sábado, 16 de agosto de 2014

Histórias que o meu Avô contava II - Os velhos

 
Antigamente, muito antigamente, quando os velhos estavam no fim da vida, os filhos pegavam neles e iam deixá-los a um local distante, ermo e inóspito, a fim dos pais ali morrerem.
 
Era a forma de se libertarem dos velhos que, uma vez inválidos, já não podiam contribuir para o sustento da casa, tornando-se, pois, um fardo para toda a família.
 
Uma vez, um velho estava para morrer. Nada mais havendo a fazer, o filho pegou nele e foi levar seu pai ao tal local, para que ali aguardasse o fim.
 
Quando lá chegaram, o filho pousou o pai sobre um colchão de junco e ao despedir-se compadeceu-se dele. Então, para não se sentir tão mal, tomou a manta de lã em que levara o velho envolto e disse-lhe: “Pai, vou cobri-lo com esta manta, para que passe menos frio.” Ao que este respondeu: “Não. Corta a manta ao meio e deixa-me só metade. A outra metade, leva-a para casa e guarda-a, para o dia em que o teu filho vier trazer-te aqui”.  
 
Mal terminara o velho de dizer aquelas palavras, o filho, lavado em lágrimas, não suportando ouvir tal veredicto do ancião, tornou a agasalhar seu pai, pegou nele outra vez ao colo e trouxe-o de volta a casa, novamente para junto da família.
 
Daí em diante, nunca mais ninguém foi levar nenhum velho ao tal local distante, ermo e inóspito, e todos passaram a morrer assistidos em casa, com as famílias em redor.
 
Moral da História:
Ainda jurista ou algum político soube explicar-me o que é a solidariedade intergeracional tão bem como o meu Avô. Ouvi ontem o PM… bem me parecia que o Governo, vendo-se impotente, considera os velhos descartáveis. Tal como antigamente, muito antigamente.