sexta-feira, 25 de junho de 2010

São navegadores, os meninos de Huambo


A Selecção Nacional, em duas ou três palavras:

O apuramento para o Mundial 2010 foi o Cabo das Tormentas. Entre sofrimentos e aflições, lá passamos o Adamastor.
Depois, na fase de preparação para a Copa, as coisas não correram nada bem. Desde jogos/treino decepcionantes, passando por episódios tristes no estágio da Covilhã, até a um País com razões para estar desmobillizado e triste.

Depois, a questão do Treinador, Carlos Queiroz, que chegou à África do Sul com a cabeça a prémio e chegou a estar com o pescoço no cepo - agora, que o Prof. Queiroz lavou a face, já não precisamos de fingir mais. Conto-me entre os que não apreciam o seu estilo, ou, melhor, não empatizam com ele.

Mas isso é lateral, quando comparado com o que está em causa, ao vermos a nossa Selecção entrar em campo e alinhar-se para ouvir o Hino. Arrepia-nos sempre, toca-nos muito fundo, todas as vezes.

Pois bem:
Ninguém "dava nada" pela equipa de todos nós. Com uma enorme excepção - os milhares de portugueses e amigos de Portugal, que têm sido inexcedíveis. É impressionante! Qual a Selecção Nacional que, jogue onde jogar, é acolhida como se estivesse em casa?
Com a Costa do Marfim, soube-nos a pouco. Estivemos mesmo à beira do abismo. Tudo isso, acumulado, passou para o espírito de equipa e para a "boa onda" que se requer.

Depois, veio a Coreia do Norte e foi Portugal igual a si próprio. Renascemos das cinzas, deu-se a transfiguração, e uma luz irrompeu.  Demos sete.

Terminou há pouco o jogo com o Brasil. Aqui, com um espírito renovado, fomos inteligentes. Muito inteligentes. A primeira parte tinha que ser assim. Era preciso quebrar psicologicamente o Brasil, anestesiar a superioridade canarinha e, então, feito esse trabalho, entrar no taco-a-taco. Fizemo-lo. Mais, a equipa reencontrou-se e a Selecção reconciliou-se com o País.

O jogo não foi um grande espectáculo. O espectáculo foi Portugal fazer-se respeitar, saber honrar-se, passar à fase seguinte, e ombrear com o Brasil, fortíssimo candidato ao título. Tudo em português. Com virilidade bastante, durante os 90 minutos. Bonitas manifestações de fair-play, depois do jogo. E um ambiente extarordinário, fora do estádio. A festa prolonga-se; adeptos brasileiros, africanos lusófanos e portugueses confraternizam como iguais... de facto, somos bem maiores que o nosso território, um grupo de jogadores de futebol ou o bom lugar no ranking da FIFA... e assim também se vê a força da (potencial) da CPLP.

PS:
Que irritante assistir um jogo na televisão e ouvir comentadores dizerem tudo e o seu contrário! Neste Portugal-Brasil, o mesmo comentador disse, por exemplo, que Tiago estava muito apagado - ao intervalo, Tiago já tinha sido nos primeiros 45 minutos o melhor, a par com Pepe... para não falar, calcula-se, da expectativa que a partir de agora irá gerar-se em torno da Selecção. Ontem, éramos uma desgraça. Hoje, já somos bons. Amanhã, há-de ser coisa para irmos até à final. É urgente contrariarmos esta tendência bipolar. A cantiga não pode ser sempre a mesma. O bom fado não é drama nem é euforia. É a nossa vida, por nós traçada, por nós pensada, por nós vivida. No futebol, como noutros domínios, Portugal não tem que entrar em "estado de negação", como não pode alguma vez dar-se por chegado a "uma situação insustentável". As almas grandes não são assim. E temo-las, graças a Deus.