segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A coincidência fará dupla?


Sobre as presidenciais, o Prof. Marcelo, instado há sucessivas semanas por Judite Sousa, já não podendo adiar mais, foi enxuto, digamos assim. Não vimos ali truque nem malabarismo.
 
Vimos um homem honesto sem deixar de ser prudente na análise. Cauteloso sem disfarçar quanto a sua circunstância o apoquenta.
 
Todavia, Marcelo parte de um premissa que tanto é defensável como controvertida. A tese da dupla, por causa sobreposição do calendário. 
 
Como se fossem tickets, à americana.
Como se cada dupla estivesse inextricavelmente comprometida na sorte e no azar.
Como se não se tratassem de eleições distintas para o exercício de funções distintas.
Não parece crível que os portugueses queiram colocar "os ovos no mesmo cesto" em 2015 e 2016.
 
Para além de uma crise política no Governo ou um tumulto no PS, o que pode vir baralhar tudo?
 
Passos Coelho não ser o candidato a Primeiro-Ministro do PSD. 
O CDS/PP não se apresentar com Paulo Portas na liderança do Partido.
 
Aí é que se trocam as voltas a Pedro Santana Lopes, Durão Barroso e Marcelo Rebelo de Sousa, por esta ordem. Sendo que isso seria melhor para Marcelo ou Rui Rio. Ou Marcelo e Rio, cenário que o Professor se esqueceu ou não quis dizer, para não baralhar a tal dupla. 

Posse com propriedade

 
 
A tomada de posse de Rui Moreira, que mereceu ampla cobertura mediática, foi uma cerimónia muito digna porque foi um acto bonito. 
 
Por causa da cerimónia em si mesma ou do discurso, em que o novo Presidente da Câmara do Porto apontou o seu caminho? Não propriamente. 
Por causa do significado de certos actos, gestos e presenças.
 
A posse de Rui Moreira mostrou que a tradição também se recria. 
Em certa medida, em função da especificidade de cada Município, as posses deviam ser mais assim.
 
No fundo, trata-se de elevar a dignidade institucional de cada vila ou cidade a um patamar mais alto e mais amplo que os despiques das campanhas eleitorais, as cores das listas, as simpatias pessoais ou os limites territoriais dos concelhos.
 
É bonito ver o Presidente de Câmara cessante comparecer à posse de quem lhe sucede.
É bonito ver os sucessores dedicarem uma palavra a quem lhes antecedeu.
É bonito ver Presidentes de Câmaras de outros Municípios, vizinhos ou não, presentes.
 
A estética é elementar à ética política.
 
O poder local, em que se alicerça a organização territorial do País, só tem a ganhar quando a lealdade maior de cada um é para com a bandeira da freguesia ou município que é de todos, e quando o sentimento colectivo de legítimo orgulho em na sua freguesia ou município tem a grandeza de abrir as suas portas aos outros, sem bairrismos desproporcionados ou complexos de escala.
 
A coesão intermunicipal, tal como a identidade de cada comunidade, depois transpostas para a marca identitária nacional, una, dependem  em muito dos factores tradição e inovação, para a vitalidade de bens que afinal constituem-se e afiguram-se como inestimáveis valores públicos.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Bem de raiz



Tal como fizemos notar, perpassou da "narrativa caprichosa" de José Sócrates um tom que, aquilatando pela linguagem, convocou, acrescentamos, a imagem patusca das repúblicas de Coimbra, onde citar autores, fuzilar generais, revelar conspirações, escrever sebentas e  descobrir parentelas, tudo serve para aquecer o caldo da conclusão que o poder é um efe-érre-á. E que no regresso, de Paris para cá, é permitido tratar todos abaixo de pá. Enfim, a tipicidade de um deslumbre pedante, que quando não desbastado aos 20 torna-se perigoso.

Pedro Santana Lopes, mordazmente visado por Sócrates, ontem à noite na CMTV teve ocasião para dar resposta e comentar a "entrevista" mais falada nos últimos dias em Portugal.

A palavra de PSL eleva-se e obtém vencimento naturalmente, como podemos ver:
 
Apenas uma nota.
 
Para lá da defesa da honra e da abordagem às questões políticas, onde arrumou o opróbrio e soprou a pluma, Pedro Santana Lopes demonstrou outra coisa, muito simples. Um bem de raiz.

Não há tese ou mestre que colha sem um pingo de humildade e uma colher de chá.

sábado, 19 de outubro de 2013

Narrativa caprichosa



Sobre a entrevista exclusiva de José Sócrates, hoje estampada na Revista do Expresso, isto:
 
Da conversa com Clara Ferreira Alves resultou uma “narrativa” interessante, sem dúvida. Sobretudo porque o ex Primeiro-Ministo "abriu mais o livro", denotando a ânsia de provar que não é destituído intelectualmente, que aprendeu alguma ciência política nos últimos tempos, e que ainda não lhe passou o sabor azedo dos últimos cálices que bebeu à frente do Governo.
 
Do ponto de vista humano, é compreensível que Sócrates sinta necessidade de partilhar, tanto com o espelho como com o público, quer o sentimento de injustiça que o corrói, quer a capacidade que teve para iniciar uma nova vida académica e profissional, ademais bem sucedida. Neste domínio, Sócrates foi mais igual a si próprio e isso legitima o respeito que lhe é devido, pois há uma personalidade combativa que lateja no seu ser.
 
Do ponto de vista político, a entrevista, no mínimo, é acidentada. Da nossa leitura ressoam três indicadores de desnorte. Sócrates põe-se "a jeito". Quando trata o mandato popular como "um favor". Quando, por outro lado, não resiste a "falar de cátedra" para os seus camaradas socialistas sobre ideologia, como se a 3ª Via, subliminarmente proposta, fosse caminho para lado algum que não nenhures, parecendo ainda não estar desperto para a aurora revisionista da social-democracia. E quando releva um certo snobismo ao falar da direita, elevando-se à condição de "desejado", cavalgada em que arrasta Durão Barroso para o "altar-mor" do patriotismo.    
 
Por último, há um aspecto decisivo a salientar na entrevista de José Sócrates, o qual seria bom que não passasse em branco: o papel da entrevistadora. Não será preciso lupa para encontrar na narrativa o melhor linho da pena de Clara Ferreira Alves. Basta atentarmos no tom do linguajar... se as motivações de Sócrates são razoavelmente conhecidas, concedendo-se que carregue na tecla das suas feridas, já sobre a empatia, para não dizer osmose, revelada na harmonia entre entrevistadora e entrevistado, isso será mais imperscrutável.
 
Talvez a distância entre o capricho e a remissão seja uma pluma, num restaurante italiano. 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

É pura política!

 

Sem embargo e com a devida vénia à intervenção de Pedro Silva Pereira, sobre o caso Rui Machete, gostava de ter visto alguém na Assembleia da República ter dito isto:

 
É precisamente pelo facto do caso não ser jurídico mas político e do Senhor Ministro, como bem afirmou, não ir à Comissão da AR na condição de réu para a ser julgado, que a argumentação "técnica" que tentou aduzir, quando metida numa fatiota de Estado que rasgou pela costura dispensa um "julgamento" sobre algo tão relevante para a soberania e o seu órgão executivo/Governo.

 
Donde, a devida ponderação política da lesão em causa determina, hoje como há 30 anos, que o Ministro seja exonerado, de preferência a seu pedido, a bem dos tais valores que o titular invoca, quando bem se queixa da ética estar muito arredada da vida da polis.

 De facto, não é uma questão de direitos de personalidade. É pura política!
 
Para ser nobre, carece aqui de um só gesto: papel, caneta, e uma carta datada, assinada e entregue ao Primeiro-Ministro. É por isso que o cidadão servidor da causa pública vê-se confrontado com o "sacrifício" das funções que exerce em favor da preservação da dignidade do Governo, do Estado, e de si próprio.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Porto de Honra



As eleições autárquicas do passado Domingo servem de mote a todo o tipo de comentários, análises e estudos, à luz de uma leitura nacional dos resultados em que cada um elege o prisma da sua afeição. Tanto assim é que vários protagonistas cantam vitória.

O PS, a CDU, os Independentes, o CDS… até o maior derrotado, o PSD, consegue demonstrar por números que, contados todos votos expressos, e tendo por referência a votação dos socialistas, afinal, a derrota acabou por não ser tão pesada como parece, pois caso de eleições legislativas se tratasse António José Seguro estaria longe de obter uma maioria absoluta.
 
Optamos por centrar o nosso olhar no PSD, eixo estrutural do sistema de partidos, o parceiro maior da Coligação de Governo e historicamente a organização política mais alicerçada no poder local.

1. O resultado do Porto é paradigmático. Há dois PSD´s: o das estruturas e o dos eleitores. O PSD dos eleitores está farto do PSD das estruturas. Se assim não fosse Rui Moreira não teria ganho a Câmara da Invicta. Tal como a maioria das vitórias nas 13 Câmaras Municipais onde ganharam listas Independentes resulte de dissidências, onde os eleitores social-democratas decidiram sacrificar o Partido;
 
2. Depois, descontando o Porto, já falado, as derrotas do PSD nos maiores centros urbanos (sem esquecer algumas «ilhas» dispersas pelo País, como Braga, Viseu, Aveiro, Santarém, Cascais, Faro, Ponta Delgada), o PSD praticamente desaparece nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, o que significa que, para além de um voto de protesto ao Governo, o PSD tem muita dificuldade em criar relações de confiança e de proximidade com os sectores mais dinâmicos da sociedade, onde tradicionalmente tinha implantação;
 
3.Segue-se que na distribuição geográfica da força laranja, o PSD é praticamente varrido a Sul do Tejo, é afastado do litoral e fica muito encurralado no Norte Interior. Com o agravante de ser quase expulso das Regiões Autónomas, que durante décadas foram bastiões social-democratas.
 
Ora, estas três questões comprimem e exercem uma força tenaz sufocante sobre um Partido geneticamente vocacionado para exercer o poder e que, de repente, vê-se confrontado com a vertigem de um abismo enorme: não caber dentro de si próprio.
 
Donde, é quase inevitável que seja irreprimível a tendência para ajustes de contas e purgas internas, pulverizando, tal como na representação geográfica, a consistência de um aparelho, cada vez mais representativo de si mesmo, e o lastro ideológico-programático, cada vez mais carcomido.
 
Tudo concorre para que o PSD, depois de 2015, seja confrontado com um dos seus traços instintivos mais genéticos. A capacidade de se regenerar para sobreviver, começando tudo de novo. Se assim não for, o risco da implosão é cada vez mais real.
 
Nesta voragem partidária em curso, o outro maior partido estruturante do sistema incorrerá num erro enorme caso entenda que vive num mar de rosas. Não vive. O PS também vai ter o seu Porto.
 
Falta o tempo dos portugueses se desiludirem com a maioria das 150 presidências de Câmara conquistadas nestas eleições autárquicas, tal como com o Governo de Seguro, Costa, ou outro, que há-de vir.