sábado, 5 de janeiro de 2013

Expresso na primeira pessoa


Ao contrário do que tem sido habitual, não se opta neste post pelo plural majestático. No dia em que o Expresso faz 40 anos, expresso-me, pois, na primeira pessoa do singular.

Nasci no dia em que o Expresso saíu pela primeira vez em liberdade, pelo que as reminiscências guardam do jornal a figura de uma instituição, um familiar e uma referência. Um rito. Desde sempre. Até hoje.
Meu Pai, convicto da linha e das propostas da Ala Liberal, cuja intervenção acompanhava sobretudo através do Diário das Sessões, depois, quando o Expresso apareceu, deve ter sido o primeiro e, talvez, durante algum tempo, o único assinante do jornal nas Flores. Apesar da Ilha mais ocidental viver quase apartada do resto do arquipélago e do mundo, ainda assim, havia lá alguém interessado com o País e quisesse receber notícias da Duque de Palmela.

Com o Expresso aprendi, portanto, as primeiras letras. Sem saber, também foi com o cheiro e as fotos daquelas páginas enormes que fui percebendo a ligação genética entre o projecto da Ala Liberal e o nascimento do Expresso, e entre o Expresso e o nascimento do PPD. Mais tarde,  mais crescido, foi ainda com o Expresso que acompanhei o advento e a páscoa do cavaquismo, numa época mais cinzenta para o jornal, a pender para um centro um tanto opaco.
Em Coimbra, na Faculdade, princípios dos anos 90, acaloradas eram as discussões às Sextas, por causa da irreverência do Independente. No regresso das borgas, aos Sábados, manhã cedo, ia apanhar o Expresso a um quiosque, na Estação de Coimbra A, para que a síntese ficasse em dia.
 
Tinha a mania de guardar o caderno principal e a Revista. Fi-lo durante anos, o que me saíu caro numa mudança de casa, quando já vivia em Lisboa. Na falta de espaço para guardar toneladas de papel encaixotado e sem coragem para me desfazer das histórias do Expresso, despachei a carga de barco, para a casa da Família, na origem das Flores, cave e sótão de arquivos guardados no mar.

Zanguei-me com o Expresso uma vez, em Dezembro de 2001. Foi quando o jornal chegou um dia mais cedo às bancas, com uma sondagem que dava vitória folgada de João Soares sobre Pedro Santana Lopes, na antevéspera das eleições autárquicas desse ano. Escrevi indignado ao Director, José António Saraiva, apresentando-lhe as credenciais de leitor «encartado», com duras críticas, e os protestos de não mais comprar um edição que fosse. Foi sol de pouca dura. Passado algum tempo, a irritação também, e o «saco de plástico» voltou ao itinerário dos meus Sábados.

Em Novembro de 2005, antes da primeira eleição do Presidente da República,  publiquei um artigo de opinião no Expresso, intitulado «Cavaco e o Centro/Direita», adiantando um cenário que, creio, já esteve mais longe...
Adiante:

O tempo corre depressa. Cavaco Silva foi eleito para Belém em Janeiro de 2006, e reeleito para o segundo mandato em Janeiro de 2011. Neste Janeiro de 2013, é capa do Expresso, onde, em entrevista exclusiva, põe mais timbre àquilo que disse na sua Mensagem de Ano Novo.
Palpita-me que a edição de hoje do Expresso, onde a referida entrevista é mote, vai marcar um virar de página, o início de um tempo novo, ou, pelo menos, o princípio de outro ciclo neste nosso Portugal intervencionado.

Hoje, como há 40 anos, o Expresso continua a fazer história, quando não a precipitá-la. O País precisa do Grupo Impresa e os portugueses precisam de liberdades bem expressas.
Parabéns ao Expresso.
Muitos parabéns ao Dr. Francisco Pinto Balsemão.