sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

The Azores Truth


Isto não é matéria de opinião. São factos.
Em dez anos de militância, naquele que foi, note-se, o único Congresso Regional do PSD-A em que, entre centenas de delegados, consegui assento (isto diz muito), fui à tribuna dizer que a RAA estava fa-li-da. Que Carlos César não podia ir-se embora sem que se soubesse primeiro qual o “buraco” que deixava a quem lhe sucedesse. Perante uma plateia cheia de tédio e de pasmo, defendi que o PSD-A devia pedir uma auditoria financeira às contas da Região. Ninguém ligou “patavina”. Ninguém. Ninguém do PSD-A queria ouvir falar em auditorias, coisíssima nenhuma! A outra face da moeda, claro, seria escarafunchar as contas das autarquias, onde o PSD-A era maioritário, com a Câmara de Ponta Delgada à cabeça. Tenho a gravação disso guardada.
 
Estávamos em Novembro de 2003.
De lá para cá, Carlos César renovaria mais duas vezes a maioria absoluta, nas legislativas regionais de 2004 e de 2008, acabando por sair em 2012. O PS-A nesse ano, já com Vasco Cordeiro, alcançou a quarta maioria absoluta consecutiva. De lá para cá, continuei a defender a necessidade de se apurar o passivo da Região e continuei a apresentar alguns contributos, alertando para a premência de se encontrar um novo modelo económico para a Autonomia Regional, esgotado há muito que está o ciclo das primeiras fontes de financiamento: contrapartidas pela utilização das bases militares, transferências do OE e fundos comunitários.
  
Em Abril de 2006, publiquei um artigo de opinião no Expresso, intitulado “Um desígnio para os Açores, uma ideia para Portugal”, tornando a adiantar uma ideia lançada no tal Congresso do PSD-A de 2003. Propunha um novo rumo para os Açores, que deveria assentar num “estatuto especial”, com o patrocínio da Unesco, devendo o Arquipélago, em toda a sua extensão geográfica, ser inscrito no catálogo dos santuários naturais da humanidade. A sustentação económica da Região far-se-ia a partir da agenda global para o ambiente, atraindo inovação e conhecimento às ilhas, e a economia verde passaria a ser o eixo da criação de riqueza e valor acrescentado. Ninguém quis saber de nada disto. Ninguém ligou a nada disto. Aqui estão excertos do referido artigo:
http://ricardoalvesgomes.blogspot.pt/…/para-que-conste-ii-r…
 
Em Setembro de 2011, já com a Troika esplendorosa Portugal adentro, muito se falou da dívida pública da Madeira, que ultrapassava os seis mil milhões de euros. Sobre os Açores, ni hablar. Ninguém piou. Ninguém! Talvez não interessasse ao Governo da República destapar mais um alçapão diante das barbas dos credores. Carlos César aí foi mestre, na arte de esconder dívida para debaixo do tapete. Mentiu com todos os dentes. Para não dizer que redigi, direi que fui, então, um dos subscritores de uma Petição, que interpelava o Governo Regional e os órgãos de soberania, a fim de ser apurado, qual, afinal, o montante da dívida pública dos Açores. Para além da referida Petição ter sido considerada inoportuna, mais uma vez, o PSD-A esteve mudo e calado. Fez de conta que estava distraído. Aqui está a Petição:
http://ricardoalvesgomes.blogspot.pt/…/para-que-conste-viii…
 
Entretanto, nesse mesmo mês de Setembro de 2011, perante o descaramento de Carlos César, que teve a lata de vir dizer que a Madeira era mal gerida, ao passo que os Açores primavam pelo rigor e pelo equilíbrio orçamental, escrevi alguns posts, a manifestar repúdio pelo facto de parecer haver medo nos Açores de contrariar os truques de Carlos César e trazer a verdade a lume. A verdade é que o medo imperou, e o PSD-A, como sempre, não teve nem coragem nem a seriedade para vir desmascarar aquilo que é pura matemática. Sabia o Governo Regional, como sabiam os deputados da oposição na Assembleia Regional. Sabia o Governo da República como sabiam os deputados a oposição na Assembleia da República. E se não sabiam, ignoravam com culpa. Aqui está um desses posts:
http://ricardoalvesgomes.blogspot.pt/…/e-preciso-ter-lata-o…
 
Vamos em Janeiro de 2015.
A notícia da decisão americana de reduzir a Base das Lajes a uma Gas Station vai despoletar, necessariamente, um efeito dominó gravíssimo, uma vez reduzida parte significativa da injecção de dinheiro público nos Açores. Juntando o anunciado fim das quotas leiteiras, o vendaval irá conduzir, forçosamente, ao apuramento da verdade sobre as contas da Região. Já faltou mais, portanto, para que se saiba, de uma vez por todas, aquilo que toda a gente sempre soube mas nunca quis saber: quantos mil milhões de euros tem o "buraco" dos Açores? Qual é o plano de pagamento? Há ou não necessidade de um plano de saneamento?
 
De quem é a culpa?
Primeiro, de quem governou. Depois, de quem foi oposição.
De alguns cidadãos, também, que tinham especial dever de falar.
Este cidadão há já quase uma dúzia de anos que levanta o problema.
Este cidadão há já quase uma dúzia de anos que diz que o caminho é outro.

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