É claro que ninguém nega que houve greve geral.
É claro que todos viram muitos manifestantes.
É claro que sobejam razões aos portugueses para indignações e protestos.
Todavia, os sinais mais enigmáticos desta greve superam as palavras de ordem da CGTP.
O País não parou, nem pouco mais ou menos.
As centrais sindicais são as mesmas que emanaram do pós-25 de Abril, e tornaram-se tão obsoletas como os partidos as instituições democráticas.
A maioria dos trabalhadores não se sente representada em Arménio Carlos ou João Poença.
São figuras cansativas, com discursos do passado e tiques do passado.
A questão que se coloca é saber por onde andam os «inorgânicos», os desalinhados, sobretudo jovens desempregados. Aqueles que não acreditam nem Governo nem na Oposição, mas também não se sentem representados nos slogans dos «aburguesados» líderes sindicais.
Outra, mais subtil, tem que ver com as forças de segurança.
Terá havido um episódio de uso excessivo da força, muito difundido pelo facto dos agredidos serem jornalistas. A que se deve, então, tanta tensão e nervosismo?
Pelo parte dos sindicatos do sistema, podemos estar tranquilos que «o povo é sereno».
A haver surpresas na ordem pública portuguesa, virão sempre de dissidentes do próprio sistema ou de movimentos estranhos às organizações do costume.