terça-feira, 14 de junho de 2016

Islândia


Já há anos que tenho curiosidade em conhecer a Islândia.
 
Hoje, fiquei determinado a ir lá, mesmo. Para perceber o bom momento que aquele Povo atravessa, como deram a volta à bancarrota e ao terrível espectro de um futuro inviável.
 
A atitude dos jogadores Islandeses revelou uma grande auto-estima colectiva.
 
O resultado alcançado não pode ser fruto do acaso, ou mesmo da ineficácia da nossa Selecção.
 
Enfim, um balde de água fria. 
 
Uma lição.

domingo, 29 de maio de 2016

A missão de educar

Encontro vantagens nesta polémica sobre os contratos de associação entre o Estado e os Colégios privados. Temos aqui uma oportunidade soberba de clarificar. Não só as responsabilidades das famílias, das comunidades e do poder público, quanto ao financiamento da Educação, mas também, em última análise, quanto à separação das águas entre o Estado e a Igreja Católica.
 
É claro que se trata de uma opção a que os pais, famílias e educadores têm todo o direito. Porém, essa questão, posta a jusante, está mal posta. O "direito a optar" não é sobre se a criança deve ir para a escola pública ou privada. Isso é cair num mar de facilidades que só aproveita ao Governo, enquanto bom administrador, que deve ser, dos dinheiros públicos.
 
O verdadeiro direito, a montante, o direito potestativo, requer que deva começar por discutir-se o plano dos conteúdos, dos programas e dos conceitos. Dos valores e do compromisso que cada família ou responsável acredita dever legar às crianças e jovens.
 
A missão de educar pode, perfeitamente, não aceitar a proposta educativa estatal e fundar-se noutra melhor. O que não pode é não ter outro programa que não seja arranjar um nome "beato" (é bem) para a escola, qual manto diáfano para o que ali vai, e depois mais não ter mais para apresentar que a pretensão de um subsídio!
 
É claro que onde não há outra resposta a parceria resulta num assim-assim. Acaba por ser melhor que nada. Mas é frouxo.
 
Por outro lado, pode e deve discutir-se qual o papel da escola pública no contexto da comunidade nacional, porquanto todos pagam impostos...
 
Pois... mas aí a questão é outra: o Estado reflecte ou não os valores da comunidade?
- Afinal, na hora de votar, quem elegemos?
- Será que fazemos as perguntas essenciais aos partidos e aos candidatos?
- Será que participamos a fundo na discussão de matérias que tudo têm a ver com a raiz matricial da nossa identidade colectiva?
 
Estou em crer que, tanto a propósito da Educação, em especial, como, em geral, da engenharia social em curso, (aquela cujo vértice está prenhe de um niilismo galopante sobre a dignidade da pessoa humana), os católicos e a maioria dos portugueses irão acordar, agora mais cientes que a ideia de civilização que temos não está adquirida.
 
Não dá, portanto, para que cada um diga Sim, Senhor e depois se demita, deixando a banda passar. Contra mim falo.

domingo, 15 de maio de 2016

O 35º título do Benfica

Quando o treinador Rui Vitória chegou ao Benfica, tive a impressão que se tratava de um homem de boa índole. Mas cheguei a duvidar sobre se teria fibra para comandar um barco tão grande.
 
No início da época - cheguei a ver em Alvalade - o SLB parecia condicionado psicologicamente pela saída de Jorge Jesus, especialmente nos jogos com o Sporting. Ante o rival, os jogadores do Benfica pareciam desorientados e aturdidos. Tinham medo.
 
Que se passou depois?
 
Rui Vitória foi fazendo o seu trabalho, resistiu às primeiras tribulações, ultrapassou aquela fase de tibieza e foi-se impondo naturalmente. Foi conquistando autoridade no balneário, respeito entre os adeptos e simpatia do público, em geral.
 
Por seu turno, Jorge Jesus, após uma excelente arrancada, veio revelar-se um tanto complexado, como se para provar que é bom treinador precisasse de "bater" no seu sucessor. Para além disso, desnecessariamente, não só não ganhou mais credibilidade entre os sportinguistas como perdeu na relação de afecto que construíra com os benfiquistas.
 
Por isso, parece-me justo que, a realçar alguém, no dia em que o SLB conquista o título, seja Rui Vitória.
Pela vitória da humildade desportiva e da envergadura humana de um treinador sobre o outro, que não soube estar à altura do sucesso, especialmente quando tudo mais lhe sorria.
 
Nem por isso se deixa de sublinhar a boa época que o Sporting conseguiu, devolvendo a disputa principal aos dois grandes de Lisboa. Todavia, a propósito de treinadores, foi pena Jorge Jesus não se ter lembrado também que "Maneis há muitos".

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nada chega

"O não poder ser satisfeito com coisa alguma terrena, nem, por assim dizer, com a Terra inteira; considerar a incalculável amplidão do espaço, o número e a mole maravilhosa dos mundos, e achar que tudo é pouco é pequeno para a capacidade da própria mente; imaginar o número infinito dos mundos e o universo infinito, e sentir que o nosso ânimo e o nosso desejo seria maior ainda que o universo; e continuar a acusar as coisas de insuficiência e nulidade, e sofrer de ausência e vazio, e portanto tédio, isso parece-me o maior sinal de grandeza e de nobreza da natureza humana". G. Leopardi, "Pensieri", LXVIII, in Poesie e prose, Milão, Mondadori, 1988, vol. II, p. 321.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 de Abril, apesar de Marcelo

Apesar da frescura do novo Presidente da República, o 25 de Abril tem de se "reinventar". Mais no ideário que na forma, porventura.
 
Nasci dois dias após a Revolução, precisamente. Desde sempre que tive a sorte de saber o que foi a I República e o Estado Novo. Tal como o período do fervor ideológico dos anos 70, desde a aurora democrática até à revisão constitucional de 1982.
 
Daí para cá, a nossa história colectiva é também a da minha vida e da minha geração. Sabemo-la de cor. Contamos muitos Abris somados. De testemunhos, sonhos, ideias, discursos, evocações, homenagens, realizações, circunstâncias e pessoas. De um País que conheceu nestes anos uma aceleradíssima mudança, não apenas política mas também sócio-económica e cultural.
 
Abril mudou Portugal. Passados mais de 40 anos, queremos que Portugal mude Abril. Não aquilo que foi conquistado, aquilo que foi conseguido ou aquilo que está realizado. Mas aquilo que está subvertido, que está incumprido, mais o imenso que falta fazer.
 
Claro que é a qualidade da democracia (a formal é uma falácia) e o bem-estar social (a ruptura mais que iminente do Estado Social) que estão principalmente em causa!
 
Uma sociedade onde, muitas vezes, os poderes de facto se sobrepõem aos poderes legítimos, de direito, é uma sociedade de medo. Que mete medo.
Uma sociedade que atira os velhos a um canto e nada garante aos novos, é uma sociedade sem esperança. Que exaspera e desespera.
Uma sociedade onde um quarto da população está em risco de pobreza ou exclusão, mais que uma sociedade injusta, é um barril pólvora, com tantas desigualdades.
 
Hoje, fez o tal "dia inteiro e limpo": nas praças, esplanadas e lugares à beira-mar. Não no Parlamento, onde, por exemplo, vimos uma deputada do PSD ir à tribuna bradar contra a "indiferença" e apelar à participação cívica, enquanto nas bancadas do hemiciclo podiam ver-se clareiras com cadeiras vazias.
Sou por Abril, sim. Aquele que falta. O da República que falta regenerar. O do Estado que falta reedificar. O da justiça social que não brota nem do assistencialismo gauche nem do liberalismo nouveau riche.
 
Os povos e as comunidades, tal como as pessoas, têm identidade, possuem traços genéticos. Têm raízes e não são imunes a determinantes externas. Trabalhemos, pois, todos e cada um, por fazer mais e melhor a partir de nós mesmos. Como somos, com aquilo que temos, que sabemos e que somos capazes.
 
Cumprir Abril será agora, primeiro que tudo, encontrarmos soluções próprias para os nossos problemas concretos. Portugal, todo ele, merece uma agenda própria. Ou não fosse a especificidade o traço comum que mais une os portugueses de toda a parte.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Les Enfants Terribles do PSD

Achei graça à entrevista que o José Eduardo Martins deu à Revista do Expresso. O novo "enfant terrible". Sê-lo-á. Para o Jornal. Não para o PSD, que conhece o "Zé Eduardo" há décadas, desde que começou a fazer carreira na JSD.
 
Curiosamente, com um itinerário e um estilo semelhante ao de Pedro Passos Coelho. Talvez com três diferenças. O José Eduardo não saiu da actividade política para ir fazer o curso. Chegou aos 40 anos com mais cargos políticos que Passos quando este foi eleito Presidente do Partido. Porém, o ex-Primeiro-Ministro, ao longo de muitos anos, foi "o desejado" na Jota, enquanto que o José Eduardo, também ao longo de muitos anos, foi mais "terrible" que "enfant", não recolhendo tanto afecto do povo laranja.
 
Contudo, no essencial, ambos são talentosos. Ambos são ambiciosos. Ambos são obstinados. Ambos são tácticos. Ambos são social-democratas na economia e liberais nos costumes. Ambos provêm de uma espécie de bloco de esquerda do PSD. Sim, "queques" nunca foram. Ambos são duros de roer. Ambos estão entre os melhores da sua geração. Com relativa vantagem para o José Eduardo, por ser mais culto e mais "fino", por preferir lampreia em vez de carne assada.
 
Digamos que no PSD alternativas não faltam...

sábado, 9 de abril de 2016

Sobre a demissão de João Soares

Claro que melhor fora que João Soares não tivesse dito aquilo. Claro que o excesso verbal causou desconforto ao Primeiro-Ministro e ao Governo. Claro que não é linguagem recomendável para um Ministro. Até aqui, tudo claro.
 
Todavia, do caso concreto para diante, não será assim tudo tão claro. Legítimo será questionar sobre qual dos males é maior para a sã convivência democrática. Se um desabafo sob forma de "post" no FB, ou se o desencadeamento, também no FB, de um grito gutural, a exigir a cabeça e o escalpe de um político, para gáudio de instintos bem mais bárbaros que a promessa de um tabefe.

Assim, a demissão do Ministro da Cultura só é adequada na medida em que constitua um acto edificante para o Estado de Direito Democrático. Mas nunca a "execução sumária" de um governante por "dá cá aquela palha".