quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Porto de Honra



As eleições autárquicas do passado Domingo servem de mote a todo o tipo de comentários, análises e estudos, à luz de uma leitura nacional dos resultados em que cada um elege o prisma da sua afeição. Tanto assim é que vários protagonistas cantam vitória.

O PS, a CDU, os Independentes, o CDS… até o maior derrotado, o PSD, consegue demonstrar por números que, contados todos votos expressos, e tendo por referência a votação dos socialistas, afinal, a derrota acabou por não ser tão pesada como parece, pois caso de eleições legislativas se tratasse António José Seguro estaria longe de obter uma maioria absoluta.
 
Optamos por centrar o nosso olhar no PSD, eixo estrutural do sistema de partidos, o parceiro maior da Coligação de Governo e historicamente a organização política mais alicerçada no poder local.

1. O resultado do Porto é paradigmático. Há dois PSD´s: o das estruturas e o dos eleitores. O PSD dos eleitores está farto do PSD das estruturas. Se assim não fosse Rui Moreira não teria ganho a Câmara da Invicta. Tal como a maioria das vitórias nas 13 Câmaras Municipais onde ganharam listas Independentes resulte de dissidências, onde os eleitores social-democratas decidiram sacrificar o Partido;
 
2. Depois, descontando o Porto, já falado, as derrotas do PSD nos maiores centros urbanos (sem esquecer algumas «ilhas» dispersas pelo País, como Braga, Viseu, Aveiro, Santarém, Cascais, Faro, Ponta Delgada), o PSD praticamente desaparece nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, o que significa que, para além de um voto de protesto ao Governo, o PSD tem muita dificuldade em criar relações de confiança e de proximidade com os sectores mais dinâmicos da sociedade, onde tradicionalmente tinha implantação;
 
3.Segue-se que na distribuição geográfica da força laranja, o PSD é praticamente varrido a Sul do Tejo, é afastado do litoral e fica muito encurralado no Norte Interior. Com o agravante de ser quase expulso das Regiões Autónomas, que durante décadas foram bastiões social-democratas.
 
Ora, estas três questões comprimem e exercem uma força tenaz sufocante sobre um Partido geneticamente vocacionado para exercer o poder e que, de repente, vê-se confrontado com a vertigem de um abismo enorme: não caber dentro de si próprio.
 
Donde, é quase inevitável que seja irreprimível a tendência para ajustes de contas e purgas internas, pulverizando, tal como na representação geográfica, a consistência de um aparelho, cada vez mais representativo de si mesmo, e o lastro ideológico-programático, cada vez mais carcomido.
 
Tudo concorre para que o PSD, depois de 2015, seja confrontado com um dos seus traços instintivos mais genéticos. A capacidade de se regenerar para sobreviver, começando tudo de novo. Se assim não for, o risco da implosão é cada vez mais real.
 
Nesta voragem partidária em curso, o outro maior partido estruturante do sistema incorrerá num erro enorme caso entenda que vive num mar de rosas. Não vive. O PS também vai ter o seu Porto.
 
Falta o tempo dos portugueses se desiludirem com a maioria das 150 presidências de Câmara conquistadas nestas eleições autárquicas, tal como com o Governo de Seguro, Costa, ou outro, que há-de vir.