» vai aprendendo os portugueses pensavam que já tinham esquecido, fartos de saber que estão.

Sérgio Monteiro
O Estado não fez um duplo pagamento à Lusoponte, ouvimos. Mais adiante,  os mesmos ouvidos escutam esta coisa espantosa, que o Estado vai receber o que tem a haver da Lusoponte mais os juros!

Como é que é??? Se não foi feito duplo pagamento e se a lógica não fôr uma batata, então, o Estado nada tem a haver da concessionária... ou a Empresa decidiu tornar-se benemérita? Enfim... uma «fantochada».

A acrescer:

Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN
O líderes das bancadas da maioria pareciam aqueles «jotas» que horas antes da secretaria abrir vão para a porta marcar lugar, só para que o «genial requerimento» dê entrada antes do da lista adversária. Não é «golpe de asa», que isso seria engenhoso demais. É o mais baixo «chico-espertismo» elevado ao altar da Assembleia da República! Triste figura.

Passos Coelho, outra vez, sobre o Sec. Estado da Energia
Quando um Primeiro-Ministro, lado a lado com o Ministro da tutela, é que vem explicar, mais uma vez, os «porquês», algo vai mal. E nem é tanto pela prova de fraqueza do Ministro da Economia. Quando é o PM que tem de ser «bombeiro» de todo e qualquer «fogo» no Executivo, isso politicamente não só chamusca o Chefe do Governo, como, pior, põe a descoberto a falta de alguém que «dê o peito às balas».

Passos Coelho, a continuar neste afã, não governa, apenas acode. Quem o irá acudir depois?

Otelo
Se Jorge Sampaio, por ter sido apoiante de Otela Saraiva de Carvalho em 1976, não perdeu a sua capacidade eleitoral passiva, chegando a Presidente da República eleito, em 1996, não seria crime de lesa-pátria algum concordarmos parcialmente com o General.

Isto, na parte em que refere que o sentimento «da rua» clama por «um novo Abril», pelo menos no enfoque à decepção generalizada com os propósitos de 1974, e com a necessidade de uma opção nacional sobre o papel das Forças Armadas, que também não se sabe bem para que serve neste momento.

Em vez de dar «gasolina» às declarações proferidas, antes vejamos a opinião de alguém que, aferindo pela sua postura, não será propriamente um «pirómano».

Assim, transcrevemos o último parágrafo do artigo de opinião intitulado «Da necessidade de esperança», publicado na revista Visão, edição nº 992, de 8 de Março, pág. 39, da autoria de Pedro Norton:
"Não há revolução que não se alimente no luto da esperança do regime anterior. Todos os grandes políticos, em algum momento, perceberam isto. Nem que fosse, como foi o caso de Churchill, quando o desalento parecia tomar conta do mundo, para exortar o martirizado povo britânico a continuar a percorrer o inferno:«if you are going through hell, keep going». Implícita, temida, mas está lá. E não deixa de acenar dos confins do inferno." Fim de citação com bold nosso.

Dito isto, é fazer as contas.      

quarta-feira, 14 de março de 2012

Perguntas do dia

O que é que este Senhor vem fazer a Portugal? 


 Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos

Dizer: "Já mostrámos muita imaginação e especialmente responsabilidade na forma como devemos superar as dificuldades económicas de Portugal." Será isso?...  

E que é que este Senhor vai fazer à Comissão Parlamentar de Economia?

Sérgio Silva Monteiro, Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

Invocar a «5ª Emenda» para não se enredar mais no caso Lusoponte?
Será isso?

terça-feira, 13 de março de 2012

Talvez em franchising

Vítor Gaspar: "Especulação" sobre segundo resgate é "totalmente infundada"


O ministro das Finanças nega que Portugal necessite de um segundo resgate: "Esse tipo de especulação é completamente contrário aos resultados do Eurogrupo".

O ministro das Finanças afirmou hoje em Bruxelas que a "especulação" em torno da possibilidade de Portugal vir a necessitar de um segundo programa de assistência é "totalmente infundada" e "completamente contrária" à opinião do Eurogrupo.

Questionado no final de uma reunião de ministros das Finanças da zona euro sobre as notícias acerca de um eventual segundo resgate a Portugal, Vítor Gaspar disse que "esse tipo de especulação é completamente contrário aos resultados do Eurogrupo" hoje realizado em Bruxelas, que voltou a considerar que "o programa de ajustamento português está a decorrer de acordo com o previsto".

O ministro sustentou que "foi claro no Eurogrupo que em alguns elementos importantes" o ajustamento até "está a ocorrer mais rapidamente do que o inicialmente previsto no programa". (...)

Fonte: Expresso, Segunda-feira, 12 de Março de 2012, 23:59
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Senho Primeiro ..., desculpe, Senhor Ministro das Finanças: 

Com que então, V.Exa. funda-se nas previsões do Eurogrupo, hã?
Olhe, Senhor Ministro, não se apoquente com especulações, sim?
Caso Portugal precise de um 2º resgate, já ninguém será apanhado de surpresa. Caso não precise, óptimo!

Sabemos que o Governo tem um rumo bem definido:

Administrar aos portugueses a receita da Troika, mostrar-se exemplar para com aqueles que querem fazer de Portugal um «tubo de ensaio» para os seus experimentalismos macro-económicos, tudo, afinal, em consonância com as teorias da Escola de Chicago que serviram de inspiração por cá ao programa neoliberal em que se estribaram os neófitos dessa linha para mostrarem o seu quê de ideológico. 

Não há mal nenhum nisso.

São postulados há muito defensáveis. Embora requentados, com o refresh que levaram, apareceram por terras lusas a cheirar a novo do trinque, o povo sufragou-os  (bem... o povo o que quis foi castigar o Engº. Sócrates, mas adiante...) e depois, para coroar, veio o Acordo imposto pela ajuda externa, onde se deu a simbiose perfeita, «à fome juntou-se a vontade de comer».   

O problema, Senhor Ministro, é que a cópia nunca é tão boa como o original, e o Governo de que V.Exa. é Ministro de Estado e das Finanças tem andado, ultimamente, a dar muito «o dito por não dito», a chamar «adaptações» a «excepções», ora avança ora recua, descaradamente «forte com os fracos e fraco com os fortes», chegando ao ponto de incorrer naquilo que de pior, diziam, tinha o Executivo anterior: alimentar clientelas e deslumbrar-se com o capital.

Um dia ver-se-á que a maior pecha deste XIX Governo Constitucional nem foi ter optado por uma determinada orientação política. Antes pelo contrário. A orientação é que era um blush, com a cara lavada pelos ditames do Eurogrupo, safa pelos diktats externos e, pior que isso, pelo menos teoricamente, aquilo poderia ter virtude alguma perdeu-se na «deslealdade», para usar uma palavra em voga, do Governo para com os princípios que iriam observar, disseram a pés juntos, custasse o que custasse.

Onde é que já se viu anunciar a «grande» reforma administrativa do País, e agora recuar, optando por uma coisa mitigada, do tipo «nem é carne nem é peixe»?

Onde é que já se viu vender um banco e de seguida injectar capital nessa instituição, sem mostrar o contrato aos portugueses?

Onde é que já se viu «brincar» com a privatização da RTP, como se fosse uma «cenoura»?

Onde é que já se viu, aí sim, deixar alimentar as maiores especulações, sobre a privatização de sectores estratégicos do Estado, como o caso da distribuição dos lucros da EDP, ou agora a TAP e a CGD, cujo destino os contribuintes nada sabem da boca de V.Exa.?

A lista começa a engrossar, Senhor Ministro.

Estamos em crer que se era para  este «zig-zag», mais valia um gerir o País sob um contrato de franchising.

Tinha várias vantagens:

Cumpriam-se os «objectivos» dos credores.
As «reformas» eram mesmo levadas «a direito».
Não havia tanta especulação.
Poupavam-se muitos milhões ao Orçamento do Estado. Não havia cá «abébias» para ninguém, e V.Exa., então aí, era a pessoa indicada para «gerir a loja», pois nem era necessário haver Primero-Ministro, o qual, de resto, parece estar a desquarar um tanto no seu papel de Chefe do Governo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Portugal está a saque


Interrogamo-nos:

De que vale sermos cidadãos atentos e informados?
De que vale estarmos cientes dos nossos deveres cívicos?
De que vale procurarmos intervir e fazermos ouvir a nossa voz?
De que vale acreditarmos nas Instituições que regem o nosso destino colectivo?
De que vale acalentarmos esperança na força da sociedade civil?
De que vale metermo-nos onde não somos chamados?
De que vale tomarmos por boas as leis que nos regulam?
De que vale pagarmos impostos?
De que vale votarmos?
De que vale contarmos para a «estatística» de um Estado que só é de Direito Democrático na forma?

Afinal, de que vale escrevermos isto?

Vale muito, vale a nossa dignidade, vale tudo. Vale a liberdade.

Para quem nasceu na década de 70, com o 25 de Abril, resta-nos o que resta de Liberdade.
No mais, reconhecendo os progressos que estão à vista, o País foi arrastado para um tremendo fiasco.

Portugal hoje, mais que «amordaçado» e mais ainda que «à rasca», está «a saque».

Sobram três hipóteses:

Deixar «a banda passar», e cada um fazer o que pode para «salvar a pele».
Desistir, «meter a viola no saco, e emigrar para longe.
Parar de ser tomados por «patetas alegres»:
Denunciar a corrupção política que campeia, dispostos a tombar numa arena desigual, tipo circo romano.
Quem nada tem a perder, tudo tem a ganhar.

domingo, 11 de março de 2012

Ridículo: isto só vídeo


"Video showing white European woman facing down Chinese, Indian and Brazilian fighters is withdrawn after outcry".

Quando vimos pensámos tratar-se de uma brincadeira de mau gosto.
Mas não... o vídeo, entretanto retirado, foi mesmo da responsabilidade da Comissão Europeia.

Será que aquelas imagens são um reflexo do que vai na cabeça do «directório» de Bruxelas?

O problema não é um simples erro. O problema é a mensagem que o erro transporta: 
O tamanho da estupidez promovida a propósito de uma iniciativa tão prosaica como tantas outras, todos os dias levadas a cabo. O que também denota desorientação, balbúrdia, frenesim e ausência de rumo.  

Que confiança podemos ter nas instituições europeias para decidir sobre as questões de suma importância? Pois nem um vídeo sabem fazer... ou melhor, nem sabem da ridícula caricatura que fizeram de si próprios. 

sábado, 10 de março de 2012

Sócrates is back


Não há ninguém que não saiba: Cavaco Silva era cirúrgico no uso meticuloso dos tempos e dos termos de cada palavra ou gesto. Era. Foi. Até à noite da sua reeleição para o último mandato, e ao tal discurso da vitória no CCB.

Desde Janeiro do ano passado para cá passou-se ali qualquer coisa... a previsibilidade acabou. Se nos últimos tempos do primeiro mandato o «sentido de Estado» servia, como razão legítima, para cobrir silêncios que muito a muitos exasperava, as «granadas» posteriores deitaram abaixo a primeira das supostas qualidades presidenciais.       
   
Depois da mais recente «intervenção» do PR, desta vez escrita, tudo pode ser dito.
Apesar desse «tudo», é mau para o País que se use e abuse desse «direito», por ínvios caminhos outorgado.
Basta dizer que Portugal, politicamente falando, está sem Presidente. Esta bizarra «vacatura» talvez seja a metáfora maior para o desabamento da III República. 

Curiosamente, por paradoxal que pareça, a «révanche» de Cavaco Silva sobre o seu anterior Primeiro-Ministro, em vez de o «incriminar», resgata José Sócrates, que não devia esperar receber tão cedo tamanha ajuda para partir do «exílio» e voltar à cena política portuguesa. Para Belém, obviamente. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Chapéus há muitos



Até há uns anos, quando o dinheiro era barato e o crédito fácil, os bancos assediavam os clientes de todas as maneiras e feitios.
Antes da «crise do subprime» valia tudo: gestores de conta, muito atenciosos, ofereciam carradas de «produtos» como se fosse «a última cerveja de Ibiza». Cartas com dedicatórias e cheques já assinados. Ofertas de cartões de crédito «gold, platina e premium». Vantagens adicionais, como viagens, vouchers para hotéis e spas, enfim... um fartote de «luxos asiáticos» para os comuns dos mortais. 

"O mundo mudou em 15 dias", dizia um ex-Primeiro-Ministro. Hoje em dia, receber «brindes» dos bancos, como uma agenda pelo Natal, é distinção reservada aos depositantes/mutuários «classe A».

De há uns tempos a esta parte, o que «está a dar» é este «segmento»: seguros. Auto, casa, roubo, vida, saúde, dentes, responsabilidade civil profissional, desemprego, etc. Tudo se segura, sempre nas condições mais favoráveis para os segurados, pois claro.

Vai daí, ao abrirmos a correspondência, quando damos conta, desde contratos de apólice prontos a assinar, passando por «benefícios» indexados a esta ou aquela instituição de que sejamos membros. Seguros, inclusivamente, que não sabíamos ter nem pedimos. São «coberturas» que nunca mais acabam. As letras miudinhas não são para aqui chamadas...

As campanhias seguradoras, através dos bancos, seus donos, também «aceitam» países. O problema é que, sem «altos prémios», como vimos na Grécia, qualquer dia ficamos sem crédito e sem seguros.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ir parar ao Gaspar

O povo português, apesar de não ser dos mais informados, é muito sábio.
Relaciona os factos históricos com o saber das experiências feitas, e intui sobre as páginas do seu quotidiano com a argúcia própria do seu caldo de culturas.   

Caso um extraterrestre aterrasse no nosso território, à procura de uma explicação para a encruzilhada portuguesa, melhor que dirigir-se a políticos, jornalistas ou comentadores, seria dirigir-se ao «cidadão comum», que obteria resposta rápida. 

Ouviria mais ou menos isto:

Sôr ET, sabe o que se está a passar na Grécia, não sabe?

Pois então... os gregos estavam aflitos, com muitas contas para pagar. Como não podiam pagar, nem as dívidas nem o leitinho para levar para casa, começaram todos à pancada. Os países mais ricos da CEE ou a UE, ou como é que se diz, primeiro não fizeram caso. Mas depois, quando perceberam que se eles nunca mais pagassem as dívidas, o problema ia cair-lhes em cima, decidiram então emprestar-lhes o dinheiro, e foram lá uns senhores, para saber quanto é que era preciso com juros e tudo.
Olhe, a coisa foi andando, mas o dinheiro foi-se sumindo, e aquilo está que é a desgraça que se vê. Esses senhores já voltaram lá várias vezes, e agora dizem que os gregos aldrabam tudo e querem é viver à conta.

Cá em Portugal não foi bem assim. É verdade. 

O Eng.º Sócrates, e os outros antes dele, foi um tal fazer buracos. Gastaram tudo o que tinham e que não tinham, que até metia pena ver a agonia do Ministro das Finanças, aquele do cabelo branco, que chegou a um ponto que já não tinha para pagar os ordenados e as reformas. Sim, senhor, é verdade. Então, à última hora, mesmo à rasca, o PS mais o PSD e mais o CDS, fizeram um acordo com a essa coisa da Troika. 

Se eles enviassem o dinheiro, a gente fazia tudo o que eles dissessem. E assim foi. O Senhor Presidente da República também disse que sim, mas que não assinava, que os Partidos que fossem.

O problema é que agora, aquele rapaz novo que está no lugar do Sócrates diz que quer fazer tudo certinho, para não nos chamarem aldrabões, como aos gregos. E é só cortes e cortes e mais cortes. Ele é muito amigo daquela que manda, da patroa, a da Alemanha. Ele sabe que a gente nunca mais pode pagar aqueles milhões todos. Mas diz que vamos aguentar até ao fim, custe o que custar.

E sabe porquê, Sôr ET?

É para eles não poderem dizer que a culpa foi nossa. Isto está a sair-nos do couro e há muita gente a passar mal. Mas se os gregos são espertos, nós ainda somos mais que eles. Quando chegar ao fim do ano, aqueles da Troika, aí é que vão ver. Pois se a gente fez tudo como nos mandaram! Com que cara é que eles vão ficar? Ou enviam mais dinheiro outra vez, ou então arranjam lá outra maneira de desenrascar, que isto assim não dá para aguentar mais. É que se nos apertam muito que vão mandar mas é lá para a terra deles. E para o Governo, se não houver outro, fica mesmo aquele, o Gaspar, que parece todo mansinho mas para meter os dos partidos na ordem, dizem que não há igual.  

quarta-feira, 7 de março de 2012

Avonda!

Foto: Miguel Baltazar/Jornal de Negócios

Dia de debate quinzenal com Primeiro-Ministro no Parlamento.

Três questões a marcar a discussão entre ilustres governantes e lídimos representantes do povo.

QREN: anunciada uma «Comissão Interministerial de Orientação Estratégica dos Fundos Comunitários e Extracomunitários», composta por sete ministérios e liderada pelas Finanças. Assunto resolvido.

Lusoponte: o Chefe do Executivo explicou tudo, muito bem explicado, mas alguns deputados é que não perceberam nada. Problema deles. Caso encerrado.

Deputada Heloísa Apolónia: atirou ao PM que a avó costumava usar a expressão «tenha avondo!». Giro.

«O que é demais, põe-se na rua», diz-se noutras terras de Portugal.

terça-feira, 6 de março de 2012

Ontem, hoje e amanhã

(imagem «desviada» algures na net)

Ontem, pela entrevista do Primeiro-Ministro à Bloomberg, éramos um «case study».
Hoje, pela informação que nos bombardeia, estamos «à beira do abismo».
Amanhã, pelas pedras da nossa calçada, veremos «o passo em frente».

Entretanto, está tudo calmo. Muito calmo. Calmíssimo.
Tomara saber o que virá atrás desta calmaria toda...
Das «lonjuras» de Espanha não chegará «vento», acredita o Governo.
O Governo, realmente, é muito crédulo.
Tão crédulo que deve achar que os portugueses «vão na cantiga». 
Portugal e oito séculos de História, não é um país para «rapazolas». 

A passos de um «case study»


Para não falarmos do QREN e do «tiro ao Álvaro», passemos ao «tiro à Bloomberg» do Primeiro-Ministro:

Passos Coelho: "Dentro de alguns meses Portugal será um caso de sucesso mais favorável"Na entrevista que deu à Bloomberg, Passos Coelho fala claramente para os mercados. Afasta a possibilidade de Portugal reestruturar a dívida e confia que no final deste ano o país terá outra imagem junto de analistas e investidores, a tempo de regressar aos mercados em 2013. Se tal não acontecer, devido a motivos externos, o primeiro-ministro diz que o programa de ajuda pode ser estendido. (...)
Ler mais:
(Fonte: Jornal de Negócios online, 05 de Março 2012, 23:48)



"Portugal não vai alterar metas do défice"
Primeiro-ministro Passos Coelho garante que "de maneira nenhuma" seguirá o caminho de Espanha.

Ler mais:
http://aeiou.expresso.pt/portugal-nao-vai-alterar-metas-do-defice=f709314#ixzz1oIfGKD1Q
(Fonte: Exame/Expresso, Terça feira, 6 de março de 2012, 0:35)

Fica a pergunta:

Se Portugal não regressar aos mercados em 2013, «devido a motivos externos», como diz o PM, será sinal que a conjuntura económica portuguesa e da zona euro não inverteu a tendência recessiva, dizemos nós.

Ora, sem mais receita, sem mais produtividade, sem mais competitividade e sem mais exportações, seremos obrigados a um 2º plano de assistência financeira.

Para um cenário desses (que Passos Coelho afasta, tal como José Sócrates afastava o FMI, ou certos governantes que refutavam a gestão danosa das PPP´s) há-de haver um «plano B».

Já alguém fez as contas aos juros e por quantos anos mais duraria a «hipoteca do PIB» nacional? 

Eu não quero, ninguém quer, passar o resto da vida com o nosso País hipotecado. 

Honrar os compromissos, cumprir os acordos? Sem dúvida. Mas adorar «vacas sagradas» e nada fazer para que a UE perceba que está a cavar a sua própria «sepultura», isso é que jamais. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

PPD/PSD+CDS/PP=PP



É claro que, após a experiência do 2º Governo de Sócrates, o XIX Governo precisava de uma maioria.
É claro que, mesmo com um Governo de maioria, a execução do «Programa», ainda assim, precisa do PS.
É claro que a Coligação de Governo PSD+PP está coesa e tem sido solidária.

Agora:
Que, de facto, os membros do Governo que pertencem ao PP estão em posições mais confortáveis, e têm sido «populares» apesar do momento de impopularidade do Executivo, lá isso, ninguém pode negar.

Não se diga que esta evidência é um «delírio» de Alberto João Jardim, o qual, note-se, há muito que defende a criação em Portugal de um «bloco de centro/direita».

A haver ironia aqui, é que, entre AJJ, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, dos três, é o líder do PSD o maior opositor da ideia, sendo que, independentemente das opções tácticas e intendências de permeio, AJJ e PP confluem no propósito federador a jusante, como toda a gente sabe.

Algo de semelhante à reorganização político-partidária que deu origem ao Partido Popular espanhol em 1989, o que, em Portugal, há quem creia, teria acontecido antes disso, caso o projecto da AD não tivesse sofrido o golpe do desaparecimento de Francisco Sá Carneiro.

Adiante:
Nada disso impede que, no uso da comunicação e da imagem, a «dar caixas» aos jornais, regra geral, os membros do CDS que estão no Governo denotem «mais escola».

Veja-se, por exemplo, o anúncio do Ministro Pedro Mota Soares, que iria criar uma cantina social em cada concelho do País, quando a medida, em rigor, trata da transferência para as IPSS´s da verba prometida pelo Governo, no âmbito dos protocolos de cooperação celebrados entre o Estado e tais instituições.

É isso que «enerva» um certo PSD. AJJ sabe disso melhor que ninguém. A nível regional, também não quer ouvir falar do CDS. Mas tudo isso é táctico, incluindo a reacção de Paulo Portas às declarações do líder do PSD/M. O que AJJ quer dizer a Pedro Passos Coelho é que o Ministro dos Negócios Estrangeiros tem uma estratégia. O que não é coisa pouca.

domingo, 4 de março de 2012

95,5% gregos

foto: Paulo Spranger / Global Imagens

Pedro Passos Coelho foi esta noite reeleito Presidente do PSD, com 95,5% por cento dos votos expressos dos militantes do partido.
Vimos, em directo, e ainda há pouco, o Primeiro-Ministro fazer uma declaração e responder a perguntas da comunicação social sobre estas eleições internas...

A aferir pelo tom, pela expressão, e pelo alcance das palavras de Passos Coelho, a narrativa só nos merece um comentário:

score dos 95,5% alcançados dentro do PSD hão-de chegar para que o Presidente do Partido cumpra os dois anos de mandato, agora renovado, e em que vai ser reinvestido brevemente, no Congresso do Partido, a 23, 24, e 25 deste mês. 

Todavia, quanto ao pulsar do País relativamente ao Governo, esta vitória vale pouco mais que nada. 
A Legislatura vai até 2015... ninguém sabe se Passos Coelho e a Coligação que governa duram até lá.

Esta desconfiança, retratada no rosto do próprio esta noite, é fatal. Não para a pessoa do Primeiro-Ministro, que ninguém duvida do mega-esforço a que é obrigado, e do peso do fardo que carrega, por inerência da mais exigente das funções. Mas fatal para Portugal, onde, cada dia que passa, mais se vê no Chefe do Executivo um George Papandreu, no Secretário-Geral do PS um Antonis Samaras, e no Senhor Presidente da República um Durão Barroso. A Grécia.

sábado, 3 de março de 2012

Notável


A par das biografias, nos últimos tempos, a edição em Portugal do género literário «romance histórico» tem sido abundante. Não sabemos explicar este fenómeno... talvez neste contexto nacional e europeu de dúvida e angústia as pessoas procurem no passado as figuras de referência que lhes faltam no presente.

Disso é exemplo «A Marquesa de Alorna», da escritora Maria João Lopo de Carvalho (edição da Oficina do Livro). Notável.

Recomenda-se vivamente, para quem queira conhecer a dimensão invulgar e extraordinária de D. Leonor de Almeida Portugal, condessa de Oeynhausen e 4ª marquesa de Alorna, revisitando também, desse modo, o período histórico que vai do terramoto de 1755 até ao fim das lutas liberais e ao reinado de D. Maria II.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Vai tocar a rebate


Os partidos do Governo deverão aprovar hoje no Parlamento a proposta de Lei que fixa os critérios para extinção de centenas de freguesias e abre a porta à fusão de concelhos, aliciando os autarcas com crédito fácil.
Dispõe o artigo 14.º, n.º 4 que "os municípios criados por fusão têm tratamento preferencial no acesso a linhas de crédito asseguradas pelo Estado e no apoio a projetos nos domínios do empreendedorismo, da inovação social e da promoção da coesão territorial".
Municípios e freguesias que avancem para processos de fusão e extinção (que só para as freguesias são obrigatórios) beneficiam ainda de um aumento em 15% nos fundos de garantia municipal ou de financiamento das freguesias, conforme o caso (...)
(Fonte: Expresso, 01 de Março de 2012)

O actual mapa autárquico está desfasado da realidade.

O País precisa de uma reorganização administrativa territorial das suas freguesias e municípios.

A reconfiguração deve obedecer a critérios que emanem de uma estratégia muito mais ampla e profunda que os meros «cortes da Troika».

Agora, em reforma tão sensível, por «tocar no nervo» das populações - especialmente quanto às freguesias que não pertencem aos maiores concelhos urbanos, e aos municípios do interior - o exemplo tem, obrigatoriamente, de «vir de cima». Primeiro, o Estado central. Depois, as Regiões Autónomas. De seguida, os Municípios. Só depois as Freguesias.

Inverter a sequência lógica desta pirâmide, em que estes quatro níveis de Poder assentam, é atear fogo para cima dos fregueses, dando-lhes motivos para que os sinos toquem a rebate por todo o País.

Por outro lado, tentar fazer esta reforma acenando com «a cenoura de mais uns milhares de euros», não é só um erro político que revolta as populações. É um descarado convite à corrupção e uma repugnante cobertura aos mais reles dos caciques.

Pois se o Estado tenta «comprar» os autarcas, como é que estes, pensarão, não hão-depois sentir-se impunes e no direito de corromper os eleitores?         

Ver Proposta de Lei 44/XII - regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica:

quinta-feira, 1 de março de 2012

The Iron Meryl Steep

Meryl Streep ganhou o Óscar de «Melhor Atriz», pela interpretação em «A Dama de Ferro».
Soberba. 

Para quem esperava outra coisa que não a doença de Alzheimer, o filme é a exploração da enfermidade de Margaret Thatcher. 
Decepcionante.