quinta-feira, 12 de julho de 2012

Entrincheirados


Especialmente este ano, por razões mais que evidentes, era de esperar que o debate do Estado da Nação fosse o momento mais alto desta Sessão Legislativa, e que dali brotasse qualquer coisa de novo cá para fora. Mas não foi.

Seria interessante saber-se quantos portugueses seguiram o debate e desses quantos ficaram esclarecidos, tirando aqueles que acharam que ficou tudo empatado.

Ouvimos a espaços as intervenções que se iam seguindo na Assembleia da República e, avaliando pelo tom gasto e pelas palavras puídas que ali eram proferidas, mais parecia estarmos perante um relato das trincheiras. Posições definidas. Nem uma passo adiante, nem um passo atrás. Um arrastar rançoso pelo tempo à espera que o tempo passe sem que nada se perca. «Tropas» desmoralizadas a manter posição.

Tudo muito previsível, tudo muito recauchutado, tudo muito dorido. Do lado do Governo, um penar para aguentar o sacrifício. Do lado da Oposição pouco mais que um último fôlego para cumprir os papéis alinhavados.

Passos Coelho percebeu finalmente que tem de estender a mão a Seguro. O líder do maior partido da Oposição agora faz birra e diz que não dá. O Ministro da Saúde percebeu que tem de ouvir os médicos. Os médicos já não ouvem nada porque estão aos gritos na rua. O PSD espremido é zero. O PS espreme-se para apontar um zero. O CDS representa como pode. A CDU parece um disco riscado. O BE já não tem mais argumentos. Os Verdes levantam o volume a ver se a coisa pega.

No fundo, todos acabam por justificar estar ali: faz-se aquele teatro e pronto.

Uma excepção:
Paulo Portas e o seu verbo. Mais não fosse que pela qualidade «literária» do texto, consegue «salvar a honra do Convento» com argumentos bem construídos, cujos recortes ficam no ouvido dos que aguentaram deitar o ouvido à escuta até ao fim. Fica o apelo ao patriotismo, o que não é mal pensado, sobretudo para quem não vê como sair das trincheiras.