sábado, 12 de junho de 2010

O gato preto


Quando todos, TODOS, os titulares dos Órgãos de Soberania passam a ser «presos por ter cão e presos por não ter», a coisa está mesmo feia. Quem livrará os portugueses de ver o gato preto

- O Presidente da República, acusado e acossado por não piar sobre a crise, veio, finalmente, neste 10 de Junho, dizer que, como tinha alertado, chegámos a uma situação insustentável. Cavaco recuou séculos na História para encontrar paralelos com os perigos que ameaçam Portugal. Ora, das duas uma; ou o PR lança mão dos poderes que a Constituição lhe atribui e toma medidas para desbravar caminho ou, então, se é só para dar nota que o País está entre a espada e a parede, de que vale recandidatar-se?

- Na Assembleia da República, exactamente no dia seguinte ao Feriado, a Comissão de Inquérito à PT/TVI reune para concluir, pela boca de um deputado do Bloco de Esquerda, que José Sócrates sabia do negócio mas não mentiu ao Parlamento - vá-se lá saber como explicar isto aos portugueses! Entretanto, noticia o Expresso (o mesmo jornal que traz em capa que o PSD, pela primeira vez desde 2003, está à frente do PS nas sondagens) que Pedro Passos suspira de alívio com as conclusões do Relatório de João Semedo. Ora, das duas uma; ou o PM mentiu, ou não mentiu. Se mentiu, deve demitir-se. Se não mentiu, assunto encerrado. Quanto a Passos Coelho, ou quer assumir a governação, ou não quer. Se quer, muito bem. Se não quer, como parece, a esquizofrenia do Sistema é de tal ordem que temos um líder da Oposição que não quer ser Primeiro-Ministro! Desengane-se Passos Coelho se pensa que lá para meados de 2011 vai ser mais fácil governar Portugal.

- Entretanto, no Governo reina a desorientação. Basicamente não há Governo. Há Sócrates, coadjuvado por Silva Pereira, e há um Ministro das Finanças que, verdade se diga, na teia em que está envolvido, nem dorme, a ver se evita que Portugal seja oficialmente declarado no vermelho e o FMI tenha que ser chamado a intervir. Perante tudo isto, Sócrates, escorado em estatísticas e na linha do patrício Durão Barroso - essa luz que brilha na União Europeia - lá vai dizendo que não, que as dificuldades são passageiras, que o Mundo está igual ou pior e que o que é preciso é seguir em frente. Aqui, ao menos, temos um optimista.

- Quanto aos Tribunais, lá vão andando, como se vê, proferindo despachos e rasgando sentenças, cada vez mais como se de repartições administrativas se tratassem, à falta de melhor noção do significado do exercício das funções de soberania que lhes são confiadas.

- Relativamente ao 4º Poder, dos media, que não é soberano mas tem, de facto, uma força tão ou maior que os anteriores, não podendo deixar de ser considerando, portanto, de relevante interesse público, quando Pedro Marques Lopes é consagrado comentador político e Marta Rebelo promovida à análise da técnica e da táctica da Selecção Nacional de futebol, estamos conversados, não?

ps: Marta Rebelo até percebe de bola. Talvez haja algum excesso na comparação. Na dúvida, o benefício é dela.