domingo, 20 de novembro de 2011

Que mal

É consabido que qualquer palavra do Presidente da República causa eco. É também adquirido que impende sobre a primeira figura do Estado um dever especial de probidade, na medida do alcance dos seus gestos.
É ainda requerido ao mais alto magistrado que encarne o papel que a Constituição lhe reserva, e revele um exercício condizente com inalienáveis valores pátrios.

Dito assim, parece que o actual PR foi especialmente talhado para a função. O seu perfil austero e meticuloso propicia a ideia de impecabilidade no cumprimento dos poderes em que está investido.

A questão é que tudo isto pode tornar-se perverso, sobretudo quando o protocolo substitui o contexto, o formalismo toma o lugar da substância, ou o cálculo é maior que o problema.

Nada impede, antes pelo contrário, que o PR dê testemunho concreto dos princípios que enformam o Estado de Direito Democrático, preste tributo aos direitos, liberdades e garantias consagrados, ou tenha a majestade, no sentido de potestade, para dar um exemplo, em nome de autêntico humanismo.

A reacção pública de Cavaco Silva à detenção de Duarte Lima não só soou a falso, como resultou numa atabalhoada inversão do que seria “normal” o Presidente da República dizer.

Em vez de convocar nos portugueses aquela imagem da negação bíblica «não o conheço», melhor fora que tivesse sido “natural”.

Ninguém gosta de ver um cidadão assim exposto, todos se entristecem quando um antigo colaborador é indiciado criminalmente, agora compete aos tribunais administrar a Justiça.

Que mal.