domingo, 28 de agosto de 2011

A charanga

Como é que alguém pode entender isto?

1.O Governo prepara-se para avançar com a bizantinice do "imposto sobre os ricos". Enquanto isso, o Presidente da República, entre populares nos festejos de Campo Maior, diz preferir repristinar o extinto "Imposto de Sucessões e Doações". Entretanto, o segundo Partido da Coligação apressa-se a recusar a sugestão de Cavaco Silva. Isto, claro, para não falarmos das consabidas posições da Oposição.
Parece que mesmo só os cerca de 3 mil visados pela medida é que a aprovam. Porque será?

2. Segundo tem vindo a ser divulgado na comunicação social, no seguimento da notícia que um jornalista do "Público" foi alvo de espionagem pelo SIED, o Primeiro-Ministro mandou abrir um inquérito ao Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). É um facto que esses Serviços dependem directamente do PM. Mas, nos termos da Lei Orgânica, o Secretário-Geral do SIRP é equiparado a Secretário de Estado, o qual, por sua vez, já terá chamado a Procuradoria-Geral da República a abrir um inquérito criminal.

Ora, de duas uma:

Ou estamos e falar da mesma coisa e a ordem do PM foi determinar que o Secretário-Geral do SIRP entregasse o assunto ao Ministério Público, ou foram duas iniciativas distintas, cada uma de per si. Se foi este o caso, em que não queremos crer, ou o Primeiro-Ministro aguardava pelas conclusões da PGR ou, entendendo haver razões para tirar de imediato consequências de um Serviço que já não lhe oferece confiança, exonerava o seu responsável máximo. "Meias medidas" é que não pode ser. Nem tampouco, dada a "delicadeza" da matéria, parecer.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um país e duas nações

Esta Maioria e este Governo entraram bem, desde a discrição com que decorreu o processo de formação do Executivo, passando pelo "coelho da cartola" que foi "sacar" Assunção Esteves para Presidência da Assembleia da República, até aos discursos na tomada de posse e aos "avais" da Troika.  

De então para cá, dá impressão que a silly season fez esmorecer os ímpetos reformistas, solenemente firmados nos ritos iniciais. Daqui a nada o Verão acaba e só por conta do Programa de Ajuda existem dezenas de medidas por tomar antes do fim de Setembro, como se sabe...

Entretanto, de um lado, já se prometem manifestações e do outro, até o Comendador Berardo diz que, "os que têm mais um pedacinho" devem participar no esforço nacional - a chamada "taxa para os ricos", importada dos EUA, adoptada na Europa, e que já faz Escola em Portugal. É claro que se os países travassem um combate conjunto às off-shores, e por cá evitássemos a assustadora fuga de capitais, a dita taxa, comparada com aquilo que escapa à tributação fiscal, seria como tapar a cova de um dente. 

Enfim... adiante:
Portugal parece estar dividido em duas nações: a dos descalços, a quem o rendimento não chega para as refeições, e a dos calçados, que já acham ser preferível dar sopa aos pobres que correr o risco de todos conhecerem fomes, pestes e guerras

Entretanto, o Governo, caso não acorde, pode ver-se confrontado com algo inédito - sofrer contestação, tanto dos que querem firmeza e rapidez na execução do Programa da Troika, como dos que têm as gargantas afinadas para gritar "FMI fora daqui" e "A luta continua, Governo para a rua".

Kadafi só vale um milhão?

Sabemos que a realpolitik  da comunidade internacional muitas vezes não quer saber do "humanismo" para nada e quando nos insurgimos lá vêm as respostas eivadas de raison d´état, à escala dos critérios securitários globais. No fundo, a Lei do Talião existe, é claro, e aplica-se hoje tal como antes dos romanos.

Será legítimo propagandear, como vimos ainda agora na televisão, que há um prémio de mais de 1 milhão de dólares pela captura de Kadafi, vivo ou morto? 

Será legítimo mostrar o escalpe de Kadafi ao mundo, como foi feito com Sadam Hussein, ou, mais recentemente, com Osama bin Laden?

Será legítimo permitir jogos de playstation onde se ensinam as crianças a ser pequenos mercenários?

Só 1 milhão de dólares, Senhores? É pouco! Os interesses dos combustíveis e das armas podem pagar muito mais, que este tipo de festança não é bem a festinha de anos do Bart Simpson na McDonalds...