quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conclusão da inconclusão

No fim desta longa-metragem da "Casa dos Espíritos", poucas pedras sobrarão que não possam ser removidas. Não haverá vencidos nem vencedores. Apenas um campo de batalha, vazio de reputação, antes coberto de leopardos abatidos.
 
Era bom que os poderes políticos percebessem a dimensão e o alcance da razia, que não consiste apenas no escândalo financeiro, económico, judicial, ou até diplomático. Era bom que os deputados que integram a Comissão de Inquérito se elevassem... relativamente ao plano da rasteira disputa entre grupos parlamentares.
 
Não é só a autofagia, agora exposta na Comissão de Inquérito, dos membros da Família dona do BES, mais seus altos colaboradores e gradas figuras circundantes. É o arrastão em curso poderá provocar dilúvio aos partidos e, através deles, ao regime.
 
Referindo-se indirectamente ao BES, o Primeiro-Ministro, há dias (fazendo lembrar um pouco aquela história que se contava de Otelo com Olof Palme), disse, num jantar em Santarém, que "os donos do país estão a desaparecer. Os donos do país são os portugueses". Ainda que sem noção cabal do que acabara de dizer, o líder do PSD terá proferido as palavras mais consonantes com os tempos em que vivemos.
 
Se o Relatório da CPI concluir pela inconclusão, ainda que parcial, a partir daí, os portugueses poderão, definitivamente, levantar-se, para dizerem aos chefes dos partidos que é chegada hora deles também desaparecerem.  O cidadão Pedro Passos Coelho, que disse "Não" a Ricardo Salgado, achará isso ingrato. Talvez seja. Mas já esteve mais longe de acontecer.