sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A decisão



Houve reunião de Mesa de manhã. Terminou mais cedo que o costume. À saída, perguntei-lhe se poderia falar-lhe. Disse-me, “hoje vai ser difícil”. Daí a pouco, porém, ainda antes da hora de almoço, pediu-me que passasse na sala dele. Uma conversa normal, de trabalho, semelhante a muitas outras. Cogita e capta num ápice o cerne dos assuntos que lhe são postos. Imperturbável, (como é próprio dos estadistas quando guardam declarações que, no caso de outros, se sobreporiam a tudo o resto), o Provedor, serenamente, concentrado nos assuntos da Santa Casa, deu-me as instruções necessárias.
 
Ao fim da tarde, por qualquer motivo, o meu telefone estava no silêncio. Não notei logo nas chamadas. Minutos depois, quando dei conta da luz a piscar, passaram-me o Dr. Pedro Santana Lopes. Tranquilo, em tom breve e decidido, foi ainda capaz de ironizar sobre a dificuldade em estabelecer o contacto. De seguida, disse-me que ia enviar um comunicado à Lusa, declarando não ser candidato presidencial. Tê-lo-á feito a várias pessoas, se bem o conheço, institucional e elegante que prima por ser nestas alturas. Ou, melhor, nesta altura, que, de teor, é a primeira.
 
Estava perto de uma varanda sobranceira ao rio e dei comigo ali a pensar. Sobre tudo e sobre nada. É uma decisão eminentemente pessoal. Não há que opinar. Quem é apoiante, apoia. Quem não é, respeita. Logo, quem é apoiante, apoia e respeita. Foi, por certo, uma das decisões mais difíceis, em 30 anos que leva de serviço à causa pública.
 
É curioso... lembrei-me de colocar o telefone com som alto, não fosse perder alguma chamada do tráfego subsequente que previ. Enganei-me. O telefone não tocou, excepto uma vez, já ao serão, quando o post ia nesta linha. Vão agora suceder-se, naturalmente, as análises, os comentários e as especulações sobre este súbito anúncio de Pedro Santana Lopes: se ultrapassou Rui Rio, se é uma reserva no activo para o PSD, se poderá apoiar o Professor Marcelo e quando, se fica na Santa Casa, se tem ambições a Lisboa, se não enjeita o Governo, e por aí fora.
 
Seja como for, estou convicto do seguinte:
 
- A decisão foi solitária e, em primeiro lugar, não dependeu de outra razão que não tenha resultado de uma ponderação, independente e livre, do próprio com o próprio, sobre o futuro próximo do Estado e o papel do mais alto magistrado da nação, no contexto do quadro constitucional e do sistema de partidos vigente;
 
- Depois, a decisão, uma vez de não candidatura, foi antecipada, para que não pudesse perdurar qualquer estorvo ao espaço do centro/direita, tanto para as legislativas, como para aqueles que estão decididos a assumirem as suas candidaturas presidenciais;
 
- Por fim, apesar de só ao próprio dizerem respeito, não poderão deixar de ser atendidas razões pessoais, cuja relevância, ante um desafio tão exigente para a vida de um cidadão “normal”, nem sempre encontram reunidas todas as condições para a exclusividade que se requer à primeira figura do Estado.
 
Pedro Santana Lopes, (apesar de já ser avô, de ter um grande currículo, de ter muitíssima experiência política e um pensamento muito sólido sobre a Constituição, a função presidencial e os sistemas de governo), está na fase do planalto da vida. Aqueles que o apoiam, venham de mais longe ou de mais perto, que não sintam, portanto, qualquer esmorecimento. Antes pelo contrário!
 
A verdade é que o caminho de Pedro Santana Lopes não estava mais largo ontem e passou a estar mais estreito hoje. Não! A largueza do caminho do Provedor da Misericórdia de Lisboa fica agora mais ampla, como veremos, espero.
 
Assim Deus lhe dê vida e saúde para prosseguir ao serviço da comunidade: seja no sector social, no poder autárquico, na intervenção cívica, no meio académico, no quadro partidário, na governação, em missões de Estado ou, claro, mais adiante, no exercício da função presidencial.
 
Tomara que o País tivesse muitos e tão bons, aptos a tanto e com tanto a dar a Portugal, mais outro tanto futuro pela frente.

domingo, 23 de agosto de 2015

A entrevista de Mariana Mortágua

Num tempo em que a sociedade derruba tantos preconceitos, estranho é que, "na hora da verdade", grande parte dos agentes político-partidários continuem agarrados a formatar juízos consoante as cores das camisolas.
 
Não quero saber se Mariana Mortágua é do BE, do Livre (L/TDA), do Agir (PTP+MAS) ou do PAN.
 
O que sei é que a deputada, que ficou conhecida pela intervenção que teve na Comissão de Inquérito ao BES, deu uma boa entrevista à Revista do Expresso. Demonstra ter um fio de pensamento sólido sobre a actividade política, o sistema económico-financeiro vigente e a (des)construção europeia, onde a democracia é um "pro forma".
 
Com pessoas assim, ainda que perfilhemos doutrinas e ideologias distintas, vale a pena sentarmo-nos à mesa e discutirmos política a sério. Afinal, há sempre pontes possíveis. Esse é o maior bem dos regimes democráticos.

Maria de Belém

Sobre a candidatura de Maria de Belém, ainda não vi ninguém dizer isto:
 
Maria de Belém era Presidente do PS quando António Costa substituiu António José Seguro.
 
Na transição, Carlos César, apoiante de Costa, impingiu-se de tal modo ao novo Secretário-Geral que não se contentou em ser menos que Presidente do Partido. Quiçá ambicionando ser Presidente da Assembleia da República.
 
Ora, a ambição de César não só não ajuda Costa e o PS nas legislativas, como ainda causou um "problema" aos socialistas nas presidenciais.

domingo, 16 de agosto de 2015

Pontal 2015

Desde sempre que me interesso por acompanhar a actualidade política, onde em tempos cheguei a participar. Também nunca deixei de ter posição sobre os temas mais da ordem do dia em cada momento.
 
Ontem, foi a Festa do Pontal. Olho para aquilo e também vejo as reacções da oposição. Acho-me com dificuldade para formular opinião, entre tanto lugar-comum e tão pouca substância. Trocado por miúdos, uns dizem que Portugal está melhor e que merecem voltar a governar. Os outros, dizem que não e que os portugueses devem substituir este Governo.
 
Uns e outros, em vez de apresentarem as suas visões, estão virados para trás, contentando-se com o elogio ou a reprovação àquela que foi, sobretudo, a legislatura da execução do programa da Troika.
 
Quanto ao mais, Passos Coelho parece chegar às eleições mais robusto do que se poderia pensar. António Costa, por seu turno, parece chegar às eleições menos fortalecido do que se poderia pensar.
 
Não admira, pois, que os portugueses encarem tudo isto com desconsolo e os indicadores apontem para um empate.
 
Na verdade, tanto da banda da coligação como da parte da oposição “está a sair poucochinho” face àquilo que se exige:
 
Um líder, uma ideia e uma equipa, que não tenham medo de dizer ao País como vamos viver nos próximos anos, e onde é que Portugal vai estar no fim do ciclo que agora se inicia. Desígnio, com ambição, realismo e coragem.
 
Será pedir muito ou será que tem que vir cá outra vez quem nos diga o que fazer?