domingo, 27 de maio de 2012

Realidade dual


Foto: Rui Oliveira, Global Imagens

É evidente que Portugal está a atravessar muitas dificuldades, e que a generalidade dos portugueses faz grandes sacrifícios para continuar a viver dentro de padrões condizentes uma certa dignidade, sendo certo que muitos há, sobretudo os desempregados e os idosos, cujo maiores esforços, por si só, não chegam para afastar o limiar da pobreza, a não ser que recebam ajuda. A desigualdade social é cada vez mais notória, com uma classe média que mirra, acentuando-se a olhos vistos o fosso entre condições sociais.

Todavia, se o País é desigual, já a realidade é dual, sendo que uma e outra não são a mesma coisa.

O «Portugal político», da Troika, dos telejornais, das lutas de poder e das polémicas é um, ao passo que o «Portugal real», das pessoas, do trabalho, da solidariedade e da vida, que continua, é outro.

Os portugueses fazem coisas formidáveis todos os dias. 

Vejamos dois exemplos, de ontem:

Sobre o primeiro dia da campanha nacional da recolha de alimentos do «Banco Alimentar», diz a agência Lusa que, "As doações ao Banco Alimentar registaram um aumento de 18 por cento no primeiro dia da campanha nacional de recolha, disse hoje à agência Lusa a presidente da organização.

Em declarações à agência Lusa, Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, indicou que às 18 horas de sábado, a ronda pelos 19 bancos da organização indicavam a recolha de 600 toneladas de alimentos.

"Essa quantidade representa um aumento de 18 por cento em relação ao primeiro dia de recolha na campanha de maio do ano passado", enquadrou.

A instituição organiza campanhas nacionais de recolha de alimentos duas vezes por ano: uma em maio, e outra em dezembro.

Apesar da situação de crise do país, os primeiros valores apontam para o aumento de adesão das populações à campanha: "É extraordinário e um sinal de coesão e de grande generosidade".

"É talvez por causa da crise que as pessoas aumentaram as doações. Este resultado é muito animador", disse ainda Isabel Jonet."

A propósito do «Rock in Rio», diz a mesma agência noticiosa que, "Cerca de 81.000 pessoas entraram até às 21:00 no festival Rock in Rio Lisboa, para assistir nas primeiras horas a um encontro transatlântico entre os Xutos & e os Titãs e receber, de forma apoteótica, os Offspring.

Com quase o dobro dos espetadores no Parque da Bela Vista, comparando com sexta-feira em que estiveram 42.000, o segundo dia do Rock in Rio Lisboa contou com uma atuação dos portugueses Xutos & Pontapés com os brasileiros Titãs, "irmãos" no rock em português." 

Ora, se Portugal estivesse assim tão de braços caídos e assim tão deprimido, como por vezes somos levados a pensar, alguém acha que os portugueses conseguiriam juntar num único dia 600 toneladas de alimentos para os mais carenciados, ou que em dois dias já teriam entrado no Parque da Bela Vista mais de 120.000 pessoas para assistir ao festival «Rock in Rio»?

Estes, e muitos outros sinais, fazem-nos crer que, independente dos quadros macro-económicos e políticos que possamos ter de enfrentar num futuro mais ou menos próximo, a comunidade nacional saberá «dar a volta ao texto» e prosseguir a sua caminhada histórica sem soçobrar. Assim saiba o povo conservar em capital social o que parece faltar em discernimento, da parte dos grupos de poder.